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Um outubro totalmente rosa
Ciência e Saúde

Um outubro totalmente rosa

O Ceará lidera o ranking nordestino de diagnósticos tardios de câncer de mama.
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 Dra. Virginia Moreira, oncologista clínica com foco no tratamento do câncer de mama (Foto: Arquivo Pessoal )
Foto: Arquivo Pessoal Dra. Virginia Moreira, oncologista clínica com foco no tratamento do câncer de mama

 

 

A Mulher Maravilha, uma das personagens mais famosas dos quadrinhos da DC, é baseada no mito das guerreiras gregas conhecidas como Amazonas. Segundo conta a história, elas eram uma tribo de mulheres que viviam em uma nação própria onde o protagonismo feminino reinava.

Como guerreiras, elas mutilavam um dos seios para manejar o arco e a flecha, por isso do seu nome, já que a palavra amazona vem de mázos (seio) antecedida pelo prefixo alpha (a, em grego), que indica ausência, ou seja, “sem seio”. Os gregos foram os primeiros a falar delas, difundindo um mito que viajou para outras culturas.

O mito também é lembrado por muitas mulheres que enfrentam o câncer de mama. A figura dessas guerreiras tem ganho significado ainda maior na tentativa de ampliar a força e autoestima de quem enfrenta a doença.

Mulher Maravilha integrou a animação Superamigos, produzida de 1973 a 1985 pela Hanna-Barbera, baseada na Liga da Justiça (Foto: Divulgação)
Foto: Divulgação Mulher Maravilha integrou a animação Superamigos, produzida de 1973 a 1985 pela Hanna-Barbera, baseada na Liga da Justiça

Este mês, com a campanha do Outubro Rosa, que tem o objetivo de promover a conscientização sobre a necessidade do diagnóstico precoce, profissionais de saúde e pacientes alertam para os cuidados que podem contribuir para a diminuição da taxa de mortalidade dessa doença.

No Ceará, segundo dados da pesquisa Estimativa 2023 — Incidência de Câncer no Brasil do Instituto Nacional do Câncer, são apontados anualmente 31.390 diagnósticos de câncer de mama; chegando a mais de 94 mil no triênio até 2025. Nacionalmente, a projeção é de 704 mil novos casos para o mesmo período.

Já o estudo do Panorama da atenção ao câncer de mama no Sistema Único de Saúde (SUS), estima que o Ceará ocupa o 1º lugar no Nordeste em relação à proporção de diagnósticos tardios da doença; visto que, entre 2015 e 2021, 55% dos casos tiveram o diagnóstico tardio. Em relação ao País, estamos atrás apenas do Acre, do Pará e de Roraima, cada um com 56%.

 Dra. Virginia Moreira, oncologista clínica com foco no tratamento do câncer de mama(Foto: Arquivo Pessoal )
Foto: Arquivo Pessoal Dra. Virginia Moreira, oncologista clínica com foco no tratamento do câncer de mama

A oncologista clínica com foco no tratamento do câncer de mama, a médica Virginia Moreira, explica que a doença é resultado do crescimento descontrolado de células na mama que formam um tumor, podendo invadir regiões próximas e, em alguns casos, espalhar-se para outras partes do corpo.

“Os principais fatores associados a essa doença incluem histórico familiar, sedentarismo, consumo de álcool, obesidade, mutações genéticas — como BRCA1 e BRCA2 —, exposição prolongada ao estrógeno e progesterona — primeira menstruação antes dos 12 anos ou menopausa após os 54 anos —, e idade avançada”, afirma.

A oncologista aponta o carcinoma ductal, que começa nos ductos que transportam leite, e o carcinoma lobular, que se inicia nas glândulas produtoras de leite, como uma das variações mais comuns da doença. “Esses subtipos podem ser divididos em diferentes classificações, como o hormônio positivo, o HER2-positivo, ou subtipo triplo negativo, tumor que não expressa receptores hormonais nem a proteína HER2”, detalha.

A especialista destaca também que o câncer de mama é mais comum nas mulheres devido aos hormônios femininos, como o estrogênio, que podem influenciar o crescimento das células da mama. “As mamas femininas têm mais tecido glandular, aumentando o risco. Essa doença em homens também existe, mas é uma condição extremamente rara”, assegura.

