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Ceará mergulha na cena gamer com sua 1ª Game Jam
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Ceará mergulha na cena gamer com sua 1ª Game Jam

O desafio era transformar ciência em entretenimento. A partir do tema "Mar de Ideias - Cultura Oceânica no Ceará", os participantes criaram jogos digitais e analógicos que traduzissem em narrativas lúdicas problemas reais, como a poluição dos oceanos, a preservação de espécies marinhas pouco conhecidas e a importância do equilíbrio ecológico
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FORTALEZA, CEARÁ, BRASIL, 28-09-2025: 1ª Game Jam CE, imersão para criação de jogos eletrônicos com a temátima sobre oceanos e meio ambiente, realizada no campus Labomar. (Foto: Fernanda Barros/ O Povo) (Foto: FERNANDA BARROS)
Foto: FERNANDA BARROS FORTALEZA, CEARÁ, BRASIL, 28-09-2025: 1ª Game Jam CE, imersão para criação de jogos eletrônicos com a temátima sobre oceanos e meio ambiente, realizada no campus Labomar. (Foto: Fernanda Barros/ O Povo)

O Brasil figura entre as 15 maiores indústrias de games do mundo. O Ceará acaba de dar um passo importante no setor ao realizar a sua primeira Game Jam CE, maratona criativa que reuniu 16 equipes e 56 participantes em 48 horas de imersão.

Evento aconteceu no Instituto de Ciências do Mar (Labomar) da Univeridade Federal do Ceará (UFC), em Fortaleza, de sexta-feira, 26 até o domingo, 28.

Em 2021, o setor movimentou US$ 2,7 bilhões, segundo levantamento da empresa europeia Newzoo.

O desafio era transformar ciência em entretenimento. A partir do tema "Mar de Ideias - Cultura Oceânica no Ceará", os participantes criaram jogos digitais e analógicos que traduzissem em narrativas lúdicas problemas reais, como a poluição dos oceanos, a preservação de espécies marinhas pouco conhecidas e a importância do equilíbrio ecológico.

Apesar do cansaço evidente dos participantes após 48 horas de imersão, a organização aguarda produtos que demonstrem criatividade, inovação e forte alinhamento ao tema. A maratona foi finalizada aproximadamente às 20h de domingo, 28.

O principal objetivo é que os jogos desenvolvidos sejam utilizados para popularizar a ciência, alcançando a população tanto na educação básica quanto em ações de conscientização sobre temas práticos.

Para a secretária da Secretaria da Ciência, Tecnologia e Educação Superior (Secitece), Sandra Monteiro, o evento reforça o papel do Ceará no cenário digital.

"Tem sido uma Game Jam protagonista em diversidade e inclusão, com muitas mulheres participando. Gosto de estar nesses espaços porque sou educadora antes de ser secretária. Fico muito feliz em poder estar, em outro nível de gestão, pensando políticas públicas para levar ao cidadão formas de melhor compreensão e popularização da ciência", explica.

Na maratona foi possível ver a diversidade de participantes, como estudantes universitários, desenvolvedores experientes e até famílias competindo juntas. Para muitos, a experiência foi duplamente inédita, pois além de ser a primeira Game Jam, foi a chance de conhecer o Labomar pessoalmente.

Entre as equipes o cenário era de cumplicidade com participantes se ajudando a entender os programas e na criação das trilhas sonoras.

A equipe Brincolar Games, formada por Gabura, sua esposa Dálete, o filho Benjamin de 10 anos, que os acompanha na imersão, e a amiga Julie, por exemplo, levou para o evento um projeto educativo no Roblox.

"Queremos que as crianças conheçam espécies que não são consideradas tão 'bonitas' visualmente, mas que são muito importantes para o ecossistema marinho, para que elas entendam e passem a conhecer e zelar por essas espécies", explicaram os integrantes.

