A Food and Drug Administration (FDA) — agência regulatória dos Estados Unidos, semelhante à Anvisa no Brasil — recomendou a retirada da dipirona do mercado americano na década de 1970. A justificativa para a proibição seria a relação feita entre o uso da medicação e a agranulocitose.
Segundo o farmacêutico Tiago Sampaio, doutor em Farmacologia e professor do Departamento de Análises Clínicas e Toxicológicas da Universidade Federal do Ceará (UFC), as restrições eram, "até então, prudentes visto a necessidade de estudos que apontassem a causa de pancitopenia, anemia aplástica e fenômenos relacionados".
"Porém, atualmente, na década de 2020, a globalização inclusive da ciência mostra que a dipirona é um fármaco que apresenta riscos mais baixos que muitos outros que existem no mercado, permanecendo a proibição principalmente por fatores históricos e culturais", afirma Tiago.
Segundo ele, "daí justamente que vem grande parte da política de proibição". "Considerando que um medicamento foi proibido em um determinado país há mais de 40 anos por desconfianças na sua segurança, seria uma estratégia arriscada propor a retomada do seu uso e venda, o que poderia gerar prejuízos para as indústrias ao fabricar este produto", contextualiza.
O farmacêutico ressalta que a dipirona "apresenta nos estudos epidemiológicos segurança maior que alguns fármacos como o diclofenaco ou paracetamol".
Segundo Arlandia Nobre, presidente do CRF-CE, essa é uma questão também atrelada à indústria farmacêutica. "Para que o medicamento seja disponibilizado em determinado território, ele precisa da autorização das agências regulamentadoras. No caso do Brasil, pela Anvisa, no caso dos Estados Unidos, pelo FDA. Então, o que existe, muitas vezes, é uma preferência pelos medicamentos que são produzidos, desenvolvidos por aquele país", analisa.
"O paracetamol foi desenvolvido nos Estados Unidos, o que explica a preferência pelo paracetamol lá. O registro sanitário é uma prerrogativa da indústria que busca o registro no órgão vinculado aquele país", diz ela.