Os profissionais da agricultura, pesca e áreas florestais são as principais vítimas de acidentes com animais peçonhentos durante o trabalho no Ceará. Entre 2019 e 2024, foram registradas 3.546 ocorrências do tipo no Estado, das quais pelo menos 46,95% (1.665), aconteceram com atuantes nessas três áreas.
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Os dados fazem parte de boletim epidemiológico elaborado pela Secretaria da Saúde do Estado do Ceará (Sesa), com base em dados das unidades de saúde referência no atendimento a casos de acidentes com animais venenosos.
O “pelo menos”, usado no início dessa matéria ao anunciar os dados de acidentes nas áreas de agricultura, pesca e florestas, se refere a uma subnotificação das ocorrências com animais venenosos no Estado.
Isso porque do total de casos laborais registrados, 392 não continham informações sobre a ocupação da vítima, o que dificulta saber qual o setor de atuação das pessoas acidentadas. Ou seja, dentre as pessoas que declararam o ramo em que trabalham (3.154), mais da metade pertence a essas três áreas.
A maior presença desses três setores nos acidentes pode ser atribuída ao local onde eles aconteceram, já que de acordo com o boletim, mais da metade dos casos (59,4%) aconteceu em zonas rurais.
Durante os cinco anos analisados, o número de acidentes na zona rural cresceu 20%, enquanto os casos em territórios urbanos caíram 43%.
Acidentes com animais peçonhentos por animal
Os animais que mais causaram acidentes no trabalho foram os escorpiões, com 1399 casos. Logo em seguida vêm as serpentes, responsáveis por 1.142 ocorrências e as abelhas, com 715 incidentes.
Os três lideram com folga o ranking de acidentes laborais no Ceará. Para se ter uma noção, as aranhas são o quarto animal mais frequente na lista do boletim, tendo atacado trabalhadores em 93 ocasiões, sete vezes menos que as concorrentes de ferrão.
Uma das formas de tratamento mais conhecidas nos acidentes com esses animais são os antídotos, substâncias produzidas em laboratório que neutralizam a ação do veneno no organismo humano.
Entretanto, nem toda picada ou mordida de animal peçonhento necessita ser tratada com essas substâncias. Dos mais de 3 mil casos laborais analisados, por exemplo, 2.759 tiveram apenas sintomas leves e outros 2.546 não foram submetidos ao tratamento com antídotos.
Isso acontece porque a aplicação do químico depende do avanço da ocorrência, bem como do contexto de saúde geral do paciente.
A farmacêutica do Centro de Informação e Assistência Toxicológica (Ciatox) do Instituto Dr. José Frota (IJF), hospital referência no assunto em Fortaleza, Karla Magalhães, os antídotos costumam ser aplicados principalmente em crianças que ainda estão em fase de desenvolvimento.
“Geralmente quem evolui com gravidade e repercussões sistêmicas são as crianças abaixo de sete anos. Os adultos a gente não faz soroterapia porque a intoxicação se limita a efeitos locais como dor intensa, formigamento, mas que não vão comprometer a vida”, explica.
A idade citada por Magalhães também é um fator de destaque no relatório, principalmente entre os homens adultos. A grande maioria das vítimas (78%) eram homens, o que segundo o relatório, pode ser explicado pela “maior participação [dos homens] em atividades extrativistas, como a agricultura, a caça, a pesca, a agricultura e a pecuária”.
Os acidentes também são mais comuns entre os adultos, em especial nas faixas etárias de 20 a 34 anos, que concentram 31% dos casos, e 35 a 49, com 30%.
O levantamento também mostra que são raros os casos onde o paciente evolui para um quadro fatal, com 20 mortes registradas nesses cinco anos, sendo dez por mordidades de serpentes e dez por ferroadas de abelhas.
A melhor forma de combate aos acidentes com animais peçonhentos ainda é a prevenção, como conscientização dos trabalhadores até o aprimoramento das condições de trabalho e infraestrutura de saúde.
Entre as medidas recomendadas estão programas educativos para informar sobre os riscos de acidentes aos trabalhadores, uso de Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) e a manutenção e limpeza adequadas do ambiente de trabalho.
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Como prevenir acidentes com animais peçonhentos
A melhor forma de combate aos acidentes com animais peçonhentos ainda é a prevenção, como conscientização dos trabalhadores até o aprimoramento das condições de trabalho e infraestrutura de saúde.
Entre as medidas recomendadas estão programas educativos para informar sobre os riscos de acidentes aos trabalhadores, uso de Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) e a manutenção e limpeza adequadas do ambiente de trabalho.
A seguir, dicas para evitar acidentes com animais peçonhentos no trabalho: usar luvas de raspa de couro e calçados fechados, entre outros equipamentos de proteção individual (EPI), durante o manuseio de materiais de construção (tijolos, pedras, madeiras e sacos de cimento); transporte de lenhas; movimentação de móveis; atividades rurais; limpeza de jardins, quintais e terrenos baldios, entre outras atividades; olhar sempre com atenção o local de trabalho e os caminhos a percorrer; não colocar as mãos em tocas ou buracos na terra, ocos de árvores, cupinzeiros, entre espaços situados em montes de lenha ou entre pedras. Caso seja necessário mexer nesses lugares, usar um pedaço de madeira, enxada ou foice.