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Harmonização facial: entre a padronização de rostos e a individualização da beleza
Ciência e Saúde

Harmonização facial: entre a padronização de rostos e a individualização da beleza

Famosos com rostos "harmonizados" repercutem diariamente nas redes sociais, sobretudo nos últimos anos. Mas o preenchimento facial já era feito muito antes do termo se se propagar
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A busca por um rosto transformado de forma relativamente rápida e sem procedimentos cirúrgicos invasivos têm aumentado. O objetivo da harmonização facial, como o próprio nome diz, é "equilibrar" as proporções da face. Para isso, os profissionais utilizam substâncias para preencher alguns pontos, como a região da mandíbula e da boca.

O resultado da harmonização facial de famosos frequentemente repercute nas redes sociais. Algumas vezes, contudo, de forma negativa. Não raro, os pacientes buscam desfazer a intervenção ou atenuar os resultados. O fenômeno esbarra em questões como a padronização da beleza e o exagero na mudança.

Elisete Crocco, coordenadora do Setor de Acne, Laser e Cosmiatria da Clínica de Dermatologia da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo e coordenadora do Departamento de Cosmiatria da Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD), destaca que, antes da popularização do termo “harmonização”, esse tipo de procedimento — utilizando o preenchimento para o reposicionamento dos tecidos da face — “é feito pela dermatologia há muito tempo”.

Preenchimentos no rosto substituem procedimento mais invasivos como cirurgias plásticas (Foto: FREEPIK)
Foto: FREEPIK Preenchimentos no rosto substituem procedimento mais invasivos como cirurgias plásticas

“Colocamos a substância em um ponto para projetar a estrutura, aumentar volume, diminuir movimento de músculos muito fortes. Redesenhar com o objetivo de melhorar e repor aquilo que o paciente foi perdendo ou que incomoda”, detalha.

Segundo a dermatologista, “a grande crítica que se faz é que ficou feio esse padrão de pessoas esquisitas e iguais”. “Mas sempre foi a mesma coisa, o preenchimento facial. É muito sobre a leitura do injetor. Tem mais a ver com conceitos”.

Para Elisete Crocco, “é quase uma arte unir a anatomia e o injetável”. Segundo ela, uma das substâncias mais usadas é o ácido hialurônico em quantidade moderada para repor um tecido de gordura conforme o envelhecimento acontece.

“A palavra da vez é naturalidade. Menos é mais”, resume Eliza Minami, cirurgiã plástica com graduação, residência médica, mestrado e doutorado pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e membro titular da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica, onde é coordenadora da cadeira de cosmiatria.

Além da naturalidade, outra tendência é diminuir o uso do preenchimento e associar o procedimento com o uso de tratamentos para o estímulo de colágeno. “A gente quer a pele mais firme, de melhor qualidade, mais jovial com tecnologias, principalmente o uso de radiofrequência microagulhada e ultrassom microfocado”, detalha Eliza Minami.

“E o uso de bioestimuladores de colágeno injetável, que são basicamente a hidroxiapatita de cálcio e ácido polilático. Além disso, temos os fios à base de PDO (polidioxanona), que fazem o estímulo do colágeno, ou fios com associação de caprolactona e ácido polilático”, completa.

 

 

Entenda como funciona o procedimento

A cirurgiã plástica Eliza Minami identifica as substâncias utilizadas para realizar o preenchimento, que podem ser aplicadas com agulha ou cânula. “Nós aplicamos produtos sintéticos ou não sintéticos — que são os autólogos, no caso, a gordura — abaixo da pele em planos mais superficiais ou mais profundos. Ou até em plano supraperiostial (próximo ao osso)”.

A substância autóloga, como a gordura do próprio organismo, é obtida através de uma pequena lipoaspiração. Também podem ser utilizados produtos sintéticos, que podem ser classificados em absorvíveis e não absorvíveis.

Cada rosto tem necessidades diferentes e isso precisa ser respeitado por profissionais e clientes, de acordo com especialistas. (Foto: Eugene Barmin/Freepik)
Foto: Eugene Barmin/Freepik Cada rosto tem necessidades diferentes e isso precisa ser respeitado por profissionais e clientes, de acordo com especialistas.

A médica diferencia que, entre os absorvíveis, há basicamente os polímeros, do qual o principal é o ácido hialurônico, mas também a caprolactona e a hidroxiapatita de cálcio. Entre os não absorvíveis, há o silicone (DMSO) e o PMMA (polimetilmetacrilato). “Esses produtos sintéticos não absorvíveis nós não indicamos, condenamos o uso porque podem acarretar complicações a longo prazo de difícil resolução”, alerta Eliza Minami.

Conforme Eduarda Diógenes, odontóloga formada pela Universidade de Fortaleza (Unifor) e especialista em Harmonização Orofacial pela Harvard, “as quantidades, o tipo de produto e os locais da face são mensurados pelo profissional”.

Uma das regiões mais demandadas é a região malar — ou zigoma —, que define a maçã do rosto. “É um dos desejos de todo mundo, principalmente as modelos têm a maçã do rosto bem desenhada. Quando a gente valoriza essa região do malar, a gente consegue obter uma curva chamada ogee curve, que é a linha da beleza. Você vê uma região côncava, convexa, côncava”, descreve Eliza Minami.

Ela detalha que, para a região do malar, existem algumas técnicas de sustentação. “A gente faz na região malar mais lateral e mais posterior na região temporal que vão fazer o efeito lifting, que vai sustentar e levantar o rosto. Muitas vezes, a gente vai ter a sensação de emagrecimento do rosto, ele fica mais fino por causa dessa técnica.

