A primeira semana da COP30, em Belém, encerrou-se no sábado, 15, com avanços pontuais, mas também com pendências importantes na agenda, impasses sobre adaptação, protestos de povos indígenas e a retomada da Marcha Global pelo Clima após três edições com restrições à liberdade de expressão.
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“Queremos que todos os países reflitam sobre o desfecho que desejam”, afirmou o presidente da conferência, André Corrêa do Lago, ao destacar que será preciso um “mutirão” para alcançar resultados concretos na segunda fase das negociações.
Mesmo com a agenda principal aprovada, quatro temas importantes ficaram de fora e estão sendo tratados de forma paralela, como o Artigo 9.1 do Acordo de Paris, sobre a responsabilidade dos países desenvolvidos de mobilizar recursos financeiros para países em desenvolvimento; as medidas comerciais unilaterais, como impostos sobre emissões de carbono de produtos importados; relatórios bienais de transparência; e as conhecidas Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs).
A partir de hoje, 17, a COP30 entra oficialmente em sua fase política com a chegada dos ministros do Clima, Meio Ambiente, Finanças, Energia e Relações Exteriores de dezenas de países.
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É nesse momento que temas sensíveis como financiamento climático, adaptação, perdas e danos e transição energética passam do terreno técnico para debates diretamente guiados por autoridade política.
O POVO ouviu especialistas sobre os primeiros dias. Para Danilo Maeda, diretor-geral da Beon, consultoria de sustentabilidade, no nível das negociações, a primeira semana fluiu bem. Temas-chave foram pautados, com destaque especial para justiça climática e mecanismos de financiamento.
“Também tivemos a confirmação da expectativa de que a sociedade civil se manifestaria de maneira enfática, trazendo urgência para a inclusão de populações vulneráveis. Destaco a multiplicidade de temas e atores envolvidos no processo, que trazem uma abordagem mais completa para os desafios, mas também maior complexidade para a sua governança.”
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A professora da Universidade Federal do Ceará, Tarin Frota Mont`ALverne, destaca a importância do papel simbólico e estratégico da COP na região amazônica, sobretudo diante do cenário mundial caracterizado por uma crise sistêmica profunda, marcada por incertezas geopolíticas, guerras, tarifaços e desafios socioeconômicos crescentes.
“Saímos da era dos alertas e estamos na era das consequências. A comunidade internacional se depara com a certeza de vivermos diferentes desastres climáticos”, pontua.
Para ela, a questão da redução dos combustíveis fósseis continua sendo a espinha dorsal das últimas COPS e da COP 30. Muitos pontos foram colocados na mesa de negociação, mas ainda precisarão de uma maior adesão dos países.
“O Brasil apresentou dois instrumentos importantes que pareciam que poderiam ganhar papel importante na negociação, mas que perderam velocidade. O TFFF (Fundo Florestas Tropicais para Sempre) e a Coalizão Aberta de Mercados Regulados de Carbono”, diz.
Após algumas COPs acontecerem em países ditatoriais, muitas manifestações foram registradas, o protagonismo ficou com os indígenas, que bloquearam a entrada da Zona Azul para cobrar a demarcação de terras e denunciar projetos como hidrovias, garimpo ilegal e outras pressões sobre a Amazônia.
Durante o ato, manifestantes exibiram faixas com mensagens como “Nossa floresta não está à venda” e “Não negociamos a Mãe Natureza”. O grupo exigiu diálogo com o governo e foi recebido pelo presidente da conferência, André Corrêa do Lago, e as ministras Marina Silva e Sônia Guajajara, para discutir a revogação do Decreto 12.600 e a retirada de invasores de territórios tradicionais.
Após horas de mobilização e diálogo, o governo federal anunciou a demarcação das Sawré Muybu e a Sawré Ba’pim, ambas do povo Munduruku, no Pará.
O Pavilhão de Ciências Planetárias, na Zona Azul, é o primeiro espaço oficial totalmente dedicado à ciência em uma Conferência da ONU. Co-presidido por Johan Rockström e Carlos Nobre, recebe painéis, encontros com negociadores e lançamentos como o Global Carbon Budget 2025.
Funciona como um centro de comando científico, oferecendo dados, análises e uma “Linha Direta da Ciência” para orientar decisões. A programação reúne instituições globais como Future Earth, INPA, USP, Stanford e Planetary Guardians.
No “Dia da Amazônia”, especialistas e lideranças discutiram o papel do bioma e o desafio do limite de 1,5°C. Também foi divulgado o Planetary Health Check 2025, que alerta que sete das nove fronteiras planetárias já foram ultrapassadas e traz recomendações para os negociadores.