Com uma parte do letreiro caída e lixo no entorno, o Solar das Sombras, casarão histórico no município de Maranguape, na Região Metropolitana de Fortaleza — e que dava vida ao Mercado Balaio — encontra-se abandonado e servindo de moradia para os pombos que sobrevoam o espaço.
A entrada, trancafiada por um cadeado e correntes que parecem estar ali há anos, transmitem os sinais de descaso com o lugar. Dentro do espaço, uma planta que de tão ressecada não pode ser identificada, degraus cobertos por folhas secas e poeira e sem claro sinal de presença humana.
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A Lei Municipal 1.278/96, considera o espaço como um de seus sete imóveis tombados no município, dentro da categoria A. O artigo 14º afirma que “os bens preservados deverão ser conservados e em nenhuma hipótese poderão ser demolidos, mutilados ou restaurados”.
A prefeitura de Maranguape está tentando fazer um acordo com os atuais donos, para comprar o local e fazer um centro histórico no lugar. De acordo com a secretária de cultura de Maranguape, Adelaide Prata, os proprietários foram notificados para que tomem providências no sentido de manter o prédio, evitando a degradação. "É uma notificação direta. A Prefeitura não interfere no direito de propriedade do imóvel, apenas na preservação e na manutenção”, afirma a gestora da pasta.
Conforme a secretária, um processo de reorganização urbana do centro de Maranguape está sendo iniciado. “Por sua arquitetura e por ser um espaço amplo, serviria a vários tipos de uso na cidade. Inclusive, para o poder público. Mas a prefeitura não possui um estudo detalhado do que poderia ser feito no local", explica.
O casarão foi construído pelo primeiro intendente do município, Joaquim José de Souza Sombra. O cargo diz respeito a uma espécie de agente público com poderes policiais e tributários. O espaço serviu de locação para estruturas diversas, como a farmácia de um dos filhos de Joaquim, onde eram tratados os enfermos da malária; foi palco do encontro entre o romancista José de Alencar e o historiador Capistrano de Abreu; a Caixa Econômica Federal; o Supermercado Cobal e mais recentemente o Mercado Balaio.
Conforme o turismólogo da Secretaria da Cultura e Turismo de Maranguape (Secult-MPE), Alexandre Cabral, há outras construções chamadas de solares na região. “Eles recebem o nome de solar porque têm várias janelas. Naquela época não se tinha energia elétrica, então era a luz do sol que iluminava as casas durante o dia", esclarece.
De acordo com Alexandre, para além da memória afetiva, o casarão também é importante por participar da história do Brasil. “Você imagina as pessoas que participaram daquela reunião, que mais na frente veio a combinar com a abolição da escravatura no Ceará (...) das decisões que foram tomadas ali naquele prédio".
O POVO apurou que o solar atualmente está sob posse da jornalista Sandra Sombra Sampaio e do advogado Dejarino Costa dos Santos Filho, que teria a parte do irmão de Sandra, Dario Sombra Sampaio.
Sobre a autuação para manutenção do solar, o documento obtido pelo O POVO e emitido pela Secretaria do Meio Ambiente e Urbanismo (Semurb) de Maranguape, aponta que é “dever legal do proprietário do imóvel tombado zelar pela sua conservação e preservação, promovendo as manutenções e reparos necessários, sob pena de responsabilidade administrativa, civil e penal”.
Caso não faça um investimento nos reparos necessários, os proprietários podem ser desapropriados do casarão. Até a publicação desta matéria, o Solar dos Sombras encontra-se para aluguel ou venda, no site Viva Real, com valores de R$ 22 mil reais para aluguel ou R$ 4 milhões para venda.