Um homem apontado como chefe da facção criminosa Comando Vermelho (CV) em comunidades do bairro Praia do Futuro II, em Fortaleza, é suspeito de se apossar de terrenos na região.
Conforme investigações da Delegacia de Repressão às Ações Criminosas Organizadas (Draco), José Roberto de Sousa Severo, o “Jogador” ou “Imperador”, de 41 anos, extorquiu um espanhol em R$ 10 mil e, mesmo tendo obtido o dinheiro, apropriou-se da propriedade que o estrangeiro mantinha na Praia do Futuro II.
Outro terreno que José Roberto teria ordenado a tomada pertencia a um familiar do ex-prefeito de Fortaleza Roberto Cláudio (UB), o que foi confirmado pelo O POVO com uma fonte. “Ambos os terrenos ficam próximos, tal como estão situados na localidade da Praia dos Cocos (na Praia do Futuro II)”, consta no Relatório de Missão nº 85/2025, da Delegacia de Repressão às Ações Criminosas Organizadas (Draco).
“Outrossim (os faccionados, a mando de José Roberto) atuaram, intrepidamente, na tomada de casas dentro de uma vila, com o intuito de logística para abrigar integrantes do grupo criminoso, como também esconder ilícitos”, prossegue o relatório.
José Roberto ainda seria responsável por invasões de terrenos em São Gonçalo do Amarante, na Região Metropolitana de Fortaleza, “para negociar a favor da facção”, conforme afirmou uma testemunha ouvida pela Draco.
Outro relato colhido pela especializada aponta que José Roberto — ao lado de seu braço direito, Alex Sousa da Silva, o “Pit”, de 37 anos — determinou o fechamento de uma igreja no Caça e Pesca. “Porém os religiosos têm medo de falar, o objeto seria usar o imóvel da Igreja para arrecadar renda”, consta em depoimento.
Assim José Roberto foi descrito por um relatório da Draco: “Exerce a função de destaque na hierarquia da organização, ordenando homicídios e sendo responsável pelo gerenciamento do tráfico de drogas, pela expulsão de moradores que não comungam das suas práticas criminosas e por decretos de morte de inimigos e, até mesmo, de comparsas de longas datas que lhe causam prejuízos, tudo no intuito de ‘manter a ordem’”.
José Roberto e Alex foram presos em 20 de agosto. A defesa de José Roberto, realizada pelos advogados Marcos Igor Morais Ponte e Raymundo Nonato da Silva Filho, afirmaram que só iriam manifestar-se nos autos do processo. Mesmo assim, eles asseguraram a inocência do cliente.
Os advogados salientaram a “complexidade” do processo, que “ainda precisa ser examinado com a devida cautela” e disseram acreditar “que, no decorrer da instrução, os fatos serão esclarecidos e a verdade prevalecerá, conduzindo à elucidação do caso”.
Como O POVO mostrou na segunda-feira passada, 1º, no Auto de Prisão em Flagrante (APF) de José Roberto foi anexado um relatório em que analistas da Draco afirmam que, “muito em breve”, o Comando Vermelho deve tomar o controle de comunidades dominadas pelas facções rivais em Fortaleza e nos principais municípios do Ceará.
Isso porque, indica o relatório, o CV estaria melhor organizado e mais capitalizado, com infiltrações na política e na economia formal, e, ainda, tendo suas principais lideranças “intocáveis” em favelas do Rio de Janeiro.
“Nos conflitos que estão acontecendo, o Comando Vermelho - CV está levando vantagem devido a seu nível de organização, o fluxo de armas de fogo de grosso calibre e as grandes quantidades de drogas que chegam ao Estado por diferentes canais, com suas principais lideranças apresentando-se intocáveis nas Comunidades do Rio de Janeiro/RJ, como a Rocinha, e muito em breve assumirá o controle total de Fortaleza/CE e dos principais municípios do Estado do Ceará, pois já estão inseridos na política; nos serviços de internet; aplicativos de transporte de passageiros; setor de combustíveis; golpes virtuais; jogos regulamentados (Bets) e clandestinos; bebidas e cigarros falsificados; além dos serviços prestados dentro e fora dos portos e aeroportos”, consta no Relatório Técnico nº 154/2025/DRACO/DRCO/PCCE.
Nesse contexto, José Roberto foi apontado pela Draco como sendo um dos financiadores da ofensiva do Comando Vermelho sobre as comunidades da região do Vicente Pinzón que, atualmente, registram a presença da facção Guardiões do Estado (GDE).
Como O POVO tem mostrado desde o final de junho, o Vicente Pinzón tem sofrido com um conflito que já gerou, pelo menos, 16 homicídios após uma das lideranças da GDE — Ronald Pinto dos Santos, o “Bicho Feio”, ter sido “decretado” pela facção e ter resolvido aderir ao CV.
Com ele, diversos outros faccionados da GDE “rasgaram a camisa” e passaram a ser integrantes do CV, recebendo apoio dos outrora inimigos para controlar o Vicente Pinzón. A guerra, então, se estendeu ao entorno, incluindo comunidade do bairro Papicu, como a comunidade dos Índios e Verdes Mares.