De 31 de outubro a 12 de novembro, pelo menos 120 chefes de Estado e governo e centenas de ONGs e movimentos sociais estarão em Glasgow, na Escócia. É lá que acontece a 26ª Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP-26). O evento é aguardado como a chance de os países concordarem em ações mais ambiciosas até 2030, período chave para conseguir limitar o aquecimento do planeta em 1,5°C.
“Este ano será o primeiro em que os países terão a oportunidade de rever suas metas propostas dentro do escopo do Acordo de Paris, para que a conta final da redução de emissão de gases de efeito estufa chegue de fato ao necessário", explica Beatriz Azevedo, advogada e ambientalista. O Acordo, assinado em 2015, prevê que a cada cinco anos os países podem enviar novas contribuições nacionalmente determinadas, as NDC. A dez dias da reunião, apenas 115 das 192 NDCs haviam sido enviadas.
Além dessa revisão, o foco da COP26 é “fechar os pontos em aberto”, como coloca Beatriz Pagy, consultora do UNFCCC High Level Climate Champions. “Um ponto importante é a criação de um mercado de carbono comum previsto no Artigo 6⁰ do Acordo de Paris, que é bastante polêmico”, indica. “O financiamento para países menos desenvolvidos também é outro ponto que deve surgir. Especialmente sobre a mobilização de 100 bilhões de dólares por ano, que nunca foi atingida.”
Serão dezenas de reuniões e debates com um plano de fundo bastante complexo: a pandemia de Covid-19 e as consequências socioeconômicas e políticas criadas nos dois últimos anos. “Não acho que essa será uma COP forte e significativa. Se conseguirmos superar alguns desses pontos das negociações passadas já será um ganho”, opina Pagy. Para ela, a questão central é que medidas propostas sejam colocadas em prática.
O planeta está 1,1ºC mais quente que há 170 anos. Ondas de calor já triplicaram em comparação com o período de 1850 a 1900 — antes de as atividades humanas aumentarem a concentração de gases de efeito estufa (GEE) na atmosfera. Já as temperaturas extremas mais raras, que ocorriam uma vez a cada 50 anos, hoje têm probabilidade de ocorrer 4,8 vezes no mesmo período. É o que indica o Painel Intergovernamental sobre o Clima da ONU (IPCC).
Segundo a Agência Americana Oceânica e Atmosférica (NOAA), em seu relatório mais recente divulgado neste mês, os primeiros nove meses de 2021 ficaram entre os dez mais quentes na história da Terra. O recorde leva em consideração todas as medições feitas desde 1880.
O motor do aquecimento está na queima de combustíveis fósseis, como petróleo, gás e carvão mineral, por veículos a combustão e usinas termoelétricas, e a consequente produção de CO2. Mas não só: o metano (CH4) e óxido nitroso (N2O), resultantes de atividades agropecuárias, compõem a trinca do efeito estufa. Some-se a isso a produção de aerossóis.
Desde 1850, a humanidade despejou cerca de 2,5 trilhões de toneladas de CO2 na atmosfera, deixando menos de 500 bilhões de toneladas do orçamento de carbono restante para ficarmos abaixo de 1,5°C de aquecimento. Isso significa que, no final de 2021, o mundo terá queimado 86% do orçamento de carbono disponível para uma probabilidade de 50-50 de alcançar a meta do Acordo de Paris.
Segundo análise da Carbon Brief divulgada neste mês, os EUA lideram o ranking de países que mais emitem dióxido de carbono desde a Revolução Industrial. São mais de 509 trilhões de toneladas de gás carbônico, o que torna o país responsável por cerca de 20% do total global de emissões. A China ocupa um segundo lugar relativamente distante, com 11%. Em seguida estão Rússia (7%), Brasil (5%) e Indonésia (4%).
Quanto aos setores responsáveis, a pesquisa indica que o uso da terra e a silvicultura adicionaram o correspondente a quase 1/3 do total acumulado de 1850 a 2021. Os 2/3 restantes vieram da queima de combustíveis fósseis e cimento.
Seja qual for o ritmo das emissões de gases de efeito estufa, o nível dos oceanos continuará aumentando. O relatório mais recente do IPCC estima que o mar subirá até um metro até 2100. Uma pesquisa conduzida pelo Climate Central, a Universidade Princeton e o Instituto Potsdam de Pesquisa de Impacto do Clima chamou atenção ao mostrar pontos históricos e turísticos do mundo em diversos níveis de submersão a depender do aumento da temperatura mundial (1,1ºC, 1,5ºC, 2ºC, 3ºC e 4ºC).
