Em Caucaia, na Região Metropolitana de Fortaleza (RMF), uma iniciativa pioneira deve realizar atendimento médico especializado para comunidades quilombolas de Caucaia com uma unidade móvel de saúde. Segundo a Prefeitura do Município, a equipe multiprofissional deve iniciar os atendimentos em janeiro de 2026.
O projeto foi divulgado pela Prefeitura de Caucaia na última terça-feira, 23, e segue em planejamento para a implantação junto à Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas (Conaq).
O serviço será realizado por uma equipe de Estratégia de Saúde da Família (ESF), vinculada à Unidade de Atenção Primária à Saúde do distrito de Primavera, em Caucaia. Os territórios quilombolas de Capuan, Boqueirão do Arara, Boqueirãozinho, Porteira, Serra do Juá, Cercadão das Nicetas, Serra da Conceição, Serra da Rajada e Deserto receberão as ações do projeto.
Segundo o médico Diogo Augusto, primeiro médico quilombola formado no Ceará e integrante do coletivo de saúde da Conaq, a iniciativa integra uma "luta nacional" para a aprovação da Política Nacional de Atenção Integral à Saúde da População Quilombola (Penasq).
Diogo acrescenta que, além das consultas, o projeto deve realizar pesquisas sobre a saúde das comunidades quilombolas. "Queremos ampliar a coleta de dados. Nas fichas de notificação do SUS, ainda não temos a opção de declarar que uma pessoa é quilombola. Então, os dados em saúde ajudam a subsidiar políticas públicas nacionais e municipais".
Ele destaca que a expectativa é ampliar os atendimentos, que começarão com médicos clínicos generalistas, para especialidades como psicologia e oftalmologia.
Segundo a secretaria de saúde de Caucaia, o "acompanhamento médico deve beneficiar cerca de 2.651 pessoas de forma contínua e qualificada". A proposta é que os atendimentos ocorram nas escolas de cada comunidade.
Para a coordenadora nacional da Conaq, Aurila Maria, a Coordenação tem desenvolvido diálogos para implementação de políticas públicas específicas para a comunidade quilombola, principalmente em relação à terra e acesso a serviços de saúde. Segundo ela, o Ceará possui 133 comunidades quilombolas, 74 delas certificadas pela Fundação Cultural Palmares e três territórios titulados pela União, mas a luta por direitos continua.
"Falamos sempre de conquistas. Tivemos a formatura do primeiro médico quilombola no Ceará e a primeira equipe de saúde quilombola no município de Caucaia. Mas travamos lutas constantes, é uma tremenda resistência de todos. Continuamos nos esforçando diante do preconceito por conta da melanina e dos traços físicos, o que é inaceitável", comenta.
Ela afirma que a Conaq reuniu lideranças quilombolas do Ceará com a Prefeitura de Caucaia e considera que a iniciativa "será exemplo para que outros municípios se organizem e lutem pela mesma causa".
Estado
O Ceará possui 133 comunidades quilombolas, 74 delas certificadas pela Fundação Cultural Palmares e três territórios titulados
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