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Psicóloga e paciente: vivência com borderline se transforma em ferramenta de cuidado
Ciência e Saúde

Psicóloga e paciente: vivência com borderline se transforma em ferramenta de cuidado

| Tratamento | Experiência pessoal ressignificada e ajuda na capacitação profissional
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Tipo Notícia

Quando recebeu o diagnóstico de transtorno de personalidade borderline (TPB), a psicóloga Lara Sales tinha apenas 14 anos. Até então, o que sentia era uma sensação persistente de inadequação: "Sentia como se existisse algo de errado em mim. Como se eu não pertencesse ao mundo 'normal'", relembra.

Na época, há 13 anos, pouco se falava sobre o transtorno. "O tema 'borderline' era ainda mais estigmatizado do que é hoje. Não era abordado de forma alguma, praticamente."

Mesmo sem saber exatamente o que era o TPB, Lara já vivia os impactos da desregulação emocional. "Eu era bastante reativa, ainda mais emotiva, era perceptível a instabilidade emocional. Eu não sabia nomear na época, mas era como viver sempre no volume máximo — tudo me atravessava demais, desde relações até pequenas frustrações."

A primeira vez que ouviu o termo "borderline" foi no momento do diagnóstico. "Receber o diagnóstico foi um divisor de águas pra mim. Não estou afirmando que ter o referido transtorno é algo 'positivo', mas quando você cresce se sentindo 'quebrada', dar um nome a isso, saber que não há nada de errado e, principalmente, que o tratamento era possível, provavelmente, foi uma das maiores sensações de alívio que já tive."

Ao contrário do que costuma acontecer com muitos pacientes, Lara teve um diagnóstico precoce e correto. "A primeira profissional que fui conseguiu identificar de maneira correta e em um tempo razoável."

Ela conta que, antes disso, os sintomas que mais chamavam atenção eram os comórbidos: "Depressão, ansiedade, TDAH e transtorno de estresse pós-traumático (TEPT), naquela época. Mas, desde o início, minha psiquiatra tinha como hipótese diagnóstica o TPB como transtorno central."

Essa experiência, segundo Lara, difere da realidade da maioria. "Boa parte dos profissionais da saúde mental, infelizmente, ainda não estão devidamente capacitados para o manejo do TPB, além da busca por aprimorar-se na área ainda não ser satisfatória. Logo, muitos diagnósticos são fechados de maneira equivocada."

Entre os erros mais comuns, ela cita a confusão com o Transtorno Afetivo Bipolar (TAB): "Uma das maiores 'confusões' de diagnósticos na clínica acontece entre o TAB e o TPB."

Após o diagnóstico, Lara teve acesso rápido ao tratamento adequado. "Fui encaminhada para uma psicóloga que também trabalhava com o TPB, então minha farmacoterapia estava ajustada, em relação aos sintomas mais agudos e comorbidades, e dei início ao tratamento, de fato, do TPB na psicoterapia."

Ela destaca que, embora não existam medicações específicas para o TPB, a farmacoterapia pode ajudar a lidar com sintomas pontuais. "O que acontece é um manejo de sintomas mais agudos naquele momento e/ou de transtornos comórbidos por meio da farmacoterapia."

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