Com a proximidade do Dia de Finados, no próximo domingo, 2, os cemitérios de Fortaleza se dedicam em fazer os últimos reparos, garantindo que os espaços estejam preparados para as celebrações em memória de quem partiu. Apesar disso, já há uma movimentação discreta de pessoas que preferem antecipar a visita para evitar o grande fluxo do fim de semana.
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No Cemitério São Vicente de Paula, no bairro Mucuripe, na manhã desta sexta-feira, 31, funcionários e famíliares se concentravam nos últimos reparos no cemitério.
“Mas, de acordo com os anos anteriores, amanhã já começa a chegar gente. No domingo é que o movimento se intensifica”, explica Henrique Eduardo, que trabalha há mais de 30 anos no local. Atualmente, os trabalhos estão concentrados na última pintura da fachada da capela.
No Cemitério São João Batista, no Centro, vendedores já iniciaram a comercialização de flores e velas do lado de fora, enquanto funcionários realizam podas de árvores e serviços de limpeza no interior do cemitério. O dia também marcou a chegada dos primeiros familiares para visitas antecipadas, seja por compromissos pessoais ou para evitar a movimentação intensa do fim de semana.
Acompanhada da irmã, do marido e dos filhos, a professora Emiliana Pinheiro Costa, 56, viajou cerca de 120 km, de Banabuiú, no Sertão Central, a Fortaleza, apenas para visitar os familiares enterrados no cemitério. Seus pais, primos, uma tia, além de uma babá que cuidou por anos das crianças de sua família.
“Tivemos que vir antes, porque amanhã vamos nos dedicar a ver os familiares do meu esposo. Já no domingo mesmo, gostamos de ir à missa. Assim podemos orar por todos os nossos familiares”, explica.
Segundo Emiliana, a ida anual ao cemitério é uma tradição mantida desde a infância, herdada de sua mãe. “Essa caminhada que fazemos dentro do cemitério é muito reflexiva. É uma pausa na vida. A decisão de vir aqui é como se fosse uma forma de estar perto deles. A gente revive as alegrias e também o sofrimento que eles passaram antes de morrer.”
Emiliana conta que, apesar de ter família grande, nem sempre todos conseguem estar juntos na mesma data para visitar os familiares falecidos. A saudade, porém, encontra outras formas de presença. “Sempre deixamos um detalhe diferente no túmulo, um terço, uma flor, aí eles já sabem: ‘Ah, a Emiliana e a Jamila [irmã] vieram”, detalha.
Outra família que esteve no local antes da data oficial foi a de Valéria Saraiva, 59, que realizava a limpeza do túmulo dos avós, agora onde também está sepultada sua mãe. “Ela sempre cuidou do túmulo da família e agora ela também já partiu, em 2021, na pandemia. Então, a gente continua com essa tradição: limpar, cuidar dos que cuidaram da gente”.
Valéria afirma que a família costuma visitar no Dia de Finados, mas, neste ano, não poderá comparecer no domingo. Para ela, a data é marcada mais por gratidão do que por tristeza. “Gratidão por tudo que eles fizeram por nós. É um momento de acolhimento, de tudo o que recebemos em vida.”
Ela ressalta, contudo, tristeza ao ver muitos túmulos em estado de abandono. “No meu entendimento, isso acontece porque as novas gerações acabam esquecendo. A gente vai deixando de passar essa tradição para os filhos. Isso não deveria acontecer”, afirma.
Um dos locais mais visitados do cemitério é o túmulo coletivo situado nos fundos, identificado com a inscrição “Ao Cristão Desconhecido”. Inaugurado em 19 de março de 1968, o espaço recebeu inicialmente os restos mortais das vítimas do Dia dos Mil Mortos, episódio ocorrido em 10 de dezembro de 1878, quando a então capital da Província do Ceará registrou 1.004 mortes por varíola.
Posteriormente, passaram a ser sepultados ali corpos não reclamados do Instituto Médico Legal (IML). Estima-se que mais de 30 mil pessoas estejam enterradas no local.
O túmulo é hoje um ponto de devoção. No Dia de Finados, velas são acesas por diversos visitantes que rezam “pelas almas esquecidas”. “Muita gente também não sabe onde seu parente foi sepultado, então deposita a vela aqui, pelo descanso das almas”, explica o servidor público Gilson Cajuí, que há 15 anos preserva de forma voluntária o túmulo coletivo.
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O túmulo é marcado pela presença de uma grande imagem de São Miguel Arcanjo, com aproximadamente dois metros de altura, feita de pó de mármore e trazida da França no século XIX. Pela primeira vez em 150 anos, a imagem foi retirada para restauração. A previsão é que na tarde deste sábado, 1°, ela retorne ao Cemitério, a tempo do Dia de Finados.
No domingo, 2, o São João Batista abrirá das 6 às 18 horas, com missas às 8, 10, 14 e 16 horas. O arcebispo de Fortaleza, dom Gregório Paixão (OSB), presidirá a missa das 10 horas, na capela do cemitério.