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Ceará tem três bacias hidrográficas em situação de escassez hídrica
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Ceará tem três bacias hidrográficas em situação de escassez hídrica

Bacias do Sertões de Crateús, Banabuiú e Médio Jaguaribe estão com volume armazenado abaixo de 30%; SRH afirma que abastecimento não deve ser comprometido
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Açude Castanhão, maior reservatório do Ceará, faz parte da bacia do Médio Jaguaribe, uma das que está em situação de escassez hídrica (Foto: Gil Magalhães/Especial para O POVO)
Foto: Gil Magalhães/Especial para O POVO Açude Castanhão, maior reservatório do Ceará, faz parte da bacia do Médio Jaguaribe, uma das que está em situação de escassez hídrica

As bacias hidrográficas do Sertões de Crateús, Banabuiú e Médio Jaguaribe estão em situação de escassez hídrica, ou seja, com volume abaixo de 30% da capacidade total. O cenário foi reconhecido pela Secretaria dos Recursos Hídricos (SRH), em ato declaratório publicado na edição de sexta-feira, 17, do Diário Oficial do Estado (DOE).

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O texto alerta para a situação de abastecimento delicada nos açudes dessas três bacias, e permite medidas como a suspensão temporária de outorgas para irrigação ou uso industrial, perfuração emergencial de poços, transporte de água por carros-pipa, entre outras.

Apesar de reconhecer o cenário preocupante nessas três bacias, a SRH ressalva que os níveis atuais dos reservatórios são suficientes para atender as demandas de todos os setores da sociedade até a próxima quadra chuvosa, sem riscos de racionamento de água ou falta de abastecimento.

Nesse caso, a declaração de situação de escassez é apenas um ato preventivo, para que se a situação venha a piorar, o Estado possa adotar as medidas necessárias para garantir o abastecimento humano e dessedentação animal, como é estabelecido por lei.

“A gente tem a intenção de atender até o fim desta estação seca [agosto a janeiro] todas as demandas. É mais uma forma preventiva para dar base legal a medidas de controle de uso”, afirma o coordenador de Gestão dos Recursos Hídricos da SRH, Carlos Campelo.

A situação de escassez hídrica não é uma novidade no Estado. Duas dessas bacias, Sertões de Crateús e Médio Jaguaribe, já tinham o estado crítico reconhecido em 2024, também em ato declaratório publicado pela SRH.

Este ano, a novidade é a inclusão da bacia do Banabuiú, que nesta quarta-feira, 22, concentra 29,69% da sua capacidade total, 8,3% a menos que na mesma data do ano passado.

Volume das bacias hidrográficas ao longo dos últimos 10 anos

O doutor em geografia Flávio do Nascimento reforça que a sinalização de escassez nos estados tem caráter preventivo, mas pontua que caso a situação avance, setores considerados não-essenciais da sociedade podem ser prejudicados, como a indústria e o agronegócio.

“Você tem o uso agrícola, o uso industrial, agroindustrial, comercial, o especial que é combate a incêndios, limpeza de logradouros públicos… que acabam sendo revisados, porque se você não tem água para todo mundo, você tem que garantir o uso prioritário. O foco é o abastecimento humano e a dessedentação animal”, explica o docente da Universidade Federal do Ceará (UFC) e coordenador geral de ações transversais do Ministério do Meio Ambiente (MMA).

Os olhares se voltam, agora, sobre como será a quadra chuvosa do ano que vem. Um período de chuvas dentro da média, como o registrado esse ano seria suficiente para manter a situação como está, enquanto chuvas acima da média, como as experimentadas em 2024, poderiam retirar as bacias do quadro de gravidade.

O prognóstico oficial de como deverá ser a quadra chuvosa só será publicado em janeiro de 2026 pela Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (Funceme). Entretanto, Nascimento aponta para alguns sinais, ainda iniciais, de que o quadrimestre fevereiro-maio poderá ter precipitações dentro ou acima da média.

“Para o ano de 2026, a La Niña se estabelecendo, como vem se estabelecendo com níveis de precipitação elevados acima da média, nós teremos impactos muito positivos para o Ceará como um todo, e sobretudo, esperando que os efeitos sejam particularmente sentidos na bacia hidrográfica de Crateús”, afirma o geógrafo.

Bacia dos Sertões de Crateús é a que mais preocupa gestores hídricos do Estado

Dentre as três bacias em situação de escassez, a com menos água armazenada é a do Sertões de Crateús. O conjunto de reservatórios, que já é o de menor capacidade no Estado, possui apenas 13,44% de seu volume total.

