Viuvinha, viúva-alegre, boca-de-leão, unha-do-cão ou unha-do-diabo. Esses são alguns nomes pelos quais é conhecida uma planta nativa da ilha de Madagascar, na África, nociva à carnaúba e a outras plantas. Presente no Brasil há pelo menos 120 anos, a Cryptostegia madagascariensis foi importada, provavelmente, para fins ornamentais, mas gera preocupação por colocar em risco os carnaubais.
Ao germinar próximo a plantas de maior porte, a unha-do-diabo tem capacidade de fazê-las de suporte, crescendo em espiral. Conforme explica Rafael Costa, professor do departamento de Biologia e da pós-graduação em Ecologia e Recursos Naturais da Universidade Federal do Ceará (UFC), a invasora alcança as folhagens mais altas da carnaúba, impedindo a absorção de luz do sol.
"Então, a carnaúba já começa a sofrer nesse processo e pode morrer simplesmente pela falta de luz. Mas uma forma adicional que a unha-do-diabo pode matá-la é enrolando-se e estrangulando uma estrutura popularmente conhecida como 'olho da carnaúba', onde se localiza o ponto de crescimento de uma palmeira. Uma vez que esse ponto de crescimento é danificado, a palmeira morre, efetivamente", complementa.
Diferentes aspectos convergem favoravelmente à proliferação dessa planta no nordeste brasileiro. Com grande capacidade de adaptação, ela cresce em pelo menos oito tipos de solos diferentes, segundo Oriel Herrera Bonilla, professor do curso de Ciências Biológicas e do Mestrado Acadêmico em Ciências Naturais da Universidade Estadual do Ceará (Uece). Solos com alta salinidade também beneficiam o crescimento dela.
A presença de muitas sementes em cada fruto e a grande mobilidade delas, que são transportadas pelo vento são fatores citados por Rafael Costa. "Mais de 90% de todas as sementes de cada fruto são germináveis, estão prontas para germinar", afirma o professor da UFC, que também aponta o fato de a unha-do-diabo crescer utilizando outras plantas como suporte faz com que ela gaste menos energia produzindo o próprio suporte.
"Isso faz com que ela consiga se espalhar por uma área grande, aumentando o impacto e a ocupação de espaço dela." Por ser uma planta vinda do exterior, a ausência de "inimigos naturais" que controlem o aumento das populações da unha-do-diabo também facilita essa proliferação, segundo Costa.
Além desses aspectos, a época em que os frutos secos da unha-do-diabo abrem-se, liberando as sementes, também coincide com os meses de mais vento na região. "A carnaúba tem espinhos em que essas sementes da unha-do-cão prendem-se, devido à pelugem que elas têm. Quando vem a chuva, a semente desprende-se e cai no chão, instala-se no pé da carnaúba adulta e a planta começa a crescer. Em quatro ou cinco anos, essa plantinha vai causar a morte da carnaúba adulta de 30 ou 40 anos", explica Bonilla.
Outra característica da unha-do-diabo é que ela cresce mais devagar na sombra, e em áreas de extração é comum que se remova outras plantas dos carnaubais, deixando apenas a carnaúba. "É um efeito colateral do trato que é dado nos carnaubais. Retira-se o resto da vegetação nativa para facilitar a extração da palha, mas isso leva a uma facilidade maior de invasão nessas áreas", acrescenta Costa.
Para controlar a espécie invasora, um projeto realizado por quatro universidades brasileiras e uma organização do Reino Unido está avaliando o uso do fungo Maravalia cryspostegiae como agente de controle biológico para a planta.
"O controle biológico tem como princípio que todo ser vivo tem pelo menos um inimigo natural, e cabe a nós, humanos, descobrir qual é. Isso requer estudo, pesquisa e tempo, isso implica recursos e pessoal especializado na área", aponta Bonilla, que faz parte do projeto. Um cuidado necessário é que, ao ser utilizado para controle da unha-do-cão, ele não prejudique plantas nativas.
Popularmente conhecido como ferrugem, o fungo também é nativo de Madagascar e será aplicado em Granja, Caucaia e Jaguaruana. Para ser utilizado como agente de controle biológico, caso a eficácia seja demonstrada pela pesquisa, ainda há a necessidade de o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) declarar estado de emergência fitossanitária no Ceará.
O estudo é liderado por pesquisadores do Centro de Agricultura e Biociência Internacional (Cabi), da Inglaterra, e tem participação da Associação Caatinga, da Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS), da UFC e da Uece. O patrocínio é da Agência de Desenvolvimento do Estado do Ceará (Adece) e do Sindicato das Indústrias Refinadoras de Cera de Carnaúba no estado do Ceará (Sindcarnaúba). (Gabriela Custódio)