Quem passou pela orla da Beira Mar de Fortaleza neste domingo, 10, pôde sentir, ainda mais, a diversidade da cultura cearense. Através da música, do trabalho manual, da gastronomia e de diversas outras heranças nativas, a 15ª edição do Encontro Sesc Povos do Mar, realizado pela Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado do Ceará (Fecomércio), celebra a tradição de mais de 200 comunidades litorâneas cearenses.
A programação teve início na última quinta-feira, 7. Quem chegava ao espaço reservado se deparava com rendeiras concentradas nos bordados, rodas de capoeira acompanhadas do coro e palmas do público, grupos de maracatu e peças singulares produzidas por artesãos. O palco principal recebeu, ontem à tarde, o cantor Marcos Lessa.
Além do sensorial visual e sonoro, paladar e olfato do público eram aguçados pelas receitas autorais dos mestres e das marisqueiras, apresentadas na atividade "Dicumê: socialização de práticas alimentares e da Casa da Tapioca". Os visitantes puderam conhecer as culturas gastronômicas de vários territórios.
Com o prato crepioca com algas, a mestre Aldeneide Silva, 49, de Icapuí, a 201 km de Fortaleza, começou a focar na culinária em 2001, com o projeto "Mulheres de Corpo e Algas". "Nós trabalhamos cultivando algas em alto-mar e, fazendo o beneficiamento das algas, a gente faz alimentos e cosméticos". Ela conta que foi convidada por dona Marli da Costa Soares, de 56 anos, que também apresentou prato com a iguaria: um pudim feito com algas.
As duas compõem um grupo, sendo a maioria mulheres cozinheiras, acompanhado pelo Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (Senac), explica Vanessa Santos, consultora gastronômica do órgão. Ela pontua que muitas receitas do Povos do Mar acabam integrando o menu de alguns restaurantes, como o restaurante-escola Mayú, do Senac. "Têm ajustes para fazer? Claro que têm. Diferenças climáticas, de equipamentos, mas a referência de sabor a gente respeita. Com isso, a gente faz a roda econômica girar".
Enquanto o palco com os pratos gastronômicos visitantes pelo cheiro e sabor, do outro lado da faixa de areia, os cânticos e a animação do grupo Boi Canarinho, da Barra do Ceará, chamavam a atenção até mesmo de quem passava pela orla e se escorava nas grades para ver de perto.
Reconhecido pelo Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) por meio do prêmio Rodrigo Melo Franco de Andrade neste ano, Liana Cavalcante, que é responsável pelo Boi Canarinho junto ao companheiro Hesse Santana, conta que o grupo existe desde 2021.
"Nós somos uma família LGBT, então a gente tinha uma preocupação de que esse boi fosse um boi onde as pessoas trans, LGBTs, se sentissem confortáveis para brincar, porque muitas vezes as manifestações são em volta de um conservadorismo e um colonialismo que afasta essas pessoas".