O trabalho, publicado neste mês, indica que inevitavelmente 360 milhões de pessoas serão expulsas de suas casas pelo mar. Caso parássemos o aquecimento em 2ºC, 720 milhões de pessoas seriam afetadas. Já no cenário mais extremo, em um planeta 4ºC mais quente, cerca de 15% da população mundial atual (o equivalente a 1 bilhão de pessoas) seria desalojada.
Mas como e por que os mares estão subindo? “O aumento do nível do mar se deve ao derretimento das geleiras, principalmente as localizadas nos continentes", explica Paulo Sousa, professor no Instituto de Ciências do Mar (Labomar) da Universidade Federal do Ceará (UFC). Segundo uma pesquisa internacional, publicada em abril na revista Nature, as geleiras perderam 267 gigatoneladas de gelo por ano entre 2000 e 2019. O derretimento equivale a 21% da elevação do nível dos mares em geral observada durante o período.
No Ceará, pelo menos 40% da faixa costeira está sendo erodida. O professor do curso de Oceanografia aponta ainda que a falta de dados no Brasil dificulta previsões mais realistas para o País. "São dados complexos. Temos algumas bóias na costa, mas há problemas e impossibilita um monitoramento constante. Muitos dos dados vêm de trabalhos pontuais”, afirma. “O que sabemos é que o mar já está subindo. A subida é gradual e os impactos são graduais, mas já é possível notar o agravamento de erosão e de inundações e a salinização dos manguezais.”
“Não é da noite para o dia, mas não podemos esperar”, alerta. Para ele, a chave é gestão e planejamento. "Precisamos saber o que acontece, traçar meios de lidar com o problema com os recursos disponíveis e nos preparar para outras soluções.”
Falando de água, o aquecimento global afeta também o ciclo de chuvas fortes e secas prolongadas. De acordo com o IPCC tais episódios extremos ocorriam uma vez por década. Hoje, no cenário de aumento de 1,1ºC na média global, as tempestades são 30% mais prováveis e as secas 70%.
No Ceará, dados de estações meteorológicas documentam um aumento entre 0,4ºC e 0,7ºC na temperatura do ar. Essa alta foi percebida ao se comparar a média de 1994 a 2015 com média entre 1961 e 1990. “Com o aumento das temperaturas temos aumento de evaporação, e isso tem impacto direto na disponibilidade hídrica. Assim, as áreas semi-áridas provavelmente vão se tornar áridas e as áreas úmidas serão semi-áridas”, explica Meiry Sakamoto, gerente de Meteorologia da Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (Funceme).
“Ano após ano a gente vem batendo recordes de temperaturas mais altas pelo mundo afora. Isso naturalmente afeta a atmosfera como um todo e, claro, vai afetar se as chuvas vão ocorrer e com que intensidade”, acrescenta Meiry. "Entre 2012 e 2016, o Estado passou por uma das secas mais longas. Não podemos afirmar que já são o resultado das mudanças climáticas, mas sabemos que os climas semi-áridos são mais vulneráveis e o impacto vai acabar sendo sentido."
Na Capital, no período seco entre setembro e novembro, espera-se uma redução de 9% da precipitação até 2040. Até o fim do século, a projeção, de acordo com Índice de vulnerabilidade às mudanças climáticas feito em 2019, é de uma queda de 29% nas chuvas.
A meteorologista lembra que se trata de uma relação complexa e não linear, envolvendo ainda a interação entre a atmosfera e os oceanos e ciclo naturais da Terra. "Mas não dá para negar que o aquecimento global traz mudanças climáticas que são percebidas localmente e podem se configurar em chuvas mais intensas ou secas mais intensas.”
Se já não fosse claro o quanto as mudanças climáticas impactam a vida de todos os seres vivos, inclusive os humanos, pesquisas recentes explicitam as consequências na saúde. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), as mudanças climáticas provocam ao menos 150 mil mortes ao ano. A agência indica ainda que o número deve dobrar até 2030.
No Brasil, políticas alinhadas ao Acordo de Paris implementadas nos setores de energia, alimentos, agricultura e transporte podem salvar todos os anos 21 mil pessoas de mortes devido à poluição do ar, 328 mil relacionadas à alimentação e 56 mil devido à inatividade física, a partir de 2040. Os dados são de um estudo internacional publicado em fevereiro na revista The Lancet Planetary Health.
