O silêncio é uma das principais marcas da diabetes. Ela se manifesta por meio de sintomas que podem passar despercebidos, como urina, fome e sede em excesso ou perda de peso. A doença, no entanto, já atinge mais de 537 milhões de adultos em todo o mundo, conforme o Atlas Mundial do Diabetes de 2021. No recorte da América Central e do Sul, a Federação Internacional de Diabetes aponta que um a cada três adultos vivem com a doença, mas ainda desconhecem o diagnóstico.
No Brasil, presume-se que 46% das pessoas entre 20 e 79 anos, que vivem com a doença, também desconhecem o diagnóstico. Devido à falta de informações sobre a doença e de políticas públicas para o diagnóstico precoce no Sistema Único de Saúde (SUS), o número tende a aumentar.
A presidente da Associação Cearense de Diabéticos e Hipertensos (ACEDH), Natasha Alencar, explica que é urgente a busca do diagnóstico precoce da doença para evitar futuras complicações de pacientes que não sabem que possuem a patologia, assim como a inclusão de políticas para aumentar o diagnóstico. “É muito importante sempre procurar um médico para que ele solicite os exames de diagnóstico, que é a hemoglobina glicada. Esse exame que faz o diagnóstico de diabetes no paciente. É muito importante também a busca por um endocrinologista, a consulta com um médico especialista para saber o melhor esquema terapêutico para cada paciente.”
Dentre outras medidas destacadas pela presidente da ACEDH, está a inclusão do procedimento de medição de glicose na porta de entrada do protocolo de atendimento de urgências e emergências do Sistema Único de Saúde (SUS). “É um parâmetro para o médico para a definição do que pode ser seguido no tratamento da pessoa. Que o paciente quando ele passar mal, ele vá até uma Unidade Básica de Saúde ou Samu, e que esse teste seja feito nos primeiros atendimentos”, pontua.
Além disso, a busca incorreta por informações sobre diabetes pode gerar dúvidas e atrapalhar o tratamento. De acordo com levantamento feito pela Federação Internacional de Diabetes (IDF, na sigla em inglês), um em cada cinco resultados de buscas sobre a doença no Google apresenta informações imprecisas sobre a doença. Em alguns casos, há indicações de terapias não comprovadas para o tratamento e indicação de remédios caseiros.
Em Fortaleza, a Associação Cearense de Diabéticos é um guia para auxiliar as pessoas na busca por informações e orientações de forma segura sobre a doença. Localizada no bairro Jardim América (rua Delmiro de Farias, 137), a associação, além de prestar informações sobre diabetes de forma segura, também auxilia na busca por medicamentos quando há um déficit na rede pública de saúde para quem faz o tratamento da doença e necessita dos remédios.
A biomédica Rivanha Soares Pinto Saraiva alerta que o diabetes, quando não tratado, traz várias complicações ao paciente, resultando em outras doenças secundárias. A patologia não tratada pode gerar ao paciente ainda a doença na sua forma mais grave e progressiva, sendo caracterizada por outras doenças, muitas vezes irreversíveis, tais como: retinopatia, neuropatia, acidente vascular cerebral, cardiopatias, nefropatia, doença vascular periférica evoluindo para amputação.
A Associação de Diabetes Juvenil (ADJ) Brasil explica que a diabetes é uma doença crônica que faz com que o corpo não produza insulina ou não consiga usar a insulina de forma adequada. A insulina é o hormônio responsável por controlar a glicose no sangue. Ela é a principal fonte de energia do organismo. Existem quatro tipos de diabetes, mas as mais comuns são do tipo 1 e 2. Além delas, existem a Diabetes Gestacional e Pré-Diabetes.
(Fonte: ADJ Brasil)
Conforme a Associação de Diabetes Juvenil (ADJ), todos os tipos de diabetes têm sintomas semelhantes, que são consequência do excesso de glicose no sangue. Esse acúmulo acontece porque o organismo não consegue enviar a glicose até as células, para que produzam a energia necessária para executar as suas funções. Quando os sintomas aparecem, é necessário buscar ajuda médica. Os principais são:
No caso de diagnósticos do tipo 1, que em geral ocorrem na infância ou início da adolescência, a aceitação tende a ser maior, pois é algo que faz parte do cotidiano da pessoa. A técnica em segurança do trabalho Bruna Castro, 30, conta que o diagnóstico dela foi bem precoce, quando tinha 5 anos. Na época, os primeiros sintomas observados pelos pais foram urina em excesso, sede excessiva, perda de peso e irritabilidade. Após a consulta médica, foi constatado diabetes tipo 1.
“A minha glicemia, como criança, já estava 490. De lá para cá, eu passei a tomar insulina de forma independente, como tratamento. No entanto, nem sempre eu tive acesso às informações. Era algo informal, apenas tomava a insulina. Na adolescência, eu achava que entendia a doença e apenas tinha na cabeça que diabéticos não podiam comer doce. E vivia minha vida sem restrições, comia tudo e aplicava a insulina”, lembra.
