A dor e o medo temporário da aplicação presume uma segurança ao longo da vida: o calendário de vacinação infantil é viabilizado pelo Programa Nacional de Imunizações (PNI) e há 45 anos no País avalia o alcance da cobertura vacinal para o público. Através da distribuição gratuita de vacinas pelo Sistema Único de Saúde (SUS), o Ceará disponibiliza um total de doze vacinas entre o nascer aos nove anos, variando entre doses únicas ou mais.
Se hoje não temos casos de caxumba, rubéola ou poliomielite confirmados em crianças no Estado, agradeça às vacinas e às amplas campanhas brasileiras de imunização: antes mesmo de convivermos com a doença e com suas consequências, temos as respectivas vacinas disponíveis no SUS, impedindo os casos. É por meio delas que o sistema imunológico cria anticorpos e nos protege.
Nos primeiros minutos de vida, já nos protegemos com as doses únicas da vacina BCG — famosa pela cicatriz no braço — e a de hepatite B. Aos dois meses, iniciamos a vacinação de rotina contra a poliomielite através da vacina inativada (VIP), administrada em três doses até os três meses, e da vacina oral contra a poliomielite (VOP) com dois reforços até os quatro anos de idade. Inclusive, a vacina contra a poliomielite foi incentivo para o Ministério da Saúde (MS) criar o mascote Zé Gotinha em 1986 que permanece até hoje.
“Imagina quantas crianças morriam ou ficavam com sequelas de doenças infecciosas e que hoje em dia nem ouvimos falar? As vacinas de modo geral afetaram positivamente a humanidade toda e aumentaram nossa qualidade de vida”, evidencia o imunologista e professor da Universidade Federal do Ceará (UFC), Edson Teixeira. “Por menor que seja a cidade, tendo uma equipe de Saúde da Família e um posto de saúde, você tem uma sala de vacinação. Conseguimos distribuir vacina com qualidade devido a isso”.
Até os seis meses, já tomamos as primeiras e segundas doses da vacina contra o rotavírus humano, a vacina da Pneumocócica 10 (doenças causadas pelo pneumococo como meningite, pneumonia e otite) e a vacina da Meningocócica C (contra meningite e meningococcemia). A vacina pentavalente (pcontra doenças como coqueluche, tétano, hepatite B e difteria) e a vacina inativada (VIP) da poliomielite são aplicadas com três doses no intervalo de tempo.
A partir dos nove meses tem a dose inicial da febre amarela. Aos doze meses, há o reforço na vacina da Pneumocócica 10 e Meningocócica C, ainda a primeira dose da tríplice viral (protege contra sarampo, caxumba e rubéola). Aos 15 meses, temos o 1º reforço da vacina DTP (difteria, tétano e coqueluche) e da poliomielite, e as doses únicas da tetra viral (Sarampo, caxumba, rubéola e varicela) com a da Hepatite A. Os reforços são importantes para que os níveis de imunidade no corpo voltem a subir no organismo
No calendário infantil, aos quatro anos, há o reforço da DTP, da poliomielite, febre amarela e da vacina varicela monovalente (protege contra a varicela). Aos nove anos de idade, está disponível na rede pública a vacina contra o Papilomavírus Humano, conhecida como vacina da HPV, e que pode ser aplicada até os 14 anos, 11 meses e 29 dias. Tudo é disponibilizado gratuitamente pelo SUS.
Entretanto, o Brasil vem observando uma queda em seus índices de cobertura vacinal (ICV) infantil. No Ceará, a vacina BCG teve uma cobertura vacinal de 63,47% em 2020, resultado abaixo dos índices de 86,05% em 2019 e de 104,89% em 2018. O índice ideal de vacinação é próximo dos 95%, o que mostra uma drástica redução no ICV.
Os motivos para a redução são múltiplos, avalia a pediatra e diretora da Sociedade Brasileira de Imunologia (SBIm), Flávia Bravo. A pandemia e falta da lembrança da devastação da doença é um dos principais fatores. “Você não temendo a doença, passa a discutir se existe validade em vacinar”, pontua referindo-se ao sarampo, doença que voltou a circular no País devido à queda do ICV. “Temos que manter as doenças sob controle e só conseguimos isso através da vacinação em massa. Precisamos de cobertura vacinal para diminuir os agentes”, alerta Flávia.
Outra dificuldade de acesso às vacinas do calendário infantil seriam a alta oferta de pedidos junto à baixa produção dos antídotos. "Por exemplo, poucas empresas fabricam o antígeno, mas fornecem para o mundo todo", cita a diretora. Ainda, os horários comerciais dos postos seriam outro problema. Caso o responsável pela criança esteja trabalhando entre às 8h às 18h, provavelmente não será possível vaciná-la naquele horário. O crescimento de movimentos antivacinas também é chave na redução da cobertura vacinal.
"Eu quero acreditar que o brasileiro sempre adorou vacina. Isso vem mudando, mas acredito que ainda não é um sentimento geral. Mesmo porque quando observamos grupos antivacinistas, é uma camada da população com acesso à informação", relembra a diretora.
A redução da ICV, inclusive, motivou o primeiro censo de vacinas em 14 anos. Até meados de março, Fortaleza participará de estudo que propõe estimar a cobertura vacinal aos 12 meses, aos 18 meses e aos 24 meses de vida em nascidos vivos entre os anos de 2017 e 2018 nas áreas urbanas brasileiras. Deverão ser avaliadas 1.808 crianças através de entrevistas e de uma foto da caderneta de vacinação.