Depois de 15 anos sentindo dores, quatro deles em tratamentos fisioterapêuticos, Elenor Pereira encontrou o alívio para suas costas e quadril no rolfing. "A cada crise, eu ia ao ortopedista e era encaminhado para dez ou 12 sessões de fisioterapia. Pouco tempo depois, as dores voltavam", relata. Há dois meses, o contador conheceu o método alternativo e agora faz sessões semanais de rolfing. Além da melhora física, ele conta que existem outros benefícios cotidianos. "Como você fica irritado com tantas dores e tensões acumuladas, o tratamento acaba melhorando até o humor".
Ainda pouco conhecida em Fortaleza, a prática é descrita pela Associação Brasileira de Rolfing (ABR) como um método de manipulação corporal que "compreende o corpo como um todo e auxilia na fluência de movimento e no equilíbrio através da liberação da fáscia". Mas o que é a fáscia? Trata-se do "tecido conjuntivo que envolve todos os ossos, músculos, nervos e órgãos", explica o fisioterapeuta Roberto Lessa, osteopata que está se especializando em rolfing. Metaforicamente, é "como uma roupa de mergulho que fica sob a pele dando estrutura ao corpo". Suas principais funções são manter a organização do organismo e diminuir o atrito entre os músculos.
Má postura, estresse, padrões de movimentos limitados e traumatismos podem tensionar essa rede. O papel do rolfista, como é conhecido o especialista em rolfing, é liberar a rigidez na fáscia por meio de toques com pressão específica em diferentes áreas do corpo. Por isso, ele é indicado para pessoas que sentem desconforto causado por passar longos períodos sentadas ou repetindo o mesmo movimento; que têm dores crônicas ou causadas por um trauma; e que estão ligadas às atividades corporais, como dança ou esporte.
"Quando o paciente chega ao consultório, o ideal é submetê-lo a uma série de 10 a 15 sessões (uma vez por semana)", explica Roberto. Esse é o período necessário para mudar a estrutura do corpo e produzir um efeito duradouro. Depois de completar a série, são aconselhadas idas esporádicas ao rolfista a fim de manter e aprimorar o ajuste corporal.
A presidente da ABR, Angela Lobo, explica que o método desenvolvido pela bioquímica estadunidense Ida Rolf não busca o fortalecimento muscular tampouco o tratamento específico de patologias. "Ele objetiva melhorar o alinhamento e o autoconhecimento das posturas e movimentos cotidianos". Segundo ela, gestantes podem fazer rolfing mediante alguns cuidados e a técnica não é indicada para pessoas com inflamação aguda em alguma área do corpo, em estados de gripe ou com varizes. Fora isso, pessoas de qualquer idade que "desejam conforto físico ou relacionar a sua estrutura corporal com movimentos diários, estados emocionais e autoconhecimento" podem recorrer ao método.
O estudante de engenharia civil Ozimiro Neto convivia com dores resultantes de uma lesão na lombar que irradiava para as pernas. Em julho, depois de passar por outras práticas, como RPG, osteopatia e fisioterapia tradicional, o jovem iniciou o tratamento que "trouxe o melhor resultado": o rolfing. Junto ao alívio das dores e à melhora no humor, Ozimiro ressalta a mudança na postura no dia a dia. "Na primeira sessão, já senti meu corpo mais solto e alinhado". Ele conta que a evolução da consciência corporal está sendo fundamental no cotidiano seja durante as muitas horas seguidas que passa sentado na sala de aula, seja nos momentos em pé observando as obras. "Você vai encontrando as posições mais adequadas e confortáveis para sua estrutura corporal".
Por não ser focado no fortalecimento muscular, os rolfistas recomendam praticar alguma atividade física. Pacientes de Roberto Lessa, Elenor e Ozimiro aliam o rolfing a pilates e musculação, respectivamente. Isto é importante para manter os avanços conquistados. "A gente dá o estímulo para quebrar a memória mecânica errônea do corpo, mas só vai funcionar conforme o paciente mude seus hábitos", explica Roberto.
Apesar de o rolfing ainda não ser formalmente reconhecido pelos conselhos de saúde no Brasil, Angela percebe que o método "tem sido bem recebido e indicado por médicos".
ENTENDA O ROLFING
QUADRO ENCAMINHADO PARA A ARTE
[Sugestão de quadro elaborar um quadro horizontal com silhuetas do corpo humano correspondentes a cada etapa de sessões. Em cada uma das silhuetas, estariam destacados o locais mais trabalhados naquele momento da série. Segue meu texto e uma inspiração para as imagens]
A Série 10
- O rolfing segue um protocolo básico: a série de 10 sessões. Cada sessão se concentra em liberar restrições em uma determinada região do corpo. Tudo com o objetivo de fazer com que a força da gravidade flua no corpo alinhado e não seja mais uma pressão de desequilíbrio.
