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A importância de perceber o outro e a si mesmo
Ciência e Saúde

A importância de perceber o outro e a si mesmo

|Relações |Para psicóloga, "a quarentena é desafio e oportunidade". O número de separações aumentou, mas muitas pessoas adiantaram o plano de morar juntas
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A maior convivência dentro de casa devido à pandemia da Covid-19 associada a um período de tensão em diversos âmbitos da sociedade torna os traços das conexões familiares mais intensos. Isso porque há, primeiro, repercussões em cada membro da família individualmente. Com mais tempo juntos e sem as atividades realizadas fora de casa, é possível conhecer melhor características de si mesmo e dos outros integrantes da residência. Da mesma forma, outras facetas das pessoas podem surgir e ser percebidas de forma mais evidente.

Conforme o psiquiatra Fábio Gomes de Matos, professor da Universidade Federal do Ceará (UFC) e coordenador do Ambulatório de Psiquiatria do Hospital Universitário Walter Cantídio (HUWC), durante a quarentena há uma "descoberta da existência do outro". "Esses conflitos já existiam de forma latente mas foram explicitados com o aumento da convivência. Quanto mais contato, mais atrito", explica. "Em outros casos, os problemas começaram a ser descobertos porque você vê que aquela pessoa não era bem daquele determinado jeito. Começam a apresentar comportamentos que não tinham antes. Tudo isso foi explicitado com muita clareza pela pandemia", amplia.

Para a psicóloga Débora Lima, "a quarentena é desafio e oportunidade". O número de separações aumentou, mas muitas pessoas adiantaram o plano de morar juntas, por exemplo. Durante esse período, segundo a profissional que atua no Mundo Akar, é preciso aprender a lidar com os limites do outro. "Olhar para si e para quem tá do lado. O ser humano tem necessidade de socialização e de isolamento. É importante combinar momentos de isolamento voluntário. Ficar sozinho no quarto, por exemplo. Respeitar o espaço de cada um", afirma.

De acordo com o psicanalista Christian Dunker, professor do Departamento de Psicologia e coordenador do Laboratório de Teoria Social, Filosofia e Psicanálise da Universidade de São Paulo (USP), o processo está relacionado a como cada um respeita a intimidade de outro. "Depende de como cada família tem condições de lidar com essa partilha. Muitas famílias são mais tolerantes, entendem quando a pessoa faz bobagem e precisa ficar sozinha após momentos de perda de calma e controle. E como reparam isso. Se a família consegue conversar, lidar com violações de pactos e produção de novos limites", analisa.

Ele frisa que é importante "reduzir o produtivismo, a expectativa de desempenho de resultados, inclusive no cuidado com a casa". "A casa não precisa ficar excepcionalmente em ordem. Quando você diminui essa expectativa, volta a atenção para as pessoas para conversar, olhar. Isso causa empatia, solidariedade. Quando recua do estado do operacionalismo e do estado de luta pela sobrevivência", avalia Dunker.

Segundo o psicólogo, é preciso tirar o foco do "novo normal, não precisamos ter certeza de quando vai acabar". "Temos que encarar esse ano como um ano de potencial de reconciliação e de exceção, em que isso começa na família".

 

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