Beatriz Oliveira, pesquisadora em Saúde Pública da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) no Piauí, explica que as mudanças climáticas podem trazer efeitos diretos (como aumento de mortes por doenças cardiovasculares e respiratórias), indiretos (como alta nas doenças transmitidas por insetos) e socialmente mediados (devido ao agravamento das desigualdades) para a saúde. “No Brasil, os maiores riscos estão ligados ao aumento de ondas de calor e às mudanças no padrão de chuvas. Isso está relacionado ao limite da nossa capacidade de se adaptar ao calor, às doenças respiratórias agravadas pelo aumento de queimadas e às doenças que podem resultar de enchentes ou das secas, como diarréias e infecções”, enumera.
Recentemente, Beatriz esteve na equipe de pesquisadores que avaliaram como o desmatamento na Amazônia brasileira e as mudanças climáticas podem impactar na saúde. “Observamos um cenário de stress de calor atingindo níveis inviáveis para a condição humana. Fisiologicamente, nosso corpo não seria capaz de suportar. Estaríamos expondo cerca de 11 milhões de pessoas a riscos de saúde, desde a redução do desempenho laboral, por exemplo, até o óbito”, expõe. “É necessário repensar o acesso à saúde e o desenvolvimento de tecnologias de saúde para suprir a demanda.”
O Brasil tem condições de reduzir suas emissões de gás de efeito estufa (GEE) em 82% até 2030. É o que indica o relatório "Clima e Desenvolvimento: Visões para o Brasil 2030", publicado neste mês por um grupo independente reunindo mais de 250 especialistas e 100 lideranças políticas. Para isso, há três apostas críticas: precificação de carbono, controle do desmatamento e construção de uma economia da restauração florestal.
Entretanto, em dezembro, o governo federal submeteu à ONU o compromisso de reduzir as emissões brasileiras em 43% até 2030. Segundo a iniciativa Transparência Climática, a promessa é insuficiente para contribuir na contenção do aquecimento global em 1,5°C. As metas atuais estão compatíveis com um cenário de aquecimento de 3°C.
“Atualmente, o Brasil ocupa um papel de antagonismo. É um país que ativamente se opõe a pontos-chave do Acordo de Paris e bloqueia o Fundo Amazônia ao mesmo tempo em que pressiona outros países por mais recursos e apresenta aumentos imensos no desmatamento”, aponta Beatriz Pagy, empreendedora social e consultora do UNFCCC High Level Climate Champions. Só a Amazônia Legal, por exemplo, perdeu 10.476 km² de floresta entre agosto de 2020 e julho de 2021. A taxa é a pior dos últimos dez anos, indica o Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon).
A consultora da ONU aponta ainda que o País fez uma "pedalada climática" em sua última meta de reduções. Isso porque, diante de um aprimoramento metodológico, a referência das emissões do ano base (2005) passou de 2,1 gigatoneladas de carbono equivalente (medida que representa todos os gases do efeito estufa em uma única unidade) na primeira NDC e para 2,8 GtCO2e. Ou seja, as emissões absolutas possíveis cresceram. “O país é uma das grandes ameaças para a ação climática global com uma série de retrocessos em nível federal que tentam ser freados pelos esforços de governos subnacionais e pela sociedade civil”, opina.
No início de outubro, o ministro do Meio Ambiente, Joaquim Leite, afirmou que antecipará a meta de zerar o desmatamento ilegal no Brasil. A promessa já havia sido dada pelo presidente Jair Bolsonaro na Cúpula de Líderes sobre o Clima, realizada em abril. Na ocasião, o governo também prometeu alcançar a neutralidade de carbono até 2050 e dobrar o orçamento federal na área de combate ao desmatamento. Agora é esperar se os compromissos serão oficializados na COP26.
No Ceará, algumas políticas públicas estão sendo elaboradas para contribuir com o clima local e mundial. Em setembro, a Secretaria do Meio Ambiente (Sema) assinou acordo de cooperação com a Associação Nacional de Órgãos Municipais de Meio Ambiente (Anamma) e o Center for Environmental Peacebuilding (CEPB) para elaborar Plano Integrado de Biodiversidade, Mudanças do Clima e Combate à Desertificação. “Nossa proposta é trabalhar para mitigar as mudanças climáticas, por meio de ações que limitem a magnitude e ou o ritmo do aquecimento global e suas consequências no território cearense”, afirma a pasta.
