Você está indo ao supermercado, vida normal, e no meio do caminho se pergunta: "Onde estou? O que vim fazer?". Não, muito provavelmente você, mulher com mais de 40 anos, não está com nenhuma doença neurológica. A justificativa pode ser a mais natural possível: a função fisiológica do seu ovário, que começa com a primeira menstruação, está chegando ao fim. Não há idade certa, sintoma específico, tratamento único. O climatério não precisa ser tão doloroso e a principal estratégia para isso é a informação.
Tudo pode começar com leves alterações do ciclo menstrual - se era de 28 dias, passa a ser de 26 dias, por exemplo - e o primeiro hormônio a ter redução poderá ser a progesterona (produzido pelo ovário e necessário para gravidez). "A mulher então fica com sintomas de excesso de estradiol, mas ele não está alto. Na verdade, é a falta da progesterona", afirma a ginecologista especialista em Fisiologia do Envelhecimento Saudável, Joele Lerípio. É um emaranhado de hormônios e seus efeitos fisiológicos.
O estradiol é o hormônio que está no centro da perimenopausa e da menopausa. Além do impacto nas questões reprodutivas, o "querido" impacta no humor, na densidade óssea, na elasticidade da pele (o que inclui a vaginal), na distribuição da gordura corporal. "Antes da menopausa, a mulher tem a tendência de ter a gordura mais concentrada nos membros inferiores. Depois, com a perda, começa a ter um padrão androgênico (mais masculino), com gordura abdominal", detalha a endocrinologista Ana Flávia Torquato.
A perimenopausa é a primeira fase do climatério, que é transição entre as fases reprodutiva e não reprodutiva. Pode começar a partir dos 40 anos, com alguns sintomas, e se prolongar por anos. A menopausa propriamente dita só é definida quando a mulher está há 12 meses sem menstruar. As discussões, científicas e sociais, sobre este período da vida feminina avançaram. Há mais tratamentos, mais pesquisas, mais tecnologia, porém, há lacunas importantes: o diagnóstico tardio e a falta de informação.
Entre 70% a 80% das mulheres entram efetivamente na menopausa por volta dos 48 anos. Se for antes dos 40, é possível considerar a situação patológica. Cada mulher atravessa este momento de uma forma, portanto, não há receita que contemple todas. O número de folículos (estrutura que fica nos ovários e abrigam os óvulos) da mulher quando nasce pode até ser semelhante - de 1 a 2 milhões - mas a hora em que eles esgotam é mais desigual.
De acordo a endocrinologista Ana Flávia Torquato, os sintomas podem ser vasomotores, psicológicos ou neurológicos. Dos fogachos a névoa mental, a mulher pode apresentá-los já na perimenopausa. "Muitas não têm ideia que é isso e não tratam. A importância de reconhecer os sintomas é também para começar a discutir a reposição hormonal quando chegar o momento", afirma.
A especialista destaca que a atenção precisa vir também dos médicos ao considerarem que, mesmo sendo a menopausa um processo natural, pode ser tratado. "Eu recebo muitas mulheres que estão ganhando peso, ou que colesterol piorou. Mas a maioria não chega sabendo que é perimenopausa. Aí quando começamos a conversar, outros sintomas aparecem", afirmou.
A nutricionista, especialista em Saúde da Mulher, Fabiana Fontes, foi a primeira entre as
amigas da vida toda a compartilhar as sensações que a perimenopausa provocaram. Embora três das mulheres já tivessem passado por esta fase. Para Fabi, que começou a sentir mais cansaço, irritabilidade e diminuição da libido aos 44 anos, ter informações para se preparar e conversar com o marido e amigas foi fundamental.
“Comecei a observar que alguns hormônios começaram a ficar alterados. A testosterona diminuiu muito. Eu sabia que ia acontecer a chegada desse climatério. Comecei a ter insônia, acordava de madrugada do nada”, lembra. Começou então a acompanhar e pesquisar sobre o processo e, por atuar na Saúde, passou a dosar as taxas hormonais. “Sabia que esses sintomas não eram nutricionais”, frisa.
Fabi ainda não começou um Tratamento de Reposição Hormonal (TRH) sistêmico, fazendo uso apenas de testosterona, por enquanto, o que melhorou principalmente a libido. Mas sabe da importância do tratamento quando a menopausa começar, após os 12 meses sem menstruação. “Eu ainda estou menstruando, então ainda não é uma queda brusca, mas a reposição é meu próximo passo e já venho conversando com meu endocrinologista. Por enquanto, melhorei no exercício físico, tanto força como aeróbico, com mais frequência”, conta.
Alimentação também é uma grande aliada, afirma a nutricionista. “A parte nutricional eu venho agindo forte há um tempo e vou me cuidando”, disse. Como foi a primeira do ciclo de amigas a falar abertamente sobre o climatério, Fabi destaca que, atualmente, é possível encontrar bons profissionais orientando sobre a menopausa nas redes sociais.
