Quando um familiar sofre um AVC, o mundo parece parar um pouco. Mamãe está reaprendendo a andar e nós diminuímos os passos também. Nesta pandemia, ela foi privada de seu bem mais precioso: a sua liberdade. Não poder ir e vir quando bem entendesse para mostrar que “se governa” contribuiu para que o emocional dela ficasse abalado, o que serviu como uma janela para o AVC. Pra gente, era uma doença que já tinha chegado à casa do Fulano, do Sicrano, mas, na nossa, inimaginável. É preciso humildade para adoecer. Mamãe caiu no primeiro round, mas, agora, está nocauteando todas as sequelas. Poder comer cuscuz à vontade foi a conquista mais importante do mês passado. A notícia dada pela fonoaudióloga foi celebrada com uma linda mesa posta, como sempre fazíamos nos fins de semana. Hoje, quando ela chega a dar uns “gritos” na gente, eu sorrio e agradeço em silêncio, com a esperança de que a rotina possa, logo, voltar ao normal, pra ela e pra gente. Não a deixo sem retocar a raiz dos cabelos porque, com AVC, sim, com fios brancos, jamais. Seguimos juntos partilhando pequenas delicadezas. Passei a ler tudo o que encontrava pela frente sobre AVC e pudesse dar mais qualidade de vida a ela. Algumas coisas que na minha vida pareciam ser tão importantes agora podem esperar. Minha mãe ficou viúva aos 37 anos. Eu tinha dez dias de nascida e minha irmã, nove anos. Recentemente, minha mãe perdeu minha avó para o Alzheimer, doença que a incapacitou por dez anos, e, durante todo esse tempo, mamãe cuidou dela. Essa reportagem traz um alerta para todos nós aprendermos a olhar mais pra si, afinal, a prevenção do AVC é o fator mais importante.
*Mirelle Costa é jornalista e gentilmente escreveu essa reportagem para o Ciência e Saúde.