“O governador acaba de assinar um decreto determinando que o Estado, em 2030, reduza em 50% a emissão de gases de efeito estufa, e, em 2050, terá a neutralidade de carbono”, enfatiza o titular da Sema, Artur Bruno. “Nos próximos anos, elaboraremos o plano estadual de mudanças climáticas e o inventário de gases de efeito estufa”, garante.
A Secretaria indica ainda que “tem atuado na execução, manutenção e monitoramento de áreas reflorestadas, bem como tem estabelecido metas e parcerias para incrementar a cobertura vegetal”. Em seis anos já foram plantadas 71 mil mudas de árvores nativas. Os reflorestamentos são realizados em áreas de Unidades de Conservação e em outros pontos de bacias hidrográficas através do plantio de mudas nativas, com monitoramento mensal das áreas.
Para a bióloga Sarah Lima, as políticas climáticas estaduais “são insuficientes e mal aplicadas”. Ela lembra que em 2016 foi instituída a política estadual sobre o tema, que prevê a do Plano Estadual de Mudanças Climáticas (PEMC) e o Plano Estadual de Adaptação (PEA). “Cinco anos depois e nenhum dos dois foi finalizado, demonstrando poucos avanços…”, lamenta. Ela aponta ainda que o Estado tem um fórum sobre Mudanças Climáticas, Biodiversidade e Combate à Desertificação, mas o mesmo não tem reuniões há pelo menos três anos.
Consultada, a Coordenadoria de Desenvolvimento Sustentável da Sema informou que a última reunião do Fórum foi em 14 de novembro de 2017. “Será reativado agora no final deste ano com a nomeação de novas redes das instituições e convocação dos membros", garante a Secretaria.
Sarah Lima, 24 anos, é uma dos tantos jovens que ao redor do mundo se engajam em ações coletivas para popularizar o debate sobre as mudanças climáticas. No dia a dia do Jovens pelo Clima Ceará (ou Fridays for Future Ceará), ela ajuda a promover educação ambiental em escolas, universidades, praças e parques. Protestos, intervenções nas ruas e nos espaços políticos de decisão e produção de conteúdos de divulgação científica para as redes sociais também estão no cotidiano.
A bióloga e mestranda em Desenvolvimento e Meio Ambiente (PRODEMA/UFC) conta que começou a se envolver com o ativismo climático em 2016. Naquele ano, o coletivo Ceará no Clima — do qual também faz parte — começou uma mobilização contra incentivos fiscais para as termelétricas do Pecém, e a jovem viu uma oportunidade de canalizar sua indignação e agir.
OP - Diante do atual cenário global e da iminência da COP26, qual a importância dos movimentos jovens pelo clima?
Sarah Lima- Fazemos parte da última geração que ainda tem tempo para agir e de uma das gerações que vai sentir com força as consequências catastróficas da crise climática. Então, é muito importante que a gente esteja ganhando cada vez mais representatividade e voz dentro do ativismo climático para levar nossas reivindicações em espaços onde realmente as decisões são tomadas.
OP - O que cada um de nós pode fazer para um futuro sustentável e climaticamente justo?
Sarah - O primeiro passo é compreender que as mudanças climáticas não são resultado da ação individual; são consequência do sistema em que vivemos. Mas é importante que nossos hábitos de viver e de consumir estejam sempre sendo repensados dentro da realidade em que cada um vive. Algumas ações são considerar uma dieta que tenha mais vegetais no lugar de carne, destinar corretamente seus resíduos sólidos por meio da reciclagem e da compostagem e considerar utilizar mais meios de transporte públicos ou outros que não queimam combustíveis fósseis, como bicicleta.
OP - E coletivamente?
Sarah - As ações coletivas têm muito mais impacto e força. É importante se organizar coletivamente para ocupar os mais diferentes espaços, pressionar políticos e ter resultados mais efetivos no combate às mudanças climáticas. Lutar por justiça social também é outro meio de lutar por justiça climática, porque a população periférica, negra e indígena, atualmente, já é impactada com as mudanças climáticas, e a previsão é de que seja cada vez mais, apesar de contribuir muito pouco com as emissões de gases poluentes.
OP - É possível se manter otimista na luta climática?
Sarah - Admito que vem sendo bem difícil manter a esperança nos tempos atuais, mas tento sempre renovar meu ânimo a partir da atuação de pessoas inspiradoras. E também sempre relembrando que não estou sozinha, mas que são milhões de jovens que também estão lutando por justiça climática.
