Fortaleza acompanhou o caso do menino Cauã, de dez anos, que morreu após cair da janela do quarto andar de um prédio no bairro Aldeota, no dia 29 de julho. O POVO foi ao local no dia do acidente e, em meio às apurações, foi possível constatar que a tela de proteção da janela estava com uma falha no lado direito.
Por registros como este é que, da janela gradeada a quinas protegidas por materiais de borracha e varandas teladas, a discussão de ambientes seguros para crianças tem exigido mais atenção da sociedade. Não somente para evitar um arranhão ou algo similar não fatal, mas para que o pior não aconteça, já que crianças precisam de auxílio para se defender e para se proteger.
Segundo o Ministério da Saúde, de janeiro até maio de 2025, o Sistema Único de Saúde (SUS) registrou 56 mil atendimentos hospitalares por acidentes domésticos em crianças de 0 a 14 anos em todo o Brasil. De atendimentos ambulatoriais, o número chega a 69 mil — com os dados referentes ao número de atendimentos e não ao número de indivíduos, pois uma mesma pessoa pode ter sido atendida mais de uma vez.
Em Fortaleza, nos primeiros seis primeiros meses de 2025, o Instituto Dr. José Frota (IJF) atendeu mais de 6.500 crianças e adolescentes com menos de 15 anos de idade por ocorrências de acidentes.
Os maiores registros são quedas, com 3.089 casos. São seguidos de:
Conforme Erika Tonelli, especialista em Entornos Seguros e Protetores da Aldeias Infantis SOS, os crescentes registros de acidentes, negligência e violências acendem o alerta para que a sociedade se conscientize da necessidade de cuidados na infância.
"Em primeiro lugar, nós adultos precisamos entender que as crianças são de nossa inteira responsabilidade e que devemos proteger e garantir que haja políticas públicas para o desenvolvimento saudável e seguro das crianças. É pensar como o ambiente de casa pode estar seguro para que as crianças possam — o mesmo vale para espaços públicos como parques e praças — explorar cada cômodo da casa sem se machucar", pontua.
Tonelli diz ainda que é fundamental haver uma discussão abrangente sobre a causa da infância, reivindicar que espaços públicos sejam pensados para crianças seguindo normas de segurança da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), com a manutenção periódica e conservação desses espaços e na mobilidade urbana para as crianças.
"É uma pauta extensa de saúde pública, mas pensar em segurança é importante. É pensar na segurança das crianças, é ver espaços pensados para elas e principalmente colocar a criança como prioridade absoluta, como diz o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA)", complementa.
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A adaptação dos espaços domésticos é um dos primeiros passos quando o assunto é a convivência com crianças. Conforme o capitão do Corpo de Bombeiros Militar do Ceará (CBMCE), Romário Fernandes, deve-se evitar muitas quinas, vidros e que crianças tenham acesso a partes da casa as quais possam ser usadas como patamar.
"Redes de proteção são fundamentais. Grades ou redes de proteção, dependendo no caso do condomínio, há uma convenção que indica que para proteção das janelas você deve usar um certo tipo de grade, mas seja como for, é importante pensar na proteção de janelas", pontua.
No caso de Fortaleza, é importante também verificar se os equipamentos estão em boas condições. Pelas condições de calor e maresia na Cidade, pode haver danos na estrutura da rede de proteção.
O oficial também alerta que a eletricidade e locais onde há fontes de calor — como é o caso da cozinha. Estes pontos da casa devem ter uma atenção maior e as crianças devem estar sempre longe deles para evitar acidentes.
"Não permitir que as crianças cheguem perto de fogões e deixar os cabos das panelas virados para dentro e não haver o risco da criança puxar é essencial. Manter as crianças longe das tomadas também, mesmo que hoje em dia o sistema seja mais seguro há a necessidade de supervisão", complementa.