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Mudanças climáticas e a intensificação de desastres ambientais no Brasil: como reverter esse cenário?
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Mudanças climáticas e a intensificação de desastres ambientais no Brasil: como reverter esse cenário?

Entenda os impactos da crise climática no País e as percepções dos brasileiros diante das alterações notadas em municípios e regiões
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Entre abril e maio de 2024, o Rio Grande do Sul enfrentou enchentes consideradas como o maior desastre hidrológico da história do estado (Foto: Rafa Neddermeyer/Agência Brasil)
Foto: Rafa Neddermeyer/Agência Brasil Entre abril e maio de 2024, o Rio Grande do Sul enfrentou enchentes consideradas como o maior desastre hidrológico da história do estado

Em 32 anos, de 1991 a 2023, o Brasil registrou 64.280 desastres climáticos em municípios no território nacional. Se na década de 1990 o número de ocorrências chegou a 6.523, apontou-se um aumento de 2,5 vezes em relação ao período, com 16.306 casos entre 2020 e 2023.

Os dados fazem parte de relatório da Aliança Brasileira pela Cultura Oceânica, coordenado pelo Programa Maré de Ciência da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). O levantamento de 2024 contou ainda com o apoio da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco).

No estudo, das 5.117 cidades brasileiras que reportaram danos (o equivalente a 92% dos municípios do País), 50% desses registros se referiam às secas. A porcentagem é seguida por inundações, enxurradas e enchentes (27%) e tempestades (19%).

Para a divulgadora científica Karina Bruno Lima, doutora em Climatologia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), todos são afetados pelas mudanças climáticas em algum grau. Contudo, o impacto mais forte chega à população mais vulnerável — pretos, periféricos, pessoas com baixa renda, sem acesso à moradia segura e à toda infraestrutura urbana.

"As populações que menos contribuem para a crise climática são justamente as que sofrem suas piores consequências. É necessário falar de racismo ambiental e justiça climática", afirma.

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Enchentes no Rio Grande do Sul

Entre abril e maio de 2024, o Rio Grande do Sul enfrentou enchentes consideradas como o maior desastre hidrológico da história do estado e um dos maiores do Brasil.

Em boletins sobre o impacto das chuvas, emitidos pela Secretaria de Comunicação do Estado e compartilhados em estudo da Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA), dos 497 municípios gaúchos, 478 foram afetados, impactando quase 2 milhões e 400 mil pessoas.

A exposição às águas da inundação (mais de 15 mil quilômetros quadrados ficaram submersos) registrou mais de 15 mil casos de leptospirose. Além disso, cerca de 146 mil indivíduos foram desalojados e mais de 50 mil desabrigados.

"Não gosto do termo 'desastres naturais', pois pode dar uma falsa impressão de que os desastres são totalmente naturais e inevitáveis", indica Karina Bruno Lima. "O agente deflagrador é um fenômeno natural, mas o outro fator essencial da equação para a concretização do desastre são as vulnerabilidades locais".

Para a divulgadora científica, a diminuição dessas vulnerabilidades, além de essencial, faz parte das responsabilidades do poder público.

O estudo da ANA apontou que os sistemas de proteção contra inundações em Porto Alegre e outras cidades gaúchas, projetados de 1960 a 1980, falharam em diversos pontos. Entre os motivos, estão rupturas em comportas, refluxo em galerias, diques abaixo da cota de projeto e fragilização da infraestrutura.

Estima-se que 35% a 40% da população atingida pelas enchentes na Região Metropolitana de Porto Alegre estava em áreas protegidas por sistemas que falharam.

COP30 no Brasil

A 30ª Conferência da Organização das Nações Unidas (ONU) sobre Mudanças Climáticas (COP30) está prevista para novembro de 2025 no território nacional. O encontro global, sediado em Belém (PA), reunirá líderes mundiais, cientistas e outros representantes da sociedade civil para discussões relativas às mudanças do clima.

De acordo com a doutora em Climatologia pela UFRS, Karina Bruno Lima, espera-se que o Brasil assuma um papel de liderança no evento, posicionando a Amazônia como o foco do debate.

"Uma aposta é Tropical Forest Forever Fund (TFFF) para trazer recursos de forma duradoura", diz. A profissional acrescenta que as discussões sobre financiamento de perdas e danos sobre mitigação climática são necessárias.

Os temas centrais do evento, guiando os debates e as negociações diplomáticas, incluem:

Redução das emissões de gases de efeito estufa;

Adaptação aos impactos das mudanças climáticas;

Financiamento climático para países em desenvolvimento;

Tecnologias de energia renovável e soluções de baixo carbono;

Preservação ambiental e biodiversidade;

Justiça climática e proteção das populações vulneráveis.

Dados: o brasileiro e a crise climática

91% dos brasileiros consideram importante a questão das mudanças climáticas;

71% percebem que os eventos climáticos extremos estão cada vez mais presentes;

57% indicam o desmatamento como o maior responsável pelas mudanças climáticas no Brasil;

87% dos brasileiros estão dispostos ou muito dispostos a mudar seus hábitos para amenizar os efeitos das mudanças climáticas;

69% conhecem alguém ou já foram afetados pelas consequências das mudanças climáticas.

Dados: Relatório 'Natureza e Cidades: a relação dos brasileiros com as mudanças climáticas - 2023' (Fundação Grupo Boticário com apoio da Unesco)

Produções sobre o tema

Nausicaä no Vale do Vento (1984) | Disponível: Netflix

Wall-E (2008) | Disponível: Disney

Expresso do Amanhã (2013) | Disponível: Mercado Play

O Amanhã é Hoje (2018) | Disponível: YouTube

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