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Avanços mudam o tratamento da asma grave
Ciência e Saúde

Avanços mudam o tratamento da asma grave

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A asma, popularmente chamada de "bronquite", é uma doença respiratória ocasionada por uma inflamação crônica dos brônquios e afeta pessoas de todas as idades, culturas e localizações geográficas. Essa inflamação, por si só ou por meio da contração dos músculos que circundam os brônquios, leva a uma obstrução do fluxo normal do ar que entra e sai dos pulmões e, consequentemente, muita falta de ar aos portadores da doença.

A asma é uma doença respiratória crônica que acomete cerca de 300 milhões de pessoas mundialmente e, no Brasil, mais de 10% da população. Mesmo sendo uma doença tão prevalente, o tratamento da asma ainda desafia o mundo científico e muitos médicos. As causas e fatores desencadeantes são diversos e podem ser ambientais ou genéticos, o que implica na necessidade de um tratamento personalizado para cada paciente.

O tratamento é feito com medicamentos anti-inflamatórios de uso contínuo que fazem o brônquio retornar ao seu diâmetro normal e, consequentemente, elimina a falta de ar e reduz o número de crises do paciente. Quando adequadamente tratada, a asma pode ser controlada e isso permite que a maioria das pessoas leve uma vida produtiva, ativa e sem limitações.

No entanto, o estudo "Respira", que avaliou o impacto da asma sobre a qualidade de vida de pacientes adultos e o uso de recursos no Brasil, revelou que somente 32,4% dos pacientes foram considerados totalmente aderentes ao tratamento. Como agravante, a classe de medicamentos mais utilizada pelos doentes é a dos broncodilatadores de curta ação, drogas que apenas aliviam os sintomas durante as crises, mas que não tratam efetivamente a inflamação crônica dos brônquios que é a base da doença.

O impacto disso aos sistemas de saúde no Brasil é gigantesco: são mais de 20 milhões de brasileiros convivendo com a asma em suas diversas variações, com custos anuais de R$ 537 milhões em internações de emergência no SUS. Isso sem contar os custos indiretos, resultados de faltas ao trabalho ou à escola.

Portanto, junto com a oferta da medicação é fundamental fornecer informação para os pacientes sobre a natureza crônica da doença e a necessidade do tratamento correto e ininterrupto para que se obtenha o controle dos sintomas e a prevenção das crises.

Dentro do grande espectro de variantes possíveis da doença destaca-se a asma grave. Essa forma da doença ocorre naqueles pacientes que estão sob tratamento regular e não conseguem alcançar níveis adequados de controle mesmo com doses maiores das medicações convencionais. Isso resulta em hospitalizações mais frequentes, perda na qualidade do sono, perda de produtividade na escola ou no trabalho e compromete seriamente a qualidade de vida de quem convive com a doença.

O avanço do conhecimento científico sobre a asma trouxe, mais recentemente, a possibilidade de se oferecer uma terapia personalizada às características do paciente portador de asma grave.

Na última década, o lançamento de medicamentos imunobiológicos que atuam diretamente na causa da inflamação, e não nas suas consequências, está promovendo uma verdadeira mudança de paradigma no tratamento da asma grave. Mais recentemente foram desenvolvidas novas drogas que atuam diretamente em uma célula inflamatória muito comum na inflamação da asma, o chamado eosinófilo, promovendo o que chamamos de terapia-alvo específica. Isso trouxe esperança de melhora para os doentes mais graves e que apresentam sérias limitações das suas atividades.

A asma é uma doença crônica e que acompanha o indivíduo durante toda a vida, mas não precisa ser um estigma que cerceia a sua liberdade, as suas escolhas e o impede de fazer qualquer atividade. Fornecer informação de qualidade, além do tratamento adequado, pode permitir que a grande maioria dos pacientes alcance o controle da doença e eles tenham completa autonomia no seu dia-a-dia.

Mauro Gomes é médico pneumologista, palestrante e professor da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo. Chefe de equipe de Pneumologia do Hospital Samaritano de São Paulo

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