O evento “Vozes que Inspiram: da Proteção à Superação”, foi promovido na manhã de ontem, 27, pela Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS). A ação ocorreu no auditório do Centro Integrado de Segurança Pública (Cisp).
LEIA TAMBÉM | Ceará registra maior índice de violência contra a mulher dos últimos 5 anos
A ação compõe a programação do Agosto Lilás, mês da conscientização pelo fim da violência contra a mulher.
A programação contou com uma roda de conversa sobre a importância da rede de proteção no enfrentamento à violência, além da apresentação do trabalho realizado por especialistas vinculados à SSPDS.
Durante o evento, a titular da Secretaria das Mulheres, Lia Gomes, declarou que a pasta tem trabalhado focando na denúncia das violências.
“Estamos ampliando essa rede de proteção abrindo Casas da Mulher. Ainda este ano vamos inaugurar duas unidades em Crateús e Tauá”. Além disso, 29 viaturas estão trabalhando em conjunto com os municípios e abrindo casas municipais.
“Precisamos criar essa rede toda: desde a porta de entrada à porta de saída. As pesquisas mostram que mulheres que realizam denúncia, têm menor chance de sofrer feminicídio”, complementa.
Lia comentou sobre o aumento dos crimes de stalking no Ceará: “Estamos sempre em parceria com a Supesp. Estão sendo formadas servidoras especializadas nesta área e é necessário que a gente amplie [o espaço]”.
Já o titular da SSPDS, Roberto Sá, comentou sobre os desafios no combate aos crimes cibernéticos de stalking.
“O Poder Judiciário tem se debruçado sobre novas tecnologias para também fazer com que a gente consiga investigar esses crimes e responsabilizar esses criminosos que cometem esses crimes tão cruéis contra a imagem das pessoas”.
Sobre a importância da iniciativa, Roberto afirma que o tema precisa ser superado todos os dias.
“Juntamente com a Secretaria das Mulheres, organizamos esse seminário para ampliarmos esse debate sobre o tema e verificarmos onde podemos melhorar como Estado, mas também passar algumas informações para as mulheres de relações comunitárias sejam multiplicadoras a outras mulheres", adiciona.
“Temos que melhorar e agilizar cada vez mais as nossas informações, investigações e processos, para que essas pessoas sintam o poder da legislação e o poder da punição", finaliza o titular da SSPDS.
A enfermeira obstetra Emília Pereira Feitosa, de 47 anos, relata que durante dez anos de sua vida sofreu de violência doméstica.
“A gente tem uns traumas de infância e acha que tudo isso é muito comum, que é muito normal ser maltratada e humilhada. Ninguém quer ser maltratada, humilhada. Ninguém acorda querendo estar ao lado de uma pessoa manipuladora, que só sabe distorcer o que você fala", comenta emocionada.
Emília relata que precisou da ajuda de terceiros para sair da relação tóxica: “Psicologicamente eu não estava bem nesse ciclo vicioso dos maus tratos. Eu achei que eu não tinha capacidade para nada".
Ela continua: "Eu me senti extremamente inútil. O próprio agressor fez uma situação em que eu tive que responder perante a justiça (...) Foi onde foi levada à delegacia, foi feito todos os trâmites e me deparei com a equipe do projeto GAVV, onde através desse apoio eu pude despertar para muita coisa e ter vontade de viver", acrescenta a enfermeira.
A enfermeira continua: “O braço da lei alcança todas essas pessoas que acham que fazem as coisas e ficam impunes (...) Vou seguir em frente com as minhas filhas, com a minha mãe e com as minhas irmãs que me deram apoio”.
A filha de Emília, Maria Clara, de 10 anos, conta que está muito orgulhosa da mãe no evento.
“Tô muito feliz por ela e todas as conquistas que ela já teve, sempre [a] apoio. E eu percebi que tanto eu, quanto ela, passamos por esse momento difícil (...) E quando tudo isso passou, minha mãe ficou um pouco abalada, mas ela ficou mais leve. E toda vez que ela conversa sobre isso, eu falo: "Mãe, para com isso, para de pensar nisso, vamos seguir em frente que a vida continua", finaliza a garota. (Colaborou Gabriele Félix/Especial para O POVO)