O Ceará chegou ao mês de setembro com nove bilhões de metros cúbicos (m³) de água armazenados em seus açudes. O valor corresponde a 49,07% da capacidade hídrica total do Estado, estimada em 18 bilhões de m³, e é 3,36% menor que o acumulado na mesma data de 2024, quando somava 52,43% da capacidade total.
Os dados foram coletados pelo O POVO durante esta segunda-feira, 1°, e apontam para a redução do volume de água armazenada em oito das 12 bacias hidrográficas monitoradas pela Companhia de Gestão dos Recursos Hídricos (Cogerh). Apenas as reservas do Alto Jaguaribe, Litoral, Curu e Serra da Ibiapaba tiveram acréscimo de água no comparativo entre o início dos meses de setembro de 2024 e 2025.
O assistente da diretoria de operações da Cogerh, Rodrigo Cavalcante, explica que é necessário analisar as diferentes características e cenários de cada bacia no Estado. Nas da região Norte, por exemplo, como Coreaú e Metropolitana, a tendência é majoritariamente de melhores volumes, devido à maior concentração de chuvas próximo ao litoral do Estado.
Já em bacias mais ao Sul, como a dos Sertões de Crateús e Banabuiú, os níveis são mais inconstantes, e necessitam de monitoramento ano a ano, dependendo muito de uma quadra chuvosa em níveis mais elevados, como visto em 2024. Segundo Cavalcante, o nível atual dos açudes, em especial do Castanhão, ainda é suficiente para abastecimento do Interior e transferências para a Capital, caso seja necessário.
"O açude Castanhão está com 26% da sua capacidade que é o suficiente para atender com segurança as demandas do vale do Jaguaribe, do Rio Jaguaribe, do eixão das águas, e caso seja necessário, uma transferência para a RMF, mas isso deve ser avaliado no início do próximo ano", pontua.
As diminuições ocorrem devido à recente quadra chuvosa, que apesar de dentro da média histórica, teve menos precipitações a partir do mês de abril e registrou 517.9 milímetros de chuva entre fevereiro e maio. O número significativamente inferior aos mais de 760 mm apontados na quadra de 2024, melhor resultado obtido desde 2009.
Boa parte da água fica armazenada nos três principais açudes do Ceará: Castanhão, Orós e Banabuiú. Dentre eles, apenas o Orós teve acréscimo no último ano, chegando inclusive a sangrar durante a última quadra chuvosa.
Passado o período de chuvas, o açude naturalmente perdeu volume de água e, atualmente, opera com 85% de sua capacidade máxima. Banabuiú, por sua vez, acumula 34,40% do total, enquanto o Castanhão (26,55%) é um dos 37 açudes cearenses com volume inferior a 30%.
Isso, entretanto, não significa pouca água, já que juntos, os dois somam mais de 2,3 bilhão de metros cúbicos, o que se somado à quantia presente no Orós, chega a 43% do volume atual.
O início do nono mês do ano também traz 33 açudes que ainda possuem mais de 90% da reserva, dos quais apenas o Germinal, um dos menores do Estado, permanece sangrando.
Chegada a segunda metade do ano, vem também o período de menor quantidade de chuvas no Ceará, o que termina gerando problemas em algumas cidades do interior. Atualmente, 40 municípios cearenses possuem situação de emergência reconhecida pelo Governo Federal, sendo 33 por estiagem e outras sete por seca.
O levantamento é feito pelo Ministério da Integração e Desenvolvimento Regional (MIDR), responsável por decretar ou não o auxílio às localidades que alegam dificuldades por infortúnios naturais. Entre as ações adotadas estão parcerias com o exército e as coordenadorias de Defesa Civil do Estado (Cedec) e dos municípios para ações de prevenção e combate aos cenários de dificuldade.
No Ceará, as ações contam com o auxílio ainda do Comitê Integrado de Segurança Hídrica que, em reuniões quinzenais, monitora as cidades propensas a problemas causados pela falta d’água.
“Isso nos dá um panorama de como se encontra a situação hídrica do Estado e nos orienta de que forma que a gente pode traçar tanto o desenvolvimento de medidas estruturais, como perfuração de poços e construção de canais, adutoras… de sorte que a gente consiga ampliar sempre a estrutura hídrica do Estado”, afirma o coordenador adjunto da Defesa Civil da Cedec, major André Souza.
Em caráter imediato, nas cidades que já enfrentam os problemas da seca, o trabalho acontece através de ajuda humanitária, como a distribuição de cestas básicas, além da operação Carro-Pipa, que leva água para as cidades em situação de emergência.
De acordo com Souza, apesar da referência ao município, as situação de emergência fazem jus, na verdade, a pequenas comunidades, geralmente de poucas famílias, que por estarem afastadas dos centros urbanos, enfrentam problemas de abastecimento.
"Normalmente, essas situações de emergência são provocadas por comunidades difusas. São pequenos povoados que as obras que têm sido feitas no Estado ainda não conseguiram levar água até eles. Muitas vezes os municípios decretam emergência por conta disso", explica.
Este ano, mais de 4 mil cestas básicas foram distribuídas para famílias em situação de vulnerabilidade devido à seca ou estiagem em 30 cidades cearenses. Os Carros-Pipa, por sua vez, chegam em média a 40 municípios, a depender da quantidade de locais com emergência reconhecida.
Cidades em situação e emergência por seca
Cidades em situação de emergência por estiagem
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