Já a equipe Aliens, formada pelos jovens da Universidade de Fortaleza (Unifor) Lou, Davi e René, apostou na mecânica de um rato velejador que após recolher uma quantidade determinada de lixo do mar consegue trazer para o ecossistema espécies já desaparecidas do ambiente devido a poluição.

Ainda reunindo a família estava a equipe Midnight Games, formada por Ana Elisa, junto com a mãe Elizabete e o pai Fernando Régis. Outros, como a equipe Cururu Games, trouxeram abordagens mais poéticas, explorando memórias e narrativas simbólicas.

Não somente de estreantes foi formada a 1º Game Jam CE, a equipe Sanguessuga Studio formada por David, Humberto e Lia, traz desenvolvedores e designers experientes que já participaram de outras jams pelo Brasil, ficando no pódio de algumas.

Integrantes de bairros periféricos como o Bom Jardim também estiveram presentes, como os participantes da equipe BJ Devis, formada por Felipe Vieira, Alessandra, Vanessa, Rômulo Jardim e Isabele Carvalho, focaram em um jogo com acessibilidade, trazendo legendas e dublagem, incluindo uma facilidade dos movimentos feitos pela movimentação do mouse ao invés do clique, beneficiando pessoas com mobilidade reduzida.

Rose Moura, de 29 anos, monitora do Programa de Educação Tutorial (PET) da Oceanografia do Labomar, fala sobre a experiência de ser monitora das equipes e a importância de jogos envolvendo o oceano.

"Eu nunca tinha participado de um evento assim e é muito legal ver um casamento tanto com o estudo do oceano quanto da parte de tecnologia. Eu espero que tenhamos outras edições, porque é algo que valoriza tanto o oceano em si quanto a conservação dele. Que outros games possam se interessar por essa área de oceanografia, da área ambiental e da conservação do oceano, porque vai trazer uma sensibilização para os jogadores e para a população", disse.


O futuro do Ceará gamer

Se o Brasil já desponta como potência global, eventos como a Game Jam CE mostram que há espaço para o Ceará consolidar um ecossistema próprio, capaz de formar profissionais e gerar negócios.

A ideia geral do evento é que os projetos não parem na maratona: os jogos criados serão apresentados ao público na Feira do Conhecimento, que acontecerá de 6 a 8 de novembro, no Centro de Eventos.

Gabas, de 37 anos, desenvolvedor de jogos a mais de 13 anos e presidente da Associação de Desenvolvedores de Jogos, demonstrou satisfação ao ver a renovação do cenário local, com a participação de novas pessoas. A ideia de conectar a temática com o ambiente físico foi, para ele, um grande acerto.

Como mentor na Game Jam, ele revelou que o número de inscritos superou as expectativas e expressou o desejo de que a iniciativa perdure e cresça, com o objetivo de integrar mais pessoas, incluindo participantes do interior do estado, em futuras edições.

"Estamos falando de uma temática de cultura oceânica, e está sendo feita aqui no Labomar com a vista para a praia, então agrega muito ao ambiente para eles se inspirarem ao criar. E estamos felizes com o número de inscritos, superando as nossas expectativas ao ter 16 equipes, com 53 participantes, a ideia é que isso perdure. A Game Jam é importante porque foi por meio de uma que montei minha empresa e meu primeiro jogo foi criado dentro de uma também", finaliza.

A realização da Game Jam está ligada diretamente à missão da Universidade do Trabalho Digital (UTD), um programa da Secitece que existe há mais de uma década, sendo iniciativa do Governo do Estado do Ceará.

A UTD atua na capacitação profissional, abrangendo desde a informática básica, essencial para o mercado de trabalho, até o desenvolvimento de linguagens avançadas, como Java. Com o passar dos anos, e atendendo às demandas da população, incorporou em sua agenda o Plano Setorial de Jogos do estado e se alinhando à Política Nacional da Cultura Digital.

A ideia é ampliar a ação da Universidade, conectar o Ceará com as tendências globais do desenvolvimento de games e, principalmente, descobrir e valorizar os talentos locais.

 

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