Crise climática em dados
2,8° C mais quente
é o que deve acontecer com a Terra até 2100 caso todas as metas atuais sejam cumpridas. Porém, diante das crescentes emissões, o planeta caminha para um aumento de 3,2°C
9 dos 10 meses mais quentes
da história do planeta Terra foram os meses de janeiro a setembro de 2021
20 centímetros
é o quanto os níveis globais do mar aumentaram de 1900 a 2018, com uma taxa acelerada de 2006 a 2018
8 em cada 10 países
mais afetados por eventos extremos são países de renda baixa ou média-baixa
475 mil pessoas
morreram entre 2000 e 2019 em mais de mais de 11 mil eventos climáticos extremos em todo o mundo
Nove bairros
de Fortaleza já têm alta vulnerabilidade às consequências das mudanças climáticas, tanto pela deficiência de infraestrutura quanto pela alta densidade populacional. São eles: Cristo Redentor, Pirambu, Jacarecanga, Moura Brasil, Cais do Porto, Edson Queiroz, Aeroporto, Demócrito Rocha e Bonsucesso
Fontes: Climate Action Tracker; NOAA; Unidos na Ciência 2021; Índice de Risco Climático Global; Plano Local de Ação Climática de Fortaleza
Aquecimento Global e Mudanças Climáticas
Recentemente, as expressões "aquecimento global" e "mudanças climáticas" ganharam espaço na mídia como grandes desafios da humanidade para este século. O que significam e que mensagens procuram transmitir?
A Terra tem uma idade estimada em 4,5 bilhões de anos e, por ser muito antiga, já experimentou várias mudanças de temperatura em sua superfície. No período dominado pelos dinossauros, 235 a 65 milhões de anos atrás, a temperatura da Terra era mais quente do que hoje. Por sua vez, na última Era do Gelo, 75 a 12 mil anos atrás, a Terra estava fria com 30% de sua superfície coberta de gelo. Assim, sabemos que a temperatura da superfície da Terra não é constante, que ela mudou e continuará mudando ao longo de sua existência.
As mudanças de temperatura pretéritas ocorreram de forma natural, todavia agora nós estamos induzindo. De 1850 a 2019 a temperatura da superfície da Terra subiu 1,1ºC. A Terra aqueceu, e os cientistas foram em busca da causa.
As forças que podem levar mudanças à temperatura da superfície da Terra estão relacionadas à quantidade de energia enviada pelo sol, alteração na órbita da Terra em torno do sol, mudança na inclinação do eixo de rotação da Terra, atividade vulcânica e alteração na concentração de gases de efeito estufa (GEE) na atmosfera. Todas essas forças foram investigadas por centenas de cientistas de vários países, conhecidos pelo acrônimo IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas) da ONU.
Nos dois últimos relatórios de avaliação do clima (AR5/2013 e AR6/2021), o IPCC apontou com alta confiança para elevação na concentração de GEE como a causa do aquecimento global. Isso intensifica o efeito estufa já naturalmente existente na Terra e também impele outros elementos do sistema climático, incluindo mudanças nas características da precipitação e eventos climáticos extremos. Essas alterações no clima combinadas chamamos de mudanças climáticas.
As evidências são mostradas em números e gráficos publicados em revistas científicas e nos Relatórios do IPCC. Mas, para o cidadão comum não é fácil perceber, entender e acreditar em mudanças climáticas. Talvez, o indicador mais tangível seja o degelo observado em todos os cantos da Terra. O fato é que as mudanças climáticas são inequívocas, a participação humana é clara, e os impactos atingem todos os aspectos de nossas vidas e das outras espécies. Estamos mexendo em algo complexo, a Terra, e não temos gerência sobre seu funcionamento.
Incongruências
Apesar dos compromissos de neutralidade de emissões, o mundo ainda planeja produzir em 2030 mais que o dobro da quantidade de combustíveis fósseis que seria consistente com a limitação do aquecimento global a 1,5°C. O dado foi divulgado pelo Unep na última semana.
Disparidade
O 1% mais rico da população mundial emite o dobro de gases do efeito estufa que a metade mais pobre do planeta. O dado é da Oxfam, que analisou emissões entre 1990 e 2015.
"Combustível do futuro"
Apostando na transição energética, o Ceará tem investido no hidrogênio verde. O combustível deve começar a ser produzido no Estado em dezembro de 2022, por meio da usina que será construída no Pecém.