Uma queixa frequente é o "bigode chinês" — os vincos entre o nariz e o lábio (sulco nasogeniano) e os vincos entre o bigode e o queixo (sulco labiomentual).

Naturalidade é a nova tendência no mundo dos procedimentos estéticos(Foto: Yeko Photo Studio)
Foto: Yeko Photo Studio Naturalidade é a nova tendência no mundo dos procedimentos estéticos

“Uma área que a gente trabalha bastante é o contorno mandibular. Quando fica mais flácido, com o envelhecimento, a gente começa a ter um descenso das estruturas e o rosto e o pescoço vão se juntando. A gente perde esse contorno mandibular e essa moldura da mandíbula”, explica a cirurgiã plástica.

A região do mento, o queixo, também é alvo dos procedimentos: “Algumas pessoas têm uma retrusão do queixo, o queixo menor, mais para trás. Esse alinhamento do queixo com o nariz, visto de perfil, dá uma boa harmonia e embelezamento do rosto”. Outra área comumente preenchida atualmente é a região dos lábios, assim como a das olheiras.

“A região dos olhos é a primeira a envelhecer. O degrau debaixo dos olhos a gente pode preencher com umas gotas de ácido hialurônico. No nariz também pode ser feito o preenchimento em algumas situações. E a região temporal também, a gente pode ter uma atrofia temporal de acordo com o envelhecimento. O preenchimento na região lateral e mais próximo a sobrancelha também aumenta a abertura do olhar”, descreve.

 

Áreas do rosto humano com intervenções estéticas mais comuns

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Padronização versus individualidade

Eliza Minami, cirurgiã plástica com doutorado pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e membro titular da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica, destaca que os pacientes devem ser tratados de forma individual, mas acrescenta que há certo “modismo”.

“Assim como na cirurgia plástica, com as próteses de mama, todo mundo queria próteses muito grandes. Atualmente, a moda mudou, as pessoas querem mamas menores e a gente utiliza próteses menores. Até pacientes querendo fazer o explante mamário, tirar as próteses”, exemplifica.

Ela afirma que antes utilizava-se uma grande quantidade de preenchedores no rosto. “Ainda existem profissionais que fazem isso. Mas esse exagero tem levado muitas pessoas, inclusive, a fazer a reversão desses tratamentos”, diz.

Novos padrões de beleza precisam estar em discussão constante entre profissionais e clientes(Foto: FaustFoto)
Foto: FaustFoto Novos padrões de beleza precisam estar em discussão constante entre profissionais e clientes

Segundo Eduarda Diógenes, “cada face terá necessidades diferentes, grau de flacidez diferente” e que os objetivos precisam ser muito bem alinhados entre o paciente e o profissional.

“Hoje, a gente vê na mídia as pessoas seguindo um padrão de beleza e algumas delas até se arrependendo por padronizar daquele formato o rosto. A gente tem que lidar com isso no consultório de uma forma muito tranquila no sentido de alinhar com o paciente o que é bom para a face dele e o que não é. Alguns padrões vão se encaixar muito bem e outros não vão”, afirma.

Para a odontóloga, é importante “mostrar que aquele caminho é melhor para o tratamento dele e que ele pode, sim, realçar a beleza natural sem perder sua própria identidade”. Ela destaca que “o cliente vai ter que contar muito com o senso estético do profissional, com os profissionais que têm experiência para dizer até aonde é bom para cada face”.

 

 

Quais os possíveis riscos da intervenção e as contraindicações

A cirurgiã plástica Eliza Minami afirma que um risco é o resultado insatisfatório relacionado à falta de planejamento, como o uso de quantidade insuficiente de produto para obter determinado objetivo. “Não dá pra pintar a casa inteira com uma latinha de tinta. Você tem que adequar a quantidade de produto necessária para atingir aquele resultado”, compara.

“Outra coisa são expectativas irrealistas do paciente. Às vezes, ele tem a expectativa de conseguir com aquele tratamento um resultado similar ao de uma cirurgia plástica, o que não é verdadeiro”, diz.

Também existem os riscos inerentes aos procedimentos que são as complicações imediatas/precoces e as tardias, distingue Eliza Minami. Dentre os efeitos adversos mais frequentes, estão o inchaço (edema) e o hematoma. Das complicações tardias mais frequentes, temos os nódulos e alguma inflamação crônicas, que são os granulomas.

“Dentre as complicações mais graves, pode ter a vascular, que é uma complicação precoce, que a gente pode ter decorrente de uma compressão extrínseca ou uma obstrução do vaso daquela região em que está nutrido o tecido pelo preenchimento. O preenchimento pode entrar dentro do vaso ou comprimir aquele caso e aquela região tem circulação necessária e pode evoluir para um sofrimento tecidual e até necrose, morte do tecido”, pormenoriza.

Não é indicado que grávidas, lactantes, pessoas com doenças autoimunes, como lúpus, alergias ao produto a ser aplicado realizem a harmonização facial, além de pacientes ainda em fase de crescimento. Elisete Crocco alerta que se o paciente estiver com qualquer quadro infeccioso, também não pode fazer. “Mesmo resfriado pode induzir o paciente a ter reações ao preenchedor”.

 

 

Complicação imediata/precoce

- Vascular

- Nódulos

- Hipercorreção

- Visibilidade do implante

- Angioedema

- Edema

- Eritema

- Hematoma

 

Complicação tardia

- Eritema e telangiectasias

- Hipercorreção/visibilidade do implante

- Edema (ETIP)

- Nódulos

- Granulomas

 

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