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"Uma família disse 'sim' e me salvou", diz homem que recebeu pulmão
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"Uma família disse 'sim' e me salvou", diz homem que recebeu pulmão

Iniciativa reúne familiares que autorizaram o transplante de órgãos, pessoas transplantadas, representantes religiosos, profissionais e colaboradores do IJF
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IJF promove o 13º Encontro de Famílias Doadoras de Órgãos do IJF na Casa Barão de Camocim. A iniciativa integra as ações do Setembro Verde, mês de conscientização e incentivo à doação de órgãos e tecido































































































































































































































































































































































































































































































































































































































































































































































































































































































































































 (Foto: DANIEL GALBER/ESPECIAL PARA O POVO)
Foto: DANIEL GALBER/ESPECIAL PARA O POVO IJF promove o 13º Encontro de Famílias Doadoras de Órgãos do IJF na Casa Barão de Camocim. A iniciativa integra as ações do Setembro Verde, mês de conscientização e incentivo à doação de órgãos e tecido

Um "sim" da família de um possível doador pode salvar a vida de quem está à espera de transplante. "Uma família disse 'sim' e o pulmão estava em condições, era compatível. Eu fui transplantado e hoje eu tô aqui vivo por conta desse sim, dessa família”, compartilha Altair Almeida. 

Por outro lado, o impacto da negativa familiar também é direto na vida dos receptores. Ele relata ter sido chamado 10 vezes para o procedimento. Em três ocasiões, a família não autorizou o transplante, mesmo com o órgão estando em condições e sendo compatível.

Cerca de 40 famílias doadoras de órgãos participaram na manhã desta terça-feira, 23, do 13° Encontro anual em alusão ao Dia Nacional da Doação de Órgãos, comemorado em 27 de setembro no Brasil, na Casa Barão de Camocim, no Centro de Fortaleza.

A iniciativa reúne familiares que autorizaram o transplante de órgãos, pessoas transplantadas, representantes religiosos, profissionais e colaboradores do Instituto Dr. José Frota (IJF), e agentes que contribuíram com a rede de solidariedade desse ato que salva vidas. 

O evento integra as ações do Setembro Verde, mês de conscientização e incentivo à doação de órgãos e tecidos. O encontro foi promovido pela Comissão Intra-Hospitalar de Doação de Órgãos e Tecidos (CIHDOTT) do IJF.

“A minha vida realmente estava por um fio. Eu não tinha mais esperança, não tinha mais opção. Só me apegava a Deus e pedia que ele providenciasse um pulmão para mim. E no momento certo, esse pulmão veio”, relembra. Altair recebeu um novo pulmão há seis meses. 

De maneira similar, Diógenes Castro, transplantado de coração, narrou que o primeiro coração destinado a ele não foi doado porque a família recusou.

Ele rememora o período de espera antes de receber o órgão bem-sucedido em agosto de 2016, demonstrando gratidão por sua nova chance de vida.

“Por isso, hoje eu faço propaganda do meu corpo e participo das campanhas, (...) porque todo mês tem alguém precisando de um órgão. Se a gente convencer a família a doar, damos vida às pessoas”, fala Diógenes.

IJF concentra 38% das doações de órgãos no Ceará 

Atualmente, o IJF é responsável por 38% das doações de órgãos disponibilizados para transplantes no Ceará, segundo o Instituto.

Neste ano, no período de janeiro a agosto, o IJF já registrou 108 captações de órgãos e tecidos. Em 2024, foram 197 procedimentos durante o ano todo.

Conforme a Instituição, no mesmo ano, a taxa de aceite familiar foi de 84%, enquanto a média nacional é de 54%.

A enfermeira e coordenadora da Comissão Inter-Hospitalar de doação de órgãos, Aline Alves, explica que a negativa familiar é a principal causa de não doação de órgãos no Brasil, atingindo uma taxa nacional de 46%.

“Nossa taxa de negativa familiar em 2024 ficou em torno de 17% e isso se deve principalmente ao acolhimento que as famílias recebem já desde o início do processo. Elas são acionadas e esclarecidas. E esse acolhimento, realizado de forma empática, com respeito e autenticidade, faz com que essas famílias digam sim à doação”, diz Aline.

A secretária municipal de Saúde e ex-superintendente do IJF, Riane Azevedo, destacou a importância dos encontros de doação de órgãos promovidos pelo Instituto Dr. José Fruta (IJF) para incentivar mais famílias a doar, ressaltando que um único doador pode beneficiar até oito ou mais pessoas.

“Cada paciente que faleceu, da família que doa, pode doar beneficiar até oito pessoas ou mais. Porque são duas córneas, dois rins, dois pulmões, coração, fígado e pâncreas. Então assim, você pode estar salvando muito mais gente do que o que você imagina como uma um único doador”, explica Riane.

Ela associa os índices de sucesso nos transplantes do IJF à baixa taxa de rejeição, atribuindo à maturidade e experiência da equipe hospitalar, que lida frequentemente com pacientes jovens e saudáveis vítimas de trauma, e à cultura de solidariedade inerente aos cearenses.

“Esse ato é muito importante, porque além da divulgação do transplante, é também um agradecimento para as famílias que mesmo no momento de dor, de muito sofrimento, de uma perda que, às vezes, é a maior perda da vida delas, ainda conseguem ser grandes o suficiente para fazer uma doação e beneficiar outras pessoas”, diz Riane sobre a importância da iniciativa. 

Família de PM que doou órgãos diz que ação traz "conforto" 

Uma das captações de órgãos realizada no IJF foi autorizada por Almir Mota, de 69 anos, pai de um policial militar do Ceará, de mesmo nome, falecido em dezembro de 2024, aos 29 anos em um tiroteio, em Boa Viagem, no Interior do Estado.

“Ele estava em uma operação em Boa Viagem e no dia 5 de dezembro desceu no tiroteio da facção em Boa Viagem. Nesse tiroteio, ele foi atingido enquanto estava pilotando a viatura. O faccionado atirou no para-brisa da viatura e atingiu a cabeça dele. E no dia 8 de dezembro ele faleceu no Instituto José Frota”, relata Almir.

O policial militar era doador universal de sangue e havia expressado em vida o desejo de doar seus órgãos. Ele teve seu pedido atendido pela família após sua morte cerebral em dezembro do ano passado.

“Ele disse: 'se eu morrer é para doar todos os meus órgãos'. E assim fizemos. Ele faleceu, mas nós demos alegrias a outras famílias, para poder salvar os que estão sofrendo nos leitos dos hospitais”, conta Almir.

A ação solidária resultou no salvamento de quatro vidas através da doação de córneas, fígado e rins.

O pai do policial expressa a saudade, mas diz que encontra conforto e alegria no fato de que o desejo do filho foi respeitado e que ele pôde trazer esperança e novas vidas a outras famílias, encorajando mais pessoas a se tornarem doadoras.

"A gente sente muitas saudades todo dia, mas, por outro lado, a pessoa se sente também reconfortada, porque ele também salvou muitas vidas. Tem vidas que receberam a doação dos órgãos. Então isso nos fortalece e nos alegra”, completa Almir.

Doação de órgãos: veja imagens do encontro de famílias doadoras 

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