O cenário da doença na vida de Bruna mudou após uma complicação, em novembro de 2021, quando foi diagnosticada com retinopatia diabética. É uma doença que afeta os pequenos vasos da retina, região do olho responsável pela formação das imagens enviadas ao cérebro. “Meu olho direito parou e quando eu fui pesquisar eu tinha tido a hemorragia nos dois olhos e precisei fazer uma cirurgia chamada vitrectomia, que é a cirurgia de retina dos olhos”, conta.
Segundo Bruna, a ficha sobre a importância da doença caiu após o surgimento da complicação. “Diabetes realmente é uma doença silenciosa. Foi a partir disso que eu comecei a pesquisar, que eu descobri que existia a contagem de carboidratos, que diabéticos não eram restritos apenas a doce, mas que o carboidrato também é um vilão porque vira açúcar no sangue. Mas a minha vida mudou para melhor. Embora hoje eu tenha algumas limitações, eu sou mais consciente, mais saudável e mais segura porque eu sei lidar com a doença e o controle dela”, pontua.
No caso da técnica em enfermagem Rosa Sousa, 22, portadora de diabetes tipo 1, o diagnóstico veio aos 10 anos. Os primeiros sinais da doença vieram após ela entrar em coma, com cetoacidose diabética. A perda de peso está entre as principais formas de alerta, como no caso de Rosa, que chegou a ficar sem andar porque não tinha peso suficiente. Além disso, outros sintomas surgiram: fome, sede e urina em excesso.
“Perdi cerca de dez quilos em uma semana. Quando eu entrei em coma, foi quando eu recebi o diagnóstico da doença, de tipo 1. Foi muito difícil para mim no início porque eu não tinha acesso a nada, nenhuma informação sobre a doença. Mas eu recebi um suporte muito bom. Fui na nutricionista e psicólogo para aceitar a doença e o tratamento. Hoje em dia, eu faço tratamento de analisis de insulina do tipo rápido e lento, tomo canetas de insulina durante o dia”, conta.
Desde então, Rosa conta que sua vida tomou outros rumos de cuidados com a saúde, principalmente para controlar a diabetes e evitar complicações da doença. A introdução de uma boa alimentação, a prática de exercícios físicos e o cuidado com a saúde mental são os principais cuidados na vida da técnica de enfermagem.
- Retinopatia Diabética
É a complicação da doença que atinge os olhos. Pode ser apresentar, inicialmente, de forma não proliferativa, com os vasos do fundo do olho danificados, causando hemorragia e vazamento de líquido da retina. Também é detectada de forma proliferativa, quando os vasos da retina ou nervo óptico não conseguem levar os nutrientes para o fundo do olho, causando a formação de vasos anormais. A retinopatia pode levar à perda de visão.
- Nefropatia Diabética
É uma alteração nos vasos sanguíneos dos rins, levando à perda de proteína através da urina ou à paralisação total dos rins, que filtram substâncias necessárias ao bom funcionamento do corpo.
- Insuficiência Cardíaca
Complicação que acontece quando o coração não consegue bombear sangue suficiente para todo o corpo. É uma doença de potencial risco de morte.
- Neuropatia Diabética
Enfermidade que gera danos aos nervos especialmente nos pés, deixando o local sensível ou com deformidade. Também podem ocorrer alterações nos vasos sanguíneos e no metabolismo causando danos aos nervos periféricos. Além disso, a glicemia alta compromete o metabolismo de várias células, principalmente dos neurônios.
(Fonte: Associação de Diabetes Juvenil - ADJ Brasil)
Atualmente, uma petição pública online busca a inclusão do teste de ponta de dedo, o procedimento de medição de glicose, na porta de entrada do protocolo de atendimento de urgências e emergências do Sistema Único de Saúde (SUS). A iniciativa é da Coalizão Vozes do Advocacy, em parceria com diversas entidades que buscam o diagnóstico precoce das diabetes no Brasil.
A Federação Internacional de Diabetes informa que, atualmente, cerca de 42,9 bilhões de dólares são gastos com o tratamento do diabetes e suas complicações no País, e boa parte deste valor poderia ser economizado com o diagnóstico precoce.
“Nossa expectativa é ampliar os diagnósticos precoces, reduzindo os riscos de complicações destes pacientes e, por consequência, reduzindo o impacto do Sistema Único de Saúde por internações e hospitalizações, desonerando seus custos”, disse Vanessa Pirolo, coordenadora da Coalizão Vozes do Advocacy em Diabetes e Obesidade.
O objetivo da petição é buscar o apoio popular a partir de assinaturas para sugerir ao Ministério da Saúde (MS) a inclusão do procedimento de medição de glicose na porta de entrada do protocolo de atendimento de urgências e emergências do Sistema Único de Saúde. A petição pode ser acessada no portal: www.vozesdoadvocacy.com.br.