- Angela Lobo, diretora da Associação Brasileira de Rolfing, explica que a vivência do processo de 10 sessões é “o básico aos benefícios do método bem como para apresentar a linguagem que relaciona comportamentos e atitudes com a estrutura física”.
Sessões superiores (da 1ª a 3ª sessão)
- Realizadas nas camadas mais superficiais da fáscia, o primeiro trio de sessões está focado em abrir a respiração, dar uma base segura para o corpo e compreendê-lo a partir de uma visão lateral.
Sessões “core” (da 4ª a 7ª sessão)
- As quatro sessões seguintes acessam o eixo central do organismo: da base da pélvis ao topo da cabeça. Chegando a camadas mais profundas do tecido conjuntivo, cada sessão vai ao encontro do centro partindo de pontos distintos: pés e pernas; abdômen; costas; e cabeça.
Sessões de integração (da 8ª a 10ª sessão)
- É chegado o momento de conectar o alinhamento de todo o corpo. Nas últimas sessões, são trabalhadas maneiras de o paciente manter os ganhos adquiridos após o término da série.
A CRIADORA DO MÉTODO
Nascida em 1896 no Bronx, bairro de Nova York, Ida Pauline Rolf foi uma pesquisadora entusiasmada pelo funcionamento do corpo humano. Quando jovem, Ida sofreu um acidente a cavalo cujas consequências não foram bem tratadas pela medicina tradicional. A partir daí, ela se interessou por sistemas de cura alternativos. Entre eles estavam a homeopatia, a medicina quiroprática, a osteopatia
e a yoga.
Pós-graduada em Química Orgânica e filha de um engenheiro civil, Ida compreendia o corpo humano como blocos empilhados verticalmente. Para funcionar bem, essa construção deveria estar equilibrada. Assim, ela buscava uma forma de reajustar os corpos, desequilibrados por se esforçarem contra a gravidade.
Suas pesquisas resultaram na técnica da Integração Estrutural, hoje conhecida como rolfing. De acordo com sua criadora, quando o corpo funciona apropriadamente, a força da gravidade pode fluir e, então, o corpo se cura espontaneamente. Ida morreu em 1979,
época em que o método chegava ao Brasil.
Alternativas para cuidar do corpo e da mente
Existem diversas terapias alternativas que tratam do ser humano como uma unidade interligada, reconhecendo a relação entre a estrutura do corpo e o seu funcionamento. Esses métodos funcionam não apenas na cura, mas também na prevenção de doenças.
Algumas, como osteopatia, quiropraxia, reflexologia e yoga, fazem parte da lista de práticas integrativas disponíveis no Sistema Único de Saúde (SUS). Desde março, o SUS conta com 29 destas práticas, o que faz do Brasil um dos países com maior oferta de cuidados médicos alternativos na atenção básica.
Outras, como RPG e pilates, embora não estejam na lista, são reconhecidas e recomendadas pelos conselhos de Medicina e de Fisioterapia e Terapia Ocupacional. O POVO conversou com especialistas em cada uma.
Osteopatia
Pode recorrer a métodos tradicionais da medicina para diagnóstico e tratamento, mas prioriza a manipulação dos tecidos corporais para restabelecer as funções da coluna, do sistema nervoso e do sistema circulatório.
Quiropraxia
Concentrada na coluna e no sistema nervoso, a prática se dá principalmente por manobras específicas nas articulações. O objetivo é a diminuição imediata das dores e tensões.
Reflexologia
Surgida há milhares de ano na China, trabalha com estímulos de alguns pontos nos pés, nas mãos, nas orelhas ou no rosto a fim de combater problemas físicos e emocionais em outras partes do corpo.
Yoga
Uma combinação de exercícios de respiração, posturas e meditação. Tem sido usada para reduzir a pressão arterial, diminuir o estresse e melhorar a coordenação, a flexibilidade e a concentração.
RPG
A Reeducação Postural Global é baseada em posturas específicas que alongam as cadeias musculares e organizam os segmentos do corpo. Durante a sessão, o paciente permanece em determinadas posturas durante alguns minutos. As posturas são indicadas conforme o queixa e vão evoluindo gradualmente.
Pilates
Método que utiliza o peso do próprio corpo e alguns aparelhos na sua execução, o pilates mistura força e flexibilidade. Seu foco está na qualidade dos movimentos e é baseado em seis princípios: o centro de força (core), a concentração, o controle, a fluidez de movimento, a precisão e a respiração.