“Os tabus ainda existem, mas diminuíram muito. Conversar com as amigas ajuda, até para saber que você não está sozinha, mas principalmente conversar com o parceiro. Já vi casamentos ficarem abalados, homens que achavam que a mulher estava traindo e era uma questão hormonal”, desabafa.
PONTO DE VISTA
Descobri a menopausa aos 42 anos
Minha vida acabou? Não poderei mais ter filhos? Foram essas questões que me vieram à cabeça assim que recebi a confirmação médica, via endocrinologista, que já tinha entrado na menopausa aos 42 anos.
Como o assunto é pouco falado entre a roda de amigos e familiares, não tinha conhecimento sobre o assunto. Só depois que fui pesquisar e entender que existem várias e usamos a nomenclatura menopausa para tudo.
Os primeiros sintomas começaram a aparecer ainda na pandemia, em 2020. Como perdi meu pai também nesse ano, achei que tudo, tudo mesmo, que sentia era a união dos dois fatores. Desânimo, irritação, insônia, calores alternados com frio. Não me passou pela cabeça que a minha vida reprodutiva estava terminando. Ainda menstruava.
Nessa época estava fazendo terapia online e mesmo sem ter um histórico meu de longa data, a profissional me disse: “Procure um ginecologista, pois pelo seu perfil não tem tendência à depressão e algo hormonal deve estar acontecendo”.
Fui à médica e ela não entendeu o momento delicado que eu estava vivendo, pediu apenas exames básicos e mudou a minha pílula anticoncepcional para uma com a qual eu não menstruava mais, o que mascarou ainda mais a chegada da menopausa na minha vida. Só descobri um ano depois, em um exame de rotina.
Já morando em Fortaleza, o médico me encaminhou para uma endocrinologista ao saber de todos os meus sintomas. A nova profissional médica não poupou exames e identificou o que eu temia, o climatério.
Exatos dois anos depois de descobrir, sigo ainda aprendendo com esse período que muda drasticamente a vida de algumas mulheres. Sim, algumas não têm sintomas, já eu, tenho todos. Já usei reposição hormonal, com recomendação médica, porém, como os sintomas não amenizaram, conversamos e optei por parar em virtude das contraindicações.
Depois de um período com baixa libido, que durou cerca de seis meses, essa parte voltou ao normal e sigo com a vida íntima normalizada. Outra coisa é a prática de exercícios físicos e uma alimentação mais equilibrada.
Carol Krossling
Jornalista e Pedagoga
SINTOMAS
Existem 34 sintomas cognitivos e os mais comuns são:
IRREGULARIDADES NO CICLO MENSTRUAL: variações na quantidade de fluxo e no
intervalo entre os períodos menstruais
“FOGACHOS”: às vezes acompanhados de taquicardia e sudorese
INCONTINÊNCIA URINÁRIA: a perda de urina, independentemente da quantidade, pode atingir até 40% das mulheres nessa etapa
INSTABILIDADE EMOCIONAL: irritabilidade, ansiedade, angústia
“NÉVOA” MENTAL: dificuldade de concentração, memória e aprendizagem
SECURA: da pele e das mucosas (especialmente a vulvovaginal)
MUDANÇAS NA LIBIDO: possíveis variações no desejo e na resposta sexual.
AUMENTO DE PESO: além de um possível aumento na balança, mudança na distribuição da gordura corporal
SINTOMAS INESPERADOS: dores nas articulações e nos músculos, sangramento intenso durante a perimenopausa, queda de cabelo, olhos secos / pele com prurido ou comichão
*A informação sobre a quantidade de sintomas é oriunda da empresa Essity
FASES CLIMATÉRIO
PRÉ-MENOPAUSA
Fase que antecede o climatério, com menstruação e possibilidade de reprodução.
Pode ocorrer alterações hormonais
CLIMATÉRIO
Inclui a perimenopausa, menopausa e pós-menopausa
Transição entre a fase reprodutiva e a não reprodutiva
Pode começar 10 anos antes da menopausa
Pode durar até 15 anos
Acontece com todas as pessoas que nasceram com ovários
80% das mulheres apresentam algum tipo de sintoma
PERIMENOPAUSA
Quando os hormônios começam a diminuir, há alterações no ciclo menstrual e os sintomas começam a aparecer
MENOPAUSA
A última menstruação, que acontece entre 45 e 55 anos, e se confugira por 12 meses consecutivos sem menstruar
PÓS-MENOPAUSA
De um a seis anos após a última menstruação. Os sintomas continuam, mas tornam-se mais leve
Menopausa prematura: fim da menstruação antes dos 45 anos