Para a mastologista Paulla Vasconcelos, é comum que uma mama seja maior que a outra, ou tenha um formato diferente. Mas existem alguns sinais e sintomas, para além do tamanho, que podem sugerir câncer de mama. Se for identificado algum risco é precisa procurar um especialista o quanto antes.

“O nódulo (caroço) bem duro, fixo ou pouco móvel e indolor, é a principal manifestação da doença. Pode também haver a retração do “bico do peito” — complexo aréolo-mamilar —; retração e avermelhamento da pele da mama; saída espontânea de líquido bem clarinho — água de rocha — e sangramento e pequenos nódulos nas axilas ou no pescoço”, aponta.

A mastologista alerta sobre os cuidados que devem ser aderidos para reduzir o risco de ter a doença, como manter o peso corporal adequado, praticar atividade física, ter uma alimentação balanceada e evitar o consumo de bebidas alcoólicas e cigarros. “Essas são as medidas mais efetivas. O câncer de mama é uma doença heterogênea e multifatorial, daí a dificuldade de se prevenir”, conclui.

 

 

Um cuidado com a vida

Em fevereiro desse ano, a pedagoga Elen Pimentel, de 54 anos, vivia um dos momentos mais delicado da sua vida: a despedia de sua irmã mais nova, de apenas 44 anos. A causa do óbito foi um câncer de mama agressivo, no qual o nódulo alcançara o cérebro. Elen esteve ao seu lado desde o diagnóstico e durante um ano e meio de tratamento.

Após o ocorrido, Elen, que morava em Quixeramobim,  mudou para Fortaleza com o seu filho e, aqui, resolveu fazer uma mamografia para ter certeza que estava bem, já que tinha conhecimento da relação existente do histórico familiar e a doença. Infelizmente, ela foi diagnosticada com carcinoma in situ, ou seja, descoberto no início.

Pedagoga Elen Pimentel(Foto: Arquivo Pessoal )
Foto: Arquivo Pessoal Pedagoga Elen Pimentel

Apesar de não sentir nenhum sintoma que indicava tal condição, a busca pelo diagnóstico lhe ofereceu a oportunidade de se cuidar. No dia 8 de julho, ela fez a mastectomia — retirada da mama — no lado esquerdo. “É incrível o número de mulheres com câncer de mama, só depois que a gente passa por esse percurso temos essa noção”, relata Elen.

A oncologista Virginia Moreira esclarece que o tratamento para o câncer de mama depende do tipo e estágio da doença, podendo incluir cirurgia, quimioterapia, radioterapia e terapia de bloqueio hormonal e/ou imunoterapia. O tempo também varia, podendo durar meses ou anos.

“Queda de cabelo, náuseas, cansaço, alterações no apetite, problemas na pele e imunidade enfraquecida, esses efeitos dependem do tipo de tratamento escolhido. A probabilidade de cura é alta quando o câncer é detectado precocemente, com taxas de sucesso acima de 95% nos estágios iniciais”, destaca.

Thalita Tércia, enfermeira e fisioterapeuta, aborda a importância nos avanços de tratamento preventivo contra câncer de mama atualmente. Um exemplo é a Termografia Mamária, uma termografia digital por infravermelho de alta definição das mamas, na qual é um estudo fisiológico que pode avaliar alterações no tecido mamário e detectar suspeitas iniciais no desenvolvimento da doença.

“Quando a gente tem a formação de um câncer, a primeira alteração a ser realizada naquele tecido é alteração vascular, e isso a termografia mostra muito bem. Por isso ela não diz o diagnóstico do câncer, mas ela identifica efetivamente essas alterações”, detalha.

Exame médico da mama(Foto: Zaiets Roman / AdobeStock)
Foto: Zaiets Roman / AdobeStock Exame médico da mama

A especialista atua no Instituto de Tratamento da Dor, um dos poucos no Nordeste a trabalhar com essa tecnologia. “A mamografia ainda continua sendo padrão ouro para rastreio e identificação do câncer de mama, mas ela não consegue identificar essas primeiras alterações como a termografia”, finaliza.

