Uma década após a publicação da Laudato Si’ (louvado sejas, em latim), encíclica do papa Francisco relativa aos cuidados ambientais, a temática retorna na noite dessa terça-feira, 12, em palestra ministrada pela antropóloga Moema Miranda. O encontro, em preparação à 30ª Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP 30), aconteceu no Centro Pastoral “Maria, Mãe da Igreja”.
Miranda, que também é membro da Ordem Franciscana Secular (OFS), ressalta a importância da carta do pontífice para a Igreja Católica, como a primeira vez que a questão ambiental — “sempre presente de várias formas” — ganhou a centralidade merecida.
A encíclica foi compartilhada em 2015, mesmo ano da COP 21, em Paris. Na ocasião, previa-se um tratado entre países que pudesse limitar o aquecimento global em 1,5 ºC (Acordo de Paris).
“E a gente vai chegar na COP 30 em uma situação muito mais perigosa do que tinha antes. Inclusive, porque a arquitetura global, que trata da questão do clima, está muito mais fragilizada. Os governos mais poderosos, como o governo Trump, saíram do Acordo de Paris”, alerta a antropóloga.
COP 30: alta no preço de hotéis gera crise e ameaça realização do evento em Belém | SAIBA MAIS
Para Moema Miranda, o conteúdo da Laudato Si’ propõe uma “leitura sistêmica” da crise climática, ao considerar o planeta como um “superorganismo vivo”.
“Se você aquece demais, você fica com febre, é claro que você adoece. Você precisa de um equilíbrio metabólico, um equilíbrio do organismo do planeta, e o Papa Francisco apresentou isso com a leitura”, afirma.
Na encíclica proposta pelo Santo Padre, a conversão ecológica é definida a partir de uma renovação na forma como os indivíduos se relacionam com o meio ambiente, a “casa comum” dos seres vivos.
Em seu conteúdo, apresenta-se o Cântico das Criaturas, ou Cântico do Irmão Sol, de São Francisco de Assis. Ao considerar a influência da espiritualidade franciscana, a antropóloga também buscou relatar em seu discurso a conexão entre os próprios seres humanos e a natureza, a partir da história de vida do frade católico.
“Quando a gente se recoloca nesse lugar (da natureza), primeiro, não precisa disputar, depois a gente não precisa acumular, depois reconhece que o mundo criado por amor é um lugar em que se pode ter uma relação de cuidado”, diz. “Hoje, talvez um dos maiores ensinamentos de São Francisco seja esse, de que não precisamos acumular para viver bem”.
A palestra, promovida pelo Movimento Igreja em Saída, em parceria com o Movimento Proparque, também foi precedida pelo lançamento do livro “Sobre a Dimensão Social da Fé”, do autor Francisco de Aquino Júnior.