Junto com a quarentena, o núcleo familiar de Marília Araújo, 29, também mudou com a chegada do irmão mais novo. Ela relata que tinha uma rotina muito agitada na qual ficava em casa praticamente só no período da noite. O convívio com o pai, a madrasta e os irmãos não era tão intenso, o que mudou completamente com a pandemia. "Vi lados positivos e negativos desse período mais em casa. Não conseguiria ter acompanhado os primeiros dias do meu irmão recém-nascido por conta do trabalho", conta a psicóloga e publicitária.
A maior frequência dos momentos em família causou aproximação. "A gente fazia comida juntos, assistia alguma coisa. O bebê ajuda a aproximar porque é um elo, traz mais união. Mas claro que quando a gente começa a conviver mais com as pessoas, surgem alguns atritos também. Para driblar, tentei ocupar minha cabeça. Fui para a terapia e procurei uma constelação familiar", diz. Para Marília, o principal problema foi a falta de espaço. Querer ter momentos sozinha e não ter essa opção, já que não podia sair para se distrair ou estar com amigos.
"(A constelação) já era uma coisa que queria fazer. É um momento muito rico. Você conhece mais sobre sua família. É muito forte, onde muitas emoções são reveladas. A constelação trata coisas nossas com os familiares, (coisas) hereditárias, comportamentos repetitivos que fazemos de forma involuntária e que influenciam no dia a dia", acrescenta.
Ela conta que foi importante entender como os próprios relacionamentos são influenciados por questões familiares, como a perda precoce da mãe. "Ocupar posições que não eram minhas me travou em alguns aspectos e a constelação veio para destravar isso, me colocou mais no meu lugar. Não é o outro que muda. É você que muda em relação à situação", diz.
Segundo Prem Madhava, psicoterapeuta e constelador familiar que trabalha no Mundo Akar, houve aumento na procura por constelação familiar. Em grande parte, porque está mais difícil a convivência. "A constelação familiar vai apontar de onde surgiram conflitos e dores. Por que é tão difícil viver na família? Por que não me sinto aceito e preciso me desdobrar? Quando vou entendendo onde eu vivo, vou entendendo meu lugar no mundo", explica.
A prática é uma terapia fenomenológica que busca resolver conflitos familiares que atravessam gerações. São recriadas cenas que envolvem os sentimentos e sensações do constelado sobre sua família. Nas sessões em grupo, participam voluntários. Nas individuais, membros da família são representados por bonecos ou outros objetos.