Atualmente, a pedagoga Elen Pimentel segue em tratamento, sendo acompanhada por especialistas, tomando remédio e praticando exercícios físicos com uma alimentação balanceada e mais saudável. Com apoio da família e de quem estar ao seu redor, ela se apega na fé e no otimismo para continuar trilhando o seu caminho.

“A gente tem que procurar se fortalecer e não se colocar tanto como vítima. São coisas que acontecem de repente, vai que meu estilo de vida estava errado? Então agora estou com uma oportunidade de reverter isso, procurar brincar mais, sorrir, me divertir e conversar com boas pessoas. Essa busca por outro caminho ensina a gente a selecionar o que há de melhor”, conclui.

 

 

Uma trajetória ressignificada

Entre ser médica, cordelista e professora de medicina, Paola Tôrres é também presidente e fundadora do Instituto Roda da Vida, uma associação sem fins lucrativos cuja missão é promover integração terapêutica, educação e acesso à informação as pessoas com câncer.

O espaço, localizado em Fortaleza, utiliza recursos da Medicina Integrativa, voltado para a “pessoa” e não a doença, desempenhando um papel importante no apoio a mulheres em tratamento de câncer, onde é praticado o cuidado médico com práticas de bem-estar e suporte emocional.

Além das oficinas oferecidas sobre autocuidado e prevenção, utilizando a linguagem do cordel, o lugar promove também práticas integrativas, como auriculoterapia, meditação e rodas de conversas, onde mulheres podem compartilhar suas experiências e encontrar apoio emocional em um ambiente acolhedor.

Paola Tôrres, médica, cordelista, professora de medicina e também presidente e fundadora do Instituto Roda da Vida(Foto: Arquivo Pessoal)
Foto: Arquivo Pessoal Paola Tôrres, médica, cordelista, professora de medicina e também presidente e fundadora do Instituto Roda da Vida

Com todo esse legado, o que Paola Tôrres não esperava era que aos 54 anos ela seria diagnosticada com câncer de mama, em um período pandêmico onde os hospitais estavam sobrecarregados com os casos de Covid-19, tornando o processo ainda mais angustiante.

“Eu optei por uma quadrantectomia, não precisei de mastectomia, mas o procedimento e a radioterapia foram bastante desafiadores. Estava no meio da segunda onda da pandemia, e a insegurança em relação ao meu tratamento era constante, pois o foco dos hospitais estava nas internações de Covid”, recorda.

Em seu relato, ela diz que foi um processo que abalou profundamente sua percepção de corpo e feminilidade, além de trazer questões emocionais e psicológicas intensas. “Mesmo sendo médica, encarar o câncer como paciente foi uma experiência que me conectou profundamente com o medo e a vulnerabilidade que meus pacientes sentem”, desabafa.

A oncologista Virginia Moreira explica que uma das razões para o câncer de mama afetar principalmente mulheres, a partir dos 40 anos, é por conta das células do acúmulo de mutações genéticas ao longo dos anos; elevando a chance de desenvolvimento da doença. Já sobre a retirada da mama, a decisão depende do estágio da doença e do perfil da paciente.

“A retirada por completo — mastectomia — pode ser necessária dependendo do tamanho, da localização e se houver mais de um tumor. Em alguns casos, é possível fazer uma cirurgia conservadora, retirando apenas uma parte da mama (quadrantectomia)”, conclui.

Autoavaliação do câncer de mama (Foto: Cultura Criativa de Propriedade Integral / AdobeStock)
Foto: Cultura Criativa de Propriedade Integral / AdobeStock Autoavaliação do câncer de mama

Paola Tôrres relembra que durante o tratamento ela se apoiou na escrita e no cordel, transformando sua dor em arte. A sua cura trouxe uma transformação profunda, e a experiência lhe fez compreender, de maneira ainda mais íntima, o que é ser uma paciente oncológica, e isso refletiu diretamente em seu trabalho, dando um novo significado ao seu instituto.

Hoje, com 58 anos e curada, ela segue em tratamento de supressão hormonal e acompanhamento oncológico tradicional, além de fazer práticas integrativas como yoga, meditação e medicina ayurvédica.

