Foi uma consulta de rotina que levou Maria do Socorro, de 63 anos, a descobrir um caroço cancerígeno na mama, em 2017. Ter detectado precocemente o nódulo, menor que um grão de arroz, permitiu que ela hoje pudesse contar, com a fé e a alegria estampadas na fala e no rosto, como se curou da doença.
Na campanha mundial do Outubro Rosa deste ano, o diagnóstico precoce do câncer mamário é reforçado como oportunidade de cura — uma vez que pode reduzir em até 90% a mortalidade pela patologia.
Quem aponta o percentual é Leandro Lacerda, médico cirurgião e mastologista que atende no Instituto do Câncer do Ceará (ICC). De acordo com o especialista, o câncer mamário pode atingir pacientes em qualquer idade, mas costuma ter maior incidência após os 40 ou 50 anos de vida.
O profissional explica que a doença afeta quase majoritariamente o sexo feminino, "em razão da produção diária dos hormônios estrogênio e progesterona após menarca Nome pelo qual é conhecido a primeira menstruação ". Segundo o profissional, o sexo masculino apresenta 1% dos casos gerais da patologia.
Para se ter uma noção, conforme Instituto Nacional do Câncer (INCA), houve 73.610 casos novos de câncer de mama em 2023 no Brasil, com incidência de 66,54 casos a cada 100 mil mulheres. A doença ocupa a primeira posição em mortalidade por câncer no sexo feminino no País, com taxa de mortalidade ajustada por idade, pela população mundial, para 2021, de 11,71/100 mil (18.139 óbitos).
Lacerda aponta que o câncer de mama "depende de vários fatores para se desenvolver", dentre eles os genéticos, "que representam de 5% a 10% de todos os casos". Ou seja, se a paciente tem histórico da patologia entre parentes de primeiro grau, ela corre um risco hereditário de desenvolver também. Existem, inclusive, exames genéticos para determinar maior risco.
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Além disso, a idade avançada e situações como menopausas tardias — consideradas "não modificáveis" —, podem interferir para o surgimento de tumores mamários. Uso de bebida alcoólica, cigarros ou alimentação desregulada, além de precedentes modificáveis (ambientais), também ocasionam esse efeito.
"(O câncer mamário) É deflagrado por algum fator gatilho, que gera uma mutação na célula e começa a proliferação desordenada de células malignas", explica o mastologista.
Já em relação aos sintomas, Lacerda pontua que, apesar de poder ter manifestações, muitas vezes o tumor cancerígeno pode agir em silêncio, aparecendo de forma visível apenas quando atinge um tamanho avançado. Em casos como este, a paciente pode chegar até mesmo a precisar retirar a mama.
Nesse sentido, identificar o nódulo no estágio inicial se torna o meio mais eficaz de combate-lo. O médico cirurgião frisa que o diagnóstico precoce pode chegar a reduzir em 90% a mortalidade da patologia. Índice, de acordo com ele, é um média apontada em estudos sobre a extensão da doença.
"A importância do diagnóstico precoce nada mais é do que você ter um auto índice de cura (...) Quanto mais cedo o diagnóstico, maiores são as chances de cura, maiores são as chances daquele tumor ser apenas local e não ter tido metástase (quando ele se espalha)", destaca o especialista.
O método mais popular para identificar nódulos nos seios precocemente é o autoexame, que consiste em observar alterações na mama por meio do toque. De acordo com o mastologista Leandro Lacerda, esse ato pode ser interessante por funcionar como "um sinal de alerta" de que algo não vai bem, mas ele não é o mais importante e nem deve ser o único meio a ser utilizado para detectar possíveis caroços.
"O autoexame não previne a doença, mas ele é uma das ferramentas que nós temos para a detecção precoce (do câncer)", destaca o médico. Ainda segundo o profissional, a realização de consultas de rotina e mamografias seguem sendo os principais métodos de identificação de doenças desse porte.
"Costumo dizer que o diagnóstico do câncer de mama é um tripé. Em primeiro lugar está a realização da mamografia no período recomendado, anualmente a partir dos 40 anos e em alguns casos a partir dos 30 ou 35 anos a depender dos fatores de risco (...) O segundo passo é a consulta com o especialista e o terceiro é o autoexame", destaca o médico.
Maria do Socorro viveu na pele a importância dos exames de rotina. Em 2017, a promotora de turismo, que à época tinha 58 anos, foi alertada após uma consulta com seu ginecologista de que algo não estava normal com seu corpo. O médico havia pedido uma mamografia e identificou um possível câncer.
