Parte da confusão sobre a periculosidade do impacto do pico do Ciclo Solar 25 vem da má interpretação da justificativa do pesquisador Peter Becker em ter sua pesquisa financiada. "O que ele tá falando lá é uma proposta que ele fez para uma verba para investimento. Isso é normal, a gente justificar (os financiamentos)", contextualiza Claudia. "Mas dizer que vamos para um apocalipse da internet e coisas assim, não é verdade. Não tá escrito em lugar nenhum, e quando a comunidade científica escuta isso, a gente fala: 'Meu Deus, será que eles não entendem o nosso trabalho?'"
Paga-se um preço alto por veicular informações científicas com exagero e sensacionalismo. Ainda que pareça inofensivo, muitas pessoas têm a vida afetada e passam a sentir medo de fenômenos do tipo.
"A pior parte é justamente criar o caos e um fatalismo", opina a astrofísica Roberta Duarte. "Sendo que assim, é um processo que estamos lidando desde que a humanidade surgiu, né? Porque a cada 11 anos o Sol está ali no processo dele, nunca aconteceu nada. Cria-se uma ideia de caos e de ansiedade; muitas pessoas já me pediram pra explicar o que vai acontecer, se vamos ficar sem internet, sem tecnologia."
Para as pesquisadoras, a comunicação sensacionalista da Ciência estimula a desinformação e o obscurantismo científico. Nesse processo, abre-se margem para as fake news — ambas mencionaram a relação que algumas pessoas têm feito do Ciclo Solar 25 crescente com as ondas de calor vividas em 2023.
"Muita gente coloca o aquecimento global como culpa do ciclo solar. Sendo que uma coisa não tem nada a ver com a outra, as tempestades solares e o ciclo solar não interferem na temperatura da Terra", ressalta Roberta. "Acaba até tirando o foco do que realmente podem acabar com a vida na Terra, que é o aquecimento global."
Na busca pelo emocionante, perde-se a oportunidade de comunicar aspectos fascinantes e curiosos da Ciência, especialmente aqueles que ainda não conhecemos. A Nasa aproveitou a intensidade do Ciclo Solar 25 e decretou 2024 como o ano da heliofísica, no qual ela irá despender mais esforços nos estudos solares e consequentes previsões.
Quem sabe 2024 proporcione mais respostas sobre os mistérios solares, divulgadas tranquilamente pela estável rede mundial de computadores.