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Ipês transformam a paisagem do Ceará em espetáculo de cores
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Ipês transformam a paisagem do Ceará em espetáculo de cores

Fenômeno marca o fim da quadra chuvosa e transforma ruas e avenidas em verdadeiros corredores floridos
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EM setembro, começa a floração dos ipês amarelos (Foto: Samuel Setubal)
Foto: Samuel Setubal EM setembro, começa a floração dos ipês amarelos

Entre julho e setembro, ruas e avenidas do Ceará ganham um colorido especial com a floração dos ipês. Amarelos, roxos, brancos ou cor de rosa, essas árvores chamam a atenção pela beleza e exuberância de suas flores. Curiosamente, a floração ocorre justamente nos períodos mais secos, já que a espécie consegue se adaptar com facilidade a climas áridos e de pouca chuva.

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Para compreender melhor esse fenômeno, O POVO conversou com a cientista ambiental Lígia Costa, que explicou como os ipês reagem às condições climáticas, de que forma a arborização urbana interfere em sua floração e qual é a importância dessas árvores para a biodiversidade.

“Normalmente, a floração dos ipês acontece no segundo semestre, variando de acordo com cada espécie”, explica a pesquisadora.

No Ceará, especialmente em Fortaleza, o ipê-amarelo é o que mais se destaca, sendo inclusive reconhecido como árvore símbolo da capital. Entretanto, outras tonalidades, como branco, rosa e roxo, também podem ser encontradas em diferentes regiões do Estado.

No Interior, predominam os ipês-rosa, conhecidos popularmente como “pau-d’arco”. O período de florada de cada uma delas pode variar em função de fatores diversos, sobretudo mudanças climáticas.

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Com o fim da quadra chuvosa, inicia-se a primavera, caracterizada por um período seco, que favorece o florescimento das árvores. Lígia explica que isso é uma estratégia de sobrevivência da planta.

“É como se a planta entendesse que o clima está ficando mais quente e que há pouca água. Ao perceber a estiagem, ela inicia a perda das folhas para evitar desidratação nos processos fisiológicos. Em seguida, floresce para se reproduzir e dispersar suas sementes com o auxílio do vento. Dessa forma, garante a continuidade da espécie.”

Ciclo de floração

  • O ipê-rosa (Handroanthus avellanedae) é o primeiro a florescer, entre o fim de junho e o início de julho;
  • Em seguida vêm os ipês-roxos (Tabebuia heptaphylla), entre julho e setembro;
  • Depois aparecem os ipês-amarelos (Tabebuia ochracea), entre agosto e setembro, marcando o início da primavera;
  • Por fim, os ipês-brancos, os mais raros, florescem em outubro.


Apesar do espetáculo, a floração é breve: dura cerca de uma semana. Em algumas espécies, pode chegar a 20 dias, dependendo das condições ambientais.

Interferências no processo

A cientista ressalta que as mudanças climáticas podem alterar esse ciclo. O prolongamento das chuvas, por exemplo, adia a chegada da seca e, consequentemente, da florada. “Se o período de estiagem começa mais tarde, a planta entende que ainda não é hora de perder as folhas e iniciar a reprodução. Isso impacta todo o processo fenológico”, pontua.

Além do clima, o manejo urbano também influencia. Podas inadequadas, solos pobres em nutrientes e a compactação do terreno comprometem tanto o desenvolvimento quanto a durabilidade da árvore. “Por isso, não se recomenda podar ipês durante a floração, pois isso prejudica a reprodução da espécie”, alerta Lígia.

Outro aspecto observado é que, em situações de estresse hídrico, os ipês podem antecipar sua floração como forma de autopreservação. “Se a planta floresce muito cedo, é sinal de que está sob forte estresse ambiental. É uma estratégia para dispersar sementes e garantir a perpetuação da espécie”, acrescenta.

A importância dos ipês para as cidades


Os ipês exercem papel essencial na biodiversidade urbana, servindo como fonte de néctar para abelhas e beija-flores, além de abrigo para aves e insetos. “São árvores nativas que mantêm relações ecológicas fundamentais e contribuem para a manutenção da fauna local”, afirma a cientista.

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Além disso, influenciam diretamente na qualidade de vida nas cidades. “Eles ajudam a criar microclimas mais amenos, tornam os espaços urbanos visualmente mais agradáveis e ainda oferecem benefícios psicológicos à população, já que áreas arborizadas estão diretamente ligadas ao bem-estar”, conclui.

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