Encaminhada para um mastologista Profissional que estuda e trata as patologias mamárias , a paraense, que há 18 anos vive no Ceará, realizou exames e teve o veredito: ela estava com um nódulo no seio direito no tamanho de sete milímetros, menor que um caroço de arroz.
"(O médico) Dizia 'eu não tô entendendo' (...) Eu não tô acreditando no que eu tô vendo'", conta Maria, rindo ao relembrar da forma como o profissional se espantou ao identificar um nódulo tão pequeno. Essa alegria com que hoje relembra a história foi a mesma usada por ela no caminho até a cura da doença.
Foram pelo menos cinco anos de procedimentos como radio e quimioterapia, cirurgia e comprimidos diários. Por ser um tumor agressivo, ainda que pequeno, o diagnóstico precoce foi um dos fatores que fez com que a fé e o sorriso que a paraense carrega no rosto não fossem em momento algum abalados.
"Eu reagi de uma maneira tão positiva, tão otimista, que eu não tive medo, não teve alarde, não chorei, não me descabelei (...) O diagnóstico precoce faz muita diferença no tratamento (...) Não temos que ter medo de fazer os exames, se acontecer de os exames mostrarem nódulo, procure imediatamente um mastologista", orienta ainda a paraense de 63 anos, que em 2022 alcançou a remissão da doença.
De acordo com Lea Dias, assessora técnica da Saúde da Mulher, da Secretaria de Saúde de Fortaleza (SMS), é fundamental tomar medidas para prevenir o surgimento da doença. A prevenção, segundo explica a profissional, passa por uma série de fatores como a adoção de hábitos mais saudáveis ao longo da vida.
"Além da detecção precoce do câncer mamário, prevenção contra o câncer de mama acontece por meio de hábitos a longo prazo, como manter uma alimentação saudável, praticar exercícios físicos, evitar bebidas alcoólicas e a exposição frequente à radiação presente em exames como Raio-X e tomografia", pontua.
Durante esse mês, onde é celebrada a campanha do Outubro Rosa, todas os 118 postos de saúde de Fortaleza vão estar recebendo mulheres para ações e orientações que buscam prevenir o câncer de mama. Conforme Dias, pacientes serão orientadas a realizar exercício físico e a manter um alimentação saudável, que segundo ela "são as duas principais forma de prevenir a doença".
Além disso, a SMS inaugurou recentemente o programa Segunda Opinião em seu serviço de telemedicina. De acordo com Lea, a iniciativa deve, dentre outras coisas, permitir que médicos mastologistas respondam dúvidas dos médicos da atenção primária, aumentando a resolutividade e a qualidade da assistência.
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Já o Governo do Ceará, por meio da Secretaria da Saúde (Sesa) e da Secretaria das Mulheres, deve realizar atividades de conscientização para prevenção do câncer mamário em locais públicos da Capital e do Interior. Também serão organizadas "palestras na Casa da Mulher Cearense, seminários com colaboradores e uma corrida a ser realizada no próximo dia 29 de outubro, na Avenida Beira Mar", diz, em nota.
Além disso, o Instituto de Prevenção de Câncer do Ceará (IPC) deve ter em sua programação mensal "palestras, teatro, atividades musicais e outras ações de cunho educativo" sobre o assunto. Instituição também deve ampliar a oferta de mamografias ao longo de todo o mês de outubro.
O Ministério da Saúde (MS) e o Instituto Nacional do Câncer (INCA) recomendam que todas as mulheres com idade entre 50 e 69 anos realizem mamografia com intervalos máximos de dois anos, ainda que não apresentem sintomas. Já para mulheres que pertencem a grupos com risco aumentado de desenvolver a doença — como aquelas com histórico familiar de câncer —, o recomendado é que seja realizado a mamografia anual a partir dos 35 anos de idade.
Conforme Lea Dias, o exame clínico das mamas pode ser realizado em todos os postos de saúde de Fortaleza. "É após esse exame que a paciente é direcionada ao agendamento da mamografia, exame de imagem que possibilita o diagnóstico precoce do câncer de mama", diz a profissional.
Além dos postos, os exames de prevenção ao câncer de mama podem ser realizados, por meio da Central de Regulação, nos hospitais e entidades de saúde:
Em caso de mulheres que estão em situação de vulnerabilidade e são usuárias do Sistema Único de Saúde (SUS) em Fortaleza, a Associação Nossa Casa vai disponibilizar 400 mamografias de forma gratuita. Serão contempladas pessoas do sexo feminino com mais de 40 anos. Para demostrar interesse pela realização do exame, é preciso que candidata preencha o formulário disponivel nas redes da entidade.