Logo O POVO+
Como o colonialismo prejudica a ciência
Ciência e Saúde

Como o colonialismo prejudica a ciência

Disputa internacional
Edição Impressa
Tipo Notícia

É um engano acreditar que não faz mal que 97% dos dados paleontológicos estejam concentrados no norte global. É preciso questionar não só a ausência de pesquisadores locais, mas também como os países tiveram acesso aos fósseis estudados. Em dezembro último, o Museu do Plácido Cidade Nuvens anunciou que 487 fósseis brasileiros foram devolvidos ao Cariri apenas em 2021; deles, 237 foram recuperados por meio da operação Santana Raptor, da Polícia Federal.

Na última terça-feira, 8, 21 fósseis apreendidos durante inquéritos da Polícia Federal (PF) iniciados desde 2011 foram entregues ao Museu de Paleontologia da Universidade Regional do Cariri (Urca). A Justiça Federal autorizou a devolução das peças, que integram o patrimônio da União e são de comercialização proibida. O chefe da Delegacia de Polícia Federal em Juazeiro do Norte, Denis Colares de Araújo, ressaltou que os fósseis, pelo Artigo 25, parágrafo 4º da Lei de Crime Ambiental, são "produtos não perecíveis e deverão ser doados a instituições culturais ou educacionais, sendo esse o caso da Urca".

"O tráfico de fósseis frequentemente estimula a coleta não controlada de fósseis. Uma coleta mal feita, sem dados geográficos corretos, informações estratigráficas e/ou do contexto, faz com que o fóssil seja pouco informativo ou, inclusive, vire um problema", destaca ao O POVO a coautora do artigo, paleontóloga brasileira Aline Ghilardi. Segundo ela, erros de localização podem "levar décadas para serem corrigidos e, frequentemente, são pesquisadores locais que vão ter que acabar dedicando o seu tempo a fazer essas correções".

Outro empecilho são as modificações que os fósseis costumam ser submetidos para aumentar o valor financeiro das peças. "Isso pode dificultar ou atrasar o trabalho dos paleontólogos ou mesmo gerar interpretações errôneas por parte deles, como já aconteceu algumas vezes, inclusive com um fóssil brasileiro, o espinossaurídeo do Araripe, Irritator challengeri. Novamente, isso gera ruídos para a Ciência, ou "dados ruins" que podem levar muitos anos para serem corrigidos", exemplifica.

Quanto à falta de diversidade e representatividade de autores, o problema está na não pluralidade de ideias. Mesmo em fenômenos naturais, diferentes perspectivas são necessárias para ampliar as interpretações e hipóteses.

Com a pesquisa, as autoras esperam impulsionar a discussão sobre decolonização científica e sugerem o desenvolvimento de colaborações "mais equitativas, éticas e sustentáveis, baseadas na confiança e respeito mútuos, que não apenas considerem, mas priorizem as necessidades e interesses das populações locais". ›(Colaborou Marília Serpa)

O que você achou desse conteúdo?