Munida de informações e com o coração aquecido por um desejo que sempre esteve presente, Tânia Patrício decidiu abrir mão da sua vida de calmaria, como a própria conta, para realizar um sonho.
Hoje com 53 anos, a empresária cearense que reside em Natal, no Rio Grande do Norte, teve dois casamentos sem filhos. Outros projetos vieram e a maternidade foi sendo adiada.
"Com o passar do tempo, com 36 anos, me deu um estalo. A maternidade é um sonho. Quando que vai ser realizada? Não sei. Quando me separei, pensei: deixa a coisa fluir naturalmente, porém, me deixe pensar no meu tempo."
E Tânia sabia que o tempo biológico não estava em sincronia com os seus desejos pessoais e momentos ideais. Por isso, decidiu congelar os óvulos, fecundados com espermatozóides de banco de sêmen.
Então, 15 anos depois, a chave virou. "Eu já estava em outra relação, com um parceiro maravilhoso, com família constituída e vasectomizado. Foram muitos sinais que me diziam que a maternidade é única e unilateral, que você não depende de ninguém para constituir a sua família e, de fato, foi assim", conta.
Na fertilização in vitro, os embriões congelados têm três caminhos: a inseminação, a doação ou o descarte. Esta última, para a empresária, não era uma opção, e a doação seria uma alternativa após tentativas.
O primeiro passo, então, foi se consultar com a sobrinha e obstetra Luciana Patrício, em Fortaleza. O acordo era seguir em frente com a realização do sonho se o corpo da empresária permitisse. Caso contrário, os embriões seriam doados. A resposta mais desejada permitiu que Tânia desse outro passo.
Em seguida, em São Paulo, foi verificada a saúde dos óvulos congelados. Quatro se mostraram saudáveis e, por causa da idade da paciente, só dois foram transferidos para o útero.
O primeiro positivo veio logo depois, confirmando a gravidez. O pré-natal foi acompanhado pela sobrinha e por um outro médico em Natal. A escolha dos profissionais se deu por perfis que fugissem do modelo convencional, que respeitassem suas decisões.
"Eu apenas me entreguei, estava preparada para tudo. Inclusive, para nada", confessa Tânia. E com o passar das semanas, a gravidez seguiu evoluindo. Sem enjoos, vômitos, azia nem noites mal dormidas devido à gestação.
Mesmo com todos os riscos, a empresária recebeu o diagnóstico de diabetes gestacional, que foi controlada apenas com a alimentação e a prática de atividades físicas, sem a necessidade de tratamento com insulina.
"Foi lindo, eu tive uma barriga linda, morro de saudade da minha barriga. Não engordei, saí da maternidade com dez quilos a menos."
Sobre o primeiro trimestre, Tânia revela o sentimento de insegurança. "Eu não vou dizer assustador. Mas é um período muito incerto. Ele te coloca em uma posição de frágil. É uma coisa que você não tem controle. Na gravidez toda, você não tem controle de absolutamente nada", relata.
Outro ponto que Tânia destaca de uma gestação para mulheres com idade materna avançada é o que ela chama de "campanha da negatividade", os comentários etaristas e preconceituosos.
"É um conservadorismo arcaico de pessoas que não se permitem uma evolução. Elas não são acolhedoras. É o tempo todo você se justificando para dar uma satisfação de um padrão. Isso foi o mais triste. A maternidade é uma decisão única. E se eu não estivesse com parceiro nenhum, eu ia deixar de ser mãe? Não!", afirma com convicção.
No dia 14 de setembro 2023, Martina, nome que significa "pequena guerreira", chegou ao mundo via cesariana e foi direto do útero para o colo da Tânia, ainda ligada pelo cordão umbilical, pele com pele. Para a empresária, a maternidade tem sido uma descoberta e um aprendizado diários.
"É muito lindo, porque a minha família e os meus amigos foram incríveis. Martina tem uma família gigante, de muito carinho, de muito acolhimento, de muito amor. E ela sabe disso. Que todas as mulheres se permitam fazer o mesmo e ter suas decisões respeitadas."