Olhos com lágrimas e mãos em oração. Centenas de fiéis percorreram as ruas do bairro Montese, em Fortaleza, neste domingo, 12, na tradicional procissão de Nossa Senhora Aparecida. O momento foi palco de preces e de agradecimento ao amor materno da padroeira do Brasil.
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A caminhada foi iniciada por volta das 17 horas e teve como ponto de concentração as proximidades do Santuário, onde missas ocorreram ao longo do dia. A imagem da santa chegou em um carro do Corpo de Bombeiros Militar do Ceará (CBMCE), e foi recebida com aplausos eufóricos e emocionados.
Religiosos passaram então a cumprir o percurso, andando pelas ruas do bairro enquanto entoavam canções e sacudiam no ar bandeiras azuis. Alguns caminhavam com uma das mãos estendida na direção da padroeira. Deixavam a outra parada sobre o peito, em demostração de respeito e fé.
Em meio à multidão, Franciezio Santos, 24, chamava atenção por parecer deslocado, andando de um jeito meio tímido entre outros devotos. Morando há quatro anos no Ceará, esta foi a primeira vez que o jovem fez a caminhada. Por trás da aparente timidez, ele guarda uma história de devoção.
O supervisor de vendas relata que desde a adolescência Nossa Senhora Aparecida surge em seus sonhos, feito um chamado, e o aconselha com uma voz suave que enche seu peito de paz. A ligação que mantém com a santa é como a de um filho que é sempre orientado e abastecido de amor por sua mãe.
"Ela é pra mim como uma mãe (...) Não quero abandonar ela por nada desse mundo, o meu amor por Maria é muito grande", diz, sem interromper a caminhada, que faz como forma de agradecimento e entrega.
Ludenise Silva, 61, também enxerga a santa dessa forma. Ela conta que já fez a procissão seis vezes e que sempre agradece, mas dessa vez veio também pedir. "Estou pedindo pelos meus filhos, pelo trabalho (deles)", ela (santa) é como se fosse mesmo uma mãe de carne (...) É um amor muito grande".
Poucos passos atrás dela, o exemplo de amor materno toma uma forma de mesma força. Eduarda Freitas, 23, caminha descalça, com a filha Maria Cecilia, 3, nos braços. Ela conta que a criança foi internada ao nascer e por isso fez uma promessa para a santa, conseguindo alcançar a graça da saúde da menor.
Desde então, todos os anos retira o calçado e entrega os pés ao chão das ruas. Caminha sem reclamar, mesmo pisando em pedregulhos. Por vezes cola o rosto com o da pequena, bochecha com bochecha, distribui beijos, como quem reconhece que cansaço nenhum é maior do que o amor entre elas.
Imersas nesse sentimento, elas passam por Cleane Brito, 43, que assiste à procissão segurando um porta-retrato nas mãos. Seus olhos estão tomados por lágrimas e, enquanto canta as músicas, sua voz parece carregar uma tristeza muito funda. No objeto que segura está a foto de sua mãe, falecida há três meses.
"Todo domingo ela ia pra igreja (...) Eu ainda tô caindo na real que a minha mãe faleceu. Mãe é tudo, eu perdi o meu pilar, o bem mais precioso da minha vida, a Nossa Senhora (veio) na porta da casa dela e eu trouxe ela até aqui", conta a agente administrativa, que agora herda o amor e a devoção pela santa.
Quando a procissão passava nas ruas, diversos moradores saíam de suas casas para assistir, fazendo coro às músicas, erguendo braços e se emocionando junto dos que caminhavam. Muitos levaram imagens da santa para as calçadas das residências, permitindo que fiéis tocassem nela, compartilhando a fé.
Quem não saía, ficava em janelas ou portões, acenando e participando mesmo dali. Ao cair da noite, devotos acenderam velas e a caminhada ficou ainda mais atrativa. Rostos cansados se misturavam na multidão, mas era dificíl encontrar desânimo ou qualquer outra coisa que não fosse vontade de estar ali.
Esse sentimento parecia tomar conta do caminho, invadindo até quem não foi para a caminhada. Na rua Alan Kardec, alguns fiéis aproveitaram os momentos finais da procissão e pararam em um estabelecimento chamado "Genivaldo Bar" para comprar garrafas de água. O dono do local prontamente abriu a geladeira e entregou as bebidas, mas na hora de aceitar o dinheiro não quis, deixou de graça todas elas.
Além de Fortaleza, diversas outras cidades brasileiras celebraram Nossa Senhora de Aparecida, com procissões e outras manifestações culturais. Também hoje em Belém, no Pará, houve a 94ª edição do Círio de Nazaré, uma das maiores manifestações religiosas do Brasil. Para o evento eram esperados cerca de 10 mil fiéis.
Brasil
A procissão do Círio de Nazaré é uma das maiores manifestações religiosas do mundo. Ontem, 12, o encontro realizado em Belém (PA) reuniu mais de 2 milhões de pessoas