Em relação aos testes laboratoriais, a Organização Mundial da Saúde considera que estão curadas da Covid-19 aquelas pessoas que têm dois resultados negativos para o novo coronavírus com pelo menos um dia de intervalo. Nos casos mais leves da doença, a estimativa é de que o tempo entre o início da infecção e a recuperação seja de 14 dias.
Essa "cura", porém, também pode ser observada por outro ponto de vista. "Depende de como eu enxergo a cura. Para nós, de reabilitação, é tentar chegar o mais próximo possível do que (o paciente) era antes da doença", afirma Luciana Janot, cardiologista do Centro de Reabilitação do Hospital Israelita
Albert Einstein.
Nesse cenário, a fisioterapia tem papel importante tanto durante a internação em Unidade de Terapia Intensiva (UTI) quanto depois dela. Como a Covid-19 é recente e cada pessoa responde à doença de forma "muito particular", o tratamento tem sido realizado dia após dia, com base nas necessidades de cada um.
Se o paciente ainda não consegue sentar-se, trabalha-se o controle do tronco. Só então, volta-se a atenção para as próximas etapas. "Meu paciente já senta, mas não consegue levantar, então vamos trabalhar a bipedestação. (Se) ele fica em pé, mas não anda, o colocamos em pé e no outro dia começamos a andar", complementa Yara Pessoa, mestre em Ensino na Saúde e fisioterapeuta intensivista adulto nas redes pública e privada em Fortaleza.
Não existe uma regra que diga o que cada pessoa deve fazer no momento pós-alta, mas a fisioterapeuta destaca que o paciente que teve Covid-19 precisa de fortalecimento tanto respiratório quanto motor. "Grande parte deles saem também com sequelas de alimentação, então precisam de avaliação de fonoaudióloga", acrescenta.
"O cuidado é uma abordagem e um suporte amplos, bastante fisioterapia e reabilitação de modo geral, individualizando os cuidados de acordo com as necessidades de cada paciente. Cada paciente deve ser compreendido em suas demandas e especificidades", reforça Paulo Roberto Souza, hematologista e médico do Sistema Único de Saúde (SUS).
Para a gestora de móveis planejados Izabel Kristyany Rhein, 45, o cansaço sentido após a alta, no dia 3 de abril, foi tão forte que ela resolveu mudar-se algum tempo após sair do hospital. A decisão deu-se porque, quando voltou a trabalhar, ela precisava subir os quatro andares do prédio de escada.
No dia que recebeu alta, inclusive, ao voltar para casa, ela subiu os lances de escada e precisou voltar ao hospital de madrugada por não conseguir respirar, por conta do esforço. "Me colocaram no oxigênio, e eu fiquei no hospital até mais ou menos 4 horas da tarde, e recebi alta de novo. A fisioterapeuta disse que eu precisava ir para um lugar que tivesse elevador, porque aquela escada me fazia cansar em um nível que eu não conseguia recuperar a respiração depois."
Ela não chegou à UTI, mas ficou "com oxigênio o tempo todo". "Ainda hoje eu sinto alguns sintomas. Correr é fora de cogitação, nem pensar. Não posso andar muito, subo escada com muita dificuldade, até um pavimento só", conta. Além disso, queixa-se de a pressão ter ficado "completamente desregulada" e de uma intensa queda de cabelo.
Com acompanhamento próximo do genro, que é fisioterapeuta, Izabel fez exercícios respiratórios nos dias posteriores à alta. "Não tive acompanhamento médico até agora, mas vou precisar ir a um pneumologista para retomar a minha vida normal", afirma.
Tanto Izabel quanto a farmacêutica Mariana Brizeno, 42, precisaram de acompanhamento psicológico. E, além disso, Mariana fez fisioterapia em casa durante sete dias, após a alta hospitalar. Com alguns episódios de taquicardia, uma dor no ombro e uma doença autoimune que já tinha, a farmacêutica também foi acompanhada por um cardiologista, um ortopedista e uma reumatologista.
"Acabei precisando fazer um ultrassom e descobri que fiquei com uma tendinite no braço esquerdo, possivelmente por conta da posição que eu fiquei na UTI, de bruços. Acredita-se que, por conta das pronações, eu tenha ficado com essa sequela. Vou fazer pelo menos dez sessões de fisioterapia para corrigir esse problema", conta.