Esse é um cenário que perdura na região desde 2021, quando a bacia entrou no nível de escassez hídrica e permanece desde então. Entre as soluções pensadas para essa região está a construção do açude Fronteiras, no município de Crateús, que vem sendo tocado pelo Departamento Nacional de de Obras de Saneamento (Dnocs).

A barragem terá capacidade para comportar 488 milhões de metros cúbicos (m³) de água, 109 milhões a mais que toda a capacidade atual da bacia, de 378 milhões de m³.

A obra, entretanto, esteve paralisada durante o ano de 2024 por causa de problemas contratuais com a empresa até então responsável pela construção do açude Fronteiras. Em janeiro deste ano, o Dnocs abriu licitação para contratar uma nova empresa para a obra.

O POVO procurou o Departamento para saber se a licitação foi concluída e qual o andamento da construção. O órgão informou, por meio de nota, que a obra da Barragem Lago de Fronteiras, em Crateús, encontra-se atualmente com 50,23% de execução.

"Após enfrentar impasses contratuais com a empresa anteriormente responsável pela execução, o contrato foi rescindido e o Dnocs iniciou um novo processo licitatório para a conclusão dos serviços remanescentes. No momento, esse processo encontra-se na fase de ajustes do Projeto Básico, com a revisão da planilha orçamentária em atendimento aos questionamentos das empresas licitantes. Quanto ao prazo de conclusão, após finalizado o processo licitatório será emitida a ordem de serviço. O cronograma físico-financeiro previsto para a retomada e conclusão da obra é de 18 meses", traz a nota.

No caso das outras duas bacias, a situação é menos preocupante, já que elas possuem níveis acima dos 20% e maior possibilidade de sair da zona de escassez quando as chuvas caírem de novo sob o Ceará.

Volume das bacias hidrográficas do Ceará

Se porventura o aporte das chuvas não for suficiente para recuperar os reservatórios, há ainda a opção de recorrer às águas da Transposição do Rio São Francisco, mediante solicitação oficial junto ao Governo Federal.

“Para se manter essa estrutura e garantir a operação desses açudes o estado teria que pagar um valor à união. Ela nos dá uma garantia. Numa situação extrema, toda água que chegar no Ceará é bem-vinda. Agora com os aportes que temos, causa-nos preocupação essas três bacias, mas nas outras bacias estão razoavelmente bem atendidos”, conclui Carlos Campelo, da SRH.

Pendência

Segundo o Dnocs, a obra de construção do açude Fronteiras encontra-se com 50,23% de execução, no entanto a conclusão está no aguardo do andamento de processo licitatório

Sertões de Crateús é a mais preocupante

Das três bacias em situação de escassez, a com menos água armazenada é a do Sertões de Crateús. O conjunto de reservatórios, que já é o de menor capacidade no Estado, possui apenas 13,44% de seu volume total.

Esse é um cenário que perdura na região desde 2021, quando a bacia entrou no nível de escassez hídrica e permanece desde então. Entre as soluções pensadas para essa região está a construção do açude Fronteiras, no município de Crateús, que vem sendo tocado pelo Departamento Nacional de de Obras de Saneamento (Dnocs).

A barragem terá capacidade para comportar 488 milhões de metros cúbicos (m³) de água, 109 milhões a mais que toda a capacidade atual da bacia, de 378 milhões de m³.

A obra, entretanto, esteve paralisada durante o ano de 2024 por causa de problemas contratuais com a empresa até então responsável pela construção do açude Fronteiras. Em janeiro deste ano, o Dnocs abriu licitação para contratar uma nova empresa para a obra.

Em nota enviada ao O POVO, o Departamento informou que a obra encontra-se com 50,23% de execução. "Após enfrentar impasses contratuais, o Dnocs iniciou um novo processo licitatório e o processo encontra-se na fase de ajustes do Projeto Básico, com a revisão da planilha orçamentária em atendimento aos questionamentos das empresas licitantes. Quanto ao prazo de conclusão, após finalizado o processo licitatório será emitida a ordem de serviço. O cronograma físico-financeiro previsto para a retomada e conclusão da obra é de 18 meses", traz a nota.

No caso das outras duas bacias, a situação é menos preocupante, já que elas possuem níveis acima dos 20% e maior possibilidade de sair da zona de escassez quando as chuvas caírem de novo sob o Ceará.

Se porventura o aporte das chuvas não for suficiente para recuperar os reservatórios, há a opção de recorrer às águas da Transposição do Rio São Francisco, mediante solicitação oficial junto ao Governo Federal, segundo a SRH.

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