Em um mundo que frequentemente combate o uso de drogas com uma narrativa de guerra e proibição, o Movimento Saúde Mental (MSM), que atua no Grande Bom Jardim, em Fortaleza, rema na direção oposta há três décadas.
A pergunta que norteia não é "por que a pessoa usa drogas?", mas sim "por que a pessoa não sente prazer de viver?". A resposta encontrada e aplicada diariamente foi simples: em vez de falar sobre drogas, falar sobre a vida.
Esta filosofia é a alma do Projeto Sim à Vida, uma iniciativa que nasceu em 1998 como um projeto de extensão da Universidade Federal do Ceará (UFC), fundado por Padre Rino Bonvini, médico psiquiatra e padre missionário, em parceria com o professor Antônio Mourão Cavalcante.
O objetivo era, e continua sendo, a prevenção. Em latim, prevenire significa "chegar antes", e é exatamente isso que o projeto se propõe a fazer: chegar antes que a dor, a exclusão e a baixa autoestima levem um jovem a buscar refúgio nas drogas.
Padre Rino é presidente do MSM. Segundo ele, o uso de substâncias muitas vezes começa quando a pessoa, especialmente na infância e adolescência, não tem a oportunidade de se reconhecer em seu próprio valor e desenvolver seus talentos.
"O desafio é criar um espaço prazeroso, onde a pessoa tenha um espaço de autoconhecimento, de fortalecimento da autoestima e a possibilidade de desenvolver suas múltiplas inteligências: artística, musical, pictórica, sinestésica, teatral, ecológica", afirma.