“Essa experiência me trouxe mais empatia, mais paciência e uma visão mais holística da saúde. Comecei a investir mais em práticas que promovem o bem-estar integral dos pacientes. Hoje, sou uma defensora ainda mais fervorosa da humanização no tratamento do câncer, reforçando minha missão de integrar medicina e arte como caminhos para a cura completa”, finaliza.

 

 

De mulher para mulher: a união faz a força!

Sororidade é a união e a aliança entre mulheres, baseadas na empatia e no companheirismo, em busca de alcançar objetivos em comum. Em Fortaleza, iniciativas com esse propósito surgem como apoio as pacientes com câncer de mama. É o caso da associação Lua Rosa e do grupo de apoio OncoFriends, ambos, 100% voluntário e sem fins lucrativos.

O Lua Rosa surgiu em 2020, fruto da união entre mulheres que venceram o câncer de mama, em meio à rotina de tratamentos, através de grupos de suporte e encontros habituais nas salas de espera dos consultórios. Hoje em dia, o ambiente acolhe cerca de mais 300 mulheres com essas vivências.

Karla Veruska (segunda da esquerda para direita), é advogada e presidente do projeto(Foto: Arquivo Pessoal )
Foto: Arquivo Pessoal Karla Veruska (segunda da esquerda para direita), é advogada e presidente do projeto

Uma das atividades promovidas pelo grupo é o projeto “Movimento Lua”, que incentiva e realiza a prática de atividades físicas, como canoagem, corrida e ciclismo. Além disso, apoio terapêutico e oficinas de automaquiagem e artesanato acontecem por lá. Karla Veruska, advogada e uma das idealizadoras do projeto, explica que a ideia era melhorar a comunicação entre as mulheres.

“O Lua Rosa surgiu em um momento que eu me senti sozinha, então era preciso ter apoio e promover ajudar para nos fortalecer. Essa conscientização e essas campanhas educativas são importantes porque elas realmente podem salvar vidas, como a canoagem, que em menos de um mês aproximou mais de 50 mulheres, que tiveram suas vidas transformadas”, afirma.

Aline Vasconcellos, curada de um câncer de mama, é fisioterapeuta e mãe da pequena Aurora, nome escolhido por significar “o nascer do sol” e um novo recomeço para a mãe. Ela conheceu o Lua Rosa nos primeiros passo do projeto, logo no início do seu tratamento. Hoje em dia, ela atua como coordenadora, acolhendo as novas mulheres que chegam por lá.

Aline Vasconcellos, curada de um câncer de mama, é fisioterapeuta, mãe da pequena Aurora, e coordenadora do Lua Rosa (Foto: Arquivo Pessoal )
Foto: Arquivo Pessoal Aline Vasconcellos, curada de um câncer de mama, é fisioterapeuta, mãe da pequena Aurora, e coordenadora do Lua Rosa

“Infelizmente muitas delas não têm a sorte de ter essa rede de apoio no começo. Através da associação, ela consegue isso, principalmente em fases de remissão, o qual é muito importante pelo fortalecimento estabelecido entre nós. Os cuidados têm que acontecer nos 365 dias do ano, e não só durante o Outubro Rosa”, alerta.

O OncoFriends, também nascido em 2020, surgiu entre conversas e troca de experiências de amigas que estavam superando o câncer de mama. Andressa Gurgel, fisioterapeuta, decoradora de festas e idealizadora do projeto, quando recebeu o diagnóstico tinha apenas 35 anos de idade.

“Aqui a grande maioria é jovem, e ultimamente vem surgindo uma onda de diagnósticos nesse publico. Então é importante estarmos atentas aos sinais e sintomas. Tenham uma vida saudável e busque todos os profissionais necessários. Nós temos muitas participantes que fazem tratamento pelo SUS e que conseguem receber todo um auxílio, assistência e medicação. O grupo também existe para a gente se ajudar”, aconselha.

Os encontros do OncoFriends acontecem virtualmente, além de encontros presenciais semestrais. Conversas, apoio durante o tratamento — por visitas, troca de presentes, dicas de autocuidado e estilo de vida — são prática constante por lá.

Andressa Gurgel, idealizadora do OncoFriends, ao lado direito, com amigas que esteve no início desse processo. (Foto: Arquivo Pessoal )
Foto: Arquivo Pessoal Andressa Gurgel, idealizadora do OncoFriends, ao lado direito, com amigas que esteve no início desse processo.

“Esses exemplos de ações são fundamentais nessa fase, porque não apenas contribuem para o bem-estar emocional, mas auxiliam nas perspectivas de cura ou de controle da doença, já que nossa saúde mental interfere em como nosso corpo reage”, evidencia a psicóloga clínica Ana Paula, de 44 anos e também diagnosticada recentemente com câncer de mama.

“O diagnóstico traz consigo uma série de mudanças. Se inicia com a negação, perda do controle da própria vida, medo do tratamento, de ser dependente, de ser abandonado, além de raiva e isolamento. Todos esses aspectos impactam diretamente na autoestima, nos planos de vida e nos desejos existentes”, afirma.

A especialista diz que sem uma rede confiável e acolhedora de afeto e amparo, ou sem acompanhamento psicológico, algumas emoções podem se agravar e até mesmo dificultar o processo.

“É importantíssimo a busca por práticas e hábitos que possibilitem um melhor estado emocional. Ou seja, atividades que tragam o foco para si mesmas e não apenas para a doença, trazendo um entendimento de que o diagnóstico é uma parte da sua vida e não o todo”, finaliza.

O câncer de mama, embora desafiador, pode ser enfrentado com informação, apoio e detecção precoce. É fundamental que a sociedade se una na luta contra essa doença. Juntos, podemos transformar a dor em força, o medo em coragem e a informação em mudança. Cuidar da saúde é um ato de amor.

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Avanços no tratamento

Em fevereiro desse ano, a pedagoga Elen Pimentel, de 54 anos, vivia um dos momentos mais delicado da sua vida: a despedia de sua irmã mais nova, de apenas 44 anos. A causa do óbito foi um câncer de mama agressivo, no qual o nódulo alcançará o cérebro. Elen esteve ao seu lado desde o diagnóstico e durante um ano e meio de tratamento.

Após o ocorrido, Elen, que morava em Quixeramobim, mudou para Fortaleza com o seu filho, e aqui, resolveu fazer uma mamografia para ter certeza que estava bem, já que tinha conhecimento da relação existente do histórico familiar e a doença. Infelizmente, ela foi diagnosticada com carcinoma in situ, ou seja, descoberto no início.

Apesar de não sentir nenhum sintoma que indicava tal condição, a busca pelo diagnóstico lhe ofereceu a oportunidade de se cuidar. No dia 8 de julho, ela fez a mastectomia — retirada da mama — no lado esquerdo. "É incrível o número de mulheres com câncer de mama", relata.

A oncologista Virginia Moreira esclarece que o tratamento para o câncer de mama depende do tipo e estágio da doença, podendo incluir cirurgia, quimioterapia, radioterapia e terapia de bloqueio hormonal e/ou imunoterapia.

Thalita Tércia, enfermeira e fisioterapeuta, aborda a importância nos avanços de tratamento preventivo contra câncer de mama atualmente. Um exemplo é a Termografia Mamária, uma termografia digital por infravermelho de alta definição das mamas, na qual é um estudo fisiológico que pode avaliar alterações no tecido mamário e detectar suspeitas iniciais no desenvolvimento da doença.

"Quando a gente tem a formação de um câncer, a primeira alteração a ser realizada naquele tecido é alteração vascular, e isso a termografia mostra muito bem. Por isso ela não diz o diagnóstico do câncer, mas ela identifica efetivamente essas alterações", detalha a especialista, que atua no Instituto de Tratamento da Dor. "A mamografia ainda continua sendo padrão ouro para rastreio e identificação do câncer de mama, mas ela não consegue identificar essas primeiras alterações como a termografia", finaliza.

Uma trajetória ressignificada

Entre ser médica, cordelista e professora de Medicina, Paola Tôrres é também presidente e fundadora do Instituto Roda da Vida, uma associação sem fins lucrativos cuja missão é promover integração terapêutica, educação e acesso à informação para pessoas com câncer.

O espaço, localizado em Fortaleza, utiliza recursos da Medicina Integrativa, voltado para a "pessoa" e não a doença, desempenhando um papel importante no apoio a mulheres em tratamento de câncer, onde é praticado o cuidado médico com práticas de bem-estar e suporte emocional.

Além das oficinas oferecidas sobre autocuidado e prevenção, utilizando a linguagem do cordel, o lugar promove também práticas integrativas, como auriculoterapia, meditação e rodas de conversas, onde mulheres podem compartilhar suas experiências e encontrar apoio emocional em um ambiente acolhedor.

Com todo esse legado, o que Paola Tôrres não esperava era que aos 54 anos ela seria diagnosticada com câncer de mama, em um período pandêmico no qual os hospitais estavam sobrecarregados com os casos de COVID-19, tornando o processo ainda mais angustiante.

"Eu optei por uma quadrantectomia, não precisei de mastectomia, mas o procedimento e a radioterapia foram bastante desafiadores. Estava no meio da segunda onda da pandemia, e a insegurança em relação ao tratamento era constante, pois o foco dos hospitais estava nas internações de COVID", recorda.

Em seu relato, ela diz que foi um processo que abalou profundamente sua percepção de corpo e feminilidade, além de trazer questões emocionais e psicológicas intensas. "Mesmo sendo médica, encarar o câncer como paciente foi uma experiência que me conectou profundamente com o medo e a vulnerabilidade que meus pacientes sentem", desabafa.

Paola Tôrres relembra que durante o tratamento ela se apoiou na escrita e no cordel, transformando sua dor em arte. A sua cura trouxe uma transformação profunda, e a experiência lhe fez compreender, de maneira ainda mais íntima, o que é ser uma paciente oncológica, e isso refletiu diretamente em seu trabalho, dando um novo significado ao seu instituto.

Hoje, com 58 anos e curada, ela segue em tratamento de supressão hormonal e acompanhamento oncológico tradicional, além de fazer práticas integrativas como yoga, meditação e medicina ayurvédica.

"Essa experiência me trouxe mais empatia, mais paciência e uma visão mais holística da saúde. Comecei a investir mais em práticas que promovem o bem-estar integral dos pacientes. Hoje, sou uma defensora ainda mais fervorosa da humanização no tratamento do câncer, reforçando minha missão de integrar Medicina e arte como caminhos para a cura completa", finaliza.

De mulher para mulher

Sororidade é a união e a aliança entre mulheres, baseadas na empatia e no companheirismo, em busca de alcançar objetivos em comum. Em Fortaleza, iniciativas com esse propósito surgem como apoio as pacientes com câncer de mama. É o caso da associação Lua Rosa e do grupo de apoio OncoFriends, ambos, 100% voluntário e sem fins lucrativos.

O Lua Rosa surgiu em 2020, fruto da união entre mulheres que venceram o câncer de mama, em meio à rotina de tratamentos, através de grupos de suporte e encontros habituais nas salas de espera dos consultórios. Hoje em dia, o ambiente acolhe cerca de mais 300 mulheres com essas vivências.

Uma das atividades promovidas pelo grupo é o projeto "Movimento Lua", que incentiva e realiza a prática de atividades físicas, como canoagem, corrida e ciclismo. Além disso, apoio terapêutico e oficinas de automaquiagem e artesanato acontecem por lá. Karla Veruska, advogada e uma das idealizadoras do projeto, explica que a ideia era melhorar a comunicação entre as mulheres.

"O Lua Rosa surgiu em um momento que eu me senti sozinha, então era preciso ter apoio e promover ajudar para nos fortalecer. Essa conscientização e essas campanhas educativas são importantes porque elas realmente podem salvar vidas, como a canoagem, que em menos de um mês aproximou mais de 50 mulheres, que tiveram suas vidas transformadas", afirma.

O grupo OncoFriends, também nascido em 2020, surgiu entre conversas e troca de experiências de amigas que estavam superando o câncer de mama. Andressa Gurgel, fisioterapeuta, decoradora de festas e idealizadora do projeto, quando recebeu o diagnóstico tinha apenas 35 anos de idade."Aqui a grande maioria é jovem, e ultimamente vem surgindo uma onda de diagnósticos nesse publico", acrescenta.

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