Com a promessa de melhorar a performance física, dar mais foco e energia, além de favorecer o emagrecimento, os cafés blindados têm ganhado espaço nas residências dos brasileiros. Mais do que cafeína, a composição desses produtos conta com uma variedade de ingredientes de diferentes origens. Substâncias como taurina, carnitina, colina e cromo podem ser adicionados, além de canela, pimenta e óleo de coco surgirem como diferencial de sabor em algumas das bebidas mais comuns neste contexto.
Para entregar ao consumidor o resultado prometido, os chamados "supercafés" são ofertados no mercado com preço elevado em comparação ao café comum. Dependendo do fabricante, uma embalagem com 220 gramas da bebida solúvel pode chegar a até R$ 153, enquanto o preço de pacote de 500 gramas de um café comum gira em torno de R$ 8. Apesar disso, a bebida "turbinada" ganhou destaque nas redes sociais, principalmente entre influenciadores digitais do meio fitness, gerando interesse do público em geral.
Criado por dois amigos que amam café, o Power Focus é uma entre as bebidas turbinadas do mercado brasileiro. A marca pretende entregar aos consumidores um produto "limpo", com apenas quatro ingredientes, que são: café premium liofilizado, leite de coco em pó, sal rosa do Himalaia e TCM, que é o triglicerídeo de cadeia média.
“Nosso diferencial em relação aos demais é que o nosso rótulo é limpo, diferente dos outros que contém conservantes e adoçantes artificiais, por exemplo. Por isso ele tem um teor maior dos ingredientes principais, porque não tem diluição com outros componentes, explica o sócio idealizador do Power Focus, Sérgio D'Urso Júnior.
Com duas versões do produto, o Power Focus promete aumento de foco, disposição e performance mental sem adição de estimuladores que podem causar picos de energia passageiros. Segundo os fabricantes, o consumo da bebida pode ainda aumentar a sensação de saciedade e ser consumida durante a prática de jejum intermitente. No site, um pack de 220 gramas do produto está sendo vendido por R$ 99.
A dose diária recomendada da bebida, no entanto, é de, no máximo, duas vezes ao dia. “Tomando em excesso pode ser que a pessoa sinta arritmias, aquela sensação de muita cafeína no organismo. Além disso, mesmo sendo produzido com uma gordura de boa qualidade, não é recomendado o consumo excessivo de nenhum tipo de gordura”, alerta Sérgio.
Já o Ultra Coffee promete otimizar e aumentar os benefícios do café para a performance no esporte e melhora nas funções cognitivas a partir de composição 100% vegetal e livre de qualquer aditivo artificial. "Muitos produtos presentes no mercado possuem diversos ativos sem eficácia comprovada para os fins que se propõe, além de estarem presentes nas formulações em doses ineficazes, o que na ciência chamamos de dose-placebo'', afirma Rodrigo Carvalho, sócio-fundador da Positive Brands.
Ainda com a proposta de entregar um produto vegano, sem adição de ingredientes de origem animal, o Power Coffee é um produto com 24 ingredientes entregues em uma base de TCM puro, conforme o diretor criativo e fundador da Pura Vida, Flávio Passos. "Ele foi desenvolvido com substâncias que otimizam o sistema nervoso, entregando estímulos de forma constante e duradoura ao longo das horas. É um nootrópico cognitivo, com atuação direta na otimização da atenção, do foco, da fluência verbal, e da produtividade no trabalho, nos estudos ou em qualquer atividade que demande performance mental", explica.
Para a nutricionista Larissa Neves, tais bebidas por si só não representam riscos. Afinal, tratam-se de cafés adicionados de alguns ingredientes que, em tese, promovem mais energia. “As contraindicações são as de sempre: grávidas e lactantes, pois precisam sempre de indicação médica. É importante estar atento a pessoas que têm ansiedade, taquicardia ou alguma doença coronariana, pois, nesses casos, não é indicado o uso de nenhum pré-treino”, disse.
Larissa aponta ainda que a dosagem da maioria desses produtos é baixa em relação à necessidade diária de uma pessoa adulta saudável. Portanto, muitas vezes o efeito na saúde e na disposição é super-estimado pela indústria. A especialista afirma que, com ingredientes parecidos e mais baratos, é possível fazer uma versão caseira da bebida, com café, canela e pimenta, por exemplo.
Quando se fala em emagrecimento, ela alerta para o risco do déficit calórico — ou seja, consumir menos calorias que o corpo gasta —, que é o caminho utilizado por parte dos usuários devido à sensação de saciedade oferecida pelo produto. “Os supercafés possuem em torno de 55kcal por dose, enquanto o café comum 2kcal, além de terem uma quantidade considerável de gordura por dose (5g)”, explica.
A nutricionista ressalta ainda que qualquer produto que seja usado sem acompanhamento profissional e em grandes quantidades ou tempo, podem causar algum tipo de malefício. “O interessante é um acompanhamento profissional para que, de forma individualizada e segura, seja visto a melhor forma para uso do produto”, afirma.
O síndico profissional Willame Gomes, de 37 anos, conheceu o produto tanto por meio da internet quanto por indicação de amigos que já tomavam a bebida. Há cerca de dois anos ele consome o Super Coffee e afirma que tem tido o resultado esperado. “Quando tomo fico mais atento, mais disposto, raciocino melhor”, relata.
Para ele, o investimento vale a pena porque a entrega de resultados vai além da melhora em desempenho físico. “Como eu tenho muitas reuniões à noite, algumas vezes eu tomo para melhorar minha atenção, concentração e ter um pensamento mais rápido”, disse. Willame ressalta ainda que não costuma consomir cafés blindados mais de uma vez durante o dia, mas a bebida faz parte da sua rotina diária.
Já para a graduanda em ciências contábeis Ana Jéssica Torres admite que a experiência dela não foi bem sucedida e o café blindado testado não trouxe o resultado esperado. “Tomei por três meses, não senti uma disposição maior, muito menos auxílio no emagrecimento. Ele é um café com alguns 'condimentos'. O sabor é bom, mas nada que tenha superado minhas expectativas”, admite.
Jéssica afirma ainda que parou de consumir a bebida porque passou a sentir desconforto gástrico excessivo, incluindo náuseas, diante da carga de substâncias novas que consumia com a bebida. Além disso, segundo ela, o investimento financeiro não valeu a pena. “Com o café tradicional obtenho os mesmos resultados e não sinto efeitos colaterais, além de gastar bem menos”, disse.
Criada por David Asprey, empresário norte-americano de tecnologia, a receita original de café blindado apostava na combinação da cafeína com gorduras. Autor do livro "The Bulletproof Diet" ("A dieta à prova de balas", em inglês).
A ideia do Bulletproof Coffee ("café blindado", em tradução do inglês), no entanto, surgiu em uma viagem ao Tibete. Foi lá que o empresário conheceu uma bebida típica da região, o po cha, uma mistura de chá com manteiga — a receita tradicional traz chá de Pu-erh, manteiga feita com leite de iaque, água e sal. Ele ficou intrigado com o fato de que depois de tomar a bebida, manteve sua disposição física mesmo após longas caminhadas, mesmo a mais de 4 mil metros acima do nível do mar.
De volta ao ocidente, Asprey começou a investir no desenvolvimento de uma versão própria do café com manteiga tibetano. O objetivo, era criar algo que pudesse promover, ao mesmo tempo, um aumento da atividade cerebral, enquanto mantivesse o organismo bem alimentado para aguentar a demanda física. Assim, surgiu a receita e ele fundou a empresa de mesmo nome, lançou o Bulletproof Coffee (café à prova de bala ou café blindado).