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As bulas das plantas medicinais
Ciência e Saúde

As bulas das plantas medicinais

| Ciência e sabedoria popular | Pesquisas destacam as possibilidades de uso plantas medicinais na produção de alimentos
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Tipo Notícia

O Brasil é repleto de tradições. Uma delas é a utilização das plantas medicinais para solucionar, desde os problemas digestivos e inflamações, até dores e insônia, além de produtos de beleza.

São mais de 40 mil espécies conhecidas no Brasil, considerado o maior país do mundo em variedade de vegetais. Inúmeros tipos de plantas sempre foram consideradas medicinais pelos povos originários.

Uma das pesquisas mais recentes que unem essa sabedoria popular com a ciência foi desenvolvida no campus de Sobral do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará (IFCE), dividida em duas partes, com catalogação de bulas e receitas alimentícias, como sorvetes e biscoitos.

A primeira parte da pesquisa foi o desenvolvimento do e-book "Plantas Medicinais: sabedoria popular e conhecimento científico para o ensino das funções orgânicas", que reúne bulas de 23 plantas, apresentando o nome popular e científico de cada uma, propriedades, indicações, contraindicações, partes utilizadas, formas de uso e imagens para identificação.

Entre as espécies abordadas estão alecrim-pimenta, alfavaca, aroeira, babosa, boldo, capim-santo, erva-cidreira, eucalipto e mastruz. A escolha foi fruto de um mapeamento, com aplicação de questionários em Sobral e em municípios vizinhos, que destacavam as mais utilizadas na medicina caseira local.

O início da pesquisa já acontecia há mais de uma década, quando a professora Daniele Teixeira, do curso de Tecnologia em Alimentos do IFCE, aceitou o convite de uma ex-colega de graduação para investigar plantas medicinais, por meio de uma parceria que unia projetos de pesquisa e extensão.

Ela, que está à frente desse projeto, nunca havia estudado esse tema, mas viu ali uma oportunidade de unir a química orgânica com algo mais aplicado e próximo da realidade dos seus alunos e da comunidade.

"O primeiro foi lançado em 2021, trazendo essa importância em oferecer informação segura e baseada em evidências científicas, além de contribuir para o ensino de química orgânica. Vivemos num momento em que há muitas informações circulando, e nem todas são confiáveis", comenta a pesquisadora.

O e-book é resultado de uma parceria entre o IFCE e a Universidade Federal do Ceará (UFC), a partir da dissertação de mestrado da professora Zaide Cunha Maia, orientada pela docente Maria Goretti. Os alunos de Daniele participaram ativamente do projeto.

"Cada aluno escolhia uma planta, que já conhecia ou já tinha ouvido falar, e realizava um levantamento bibliográfico sobre ela. Hoje temos um projeto de extensão voltado a esse estudo, com foco em levá-lo também às escolas de ensino médio, mostrando a importância para a saúde", revela.

O segundo passo da pesquisa foi explorar o potencial das plantas medicinais, além dos tradicionais chás, xaropes e condimentos. Com os estudos, foi identificado que elas podiam ser empregadas na produção de novos alimentos funcionais, com propriedades que favorecem a saúde e o bem-estar.

A pesquisadora Daniele Teixeira lembra que primeiro foi investigado se havia alimentos, na literatura científica, que utilizassem essas plantas. Eles encontraram brigadeiros com capim-santo, sucos diversos, bolos, e até artigos sobre sorvetes.

Ela explica que muitas dessas plantas contêm compostos químicos com atividades anti-inflamatória, diurética, antioxidante, antimicrobiana e expectorante, agregando não somente aroma e sabor, mas também valor nutricional aos alimentos.

"Após a pandemia (período em que trabalhamos com questionários e revisões bibliográficas), começamos a testar sorvetes com plantas medicinais. Os resultados foram muito bem recebidos, então passamos a trabalhar com grupos de mulheres em associações comunitárias", diz.

As oficinas com mulheres tinham o foco mais educativo, com explicações sobre as plantas, suas bulas e a importância de cada uma para a saúde. Após isso, seguiam com a preparação de receitas, como pães com alecrim, biscoitos de gengibre e dindins gourmet de capim-santo, além dos sorvetes.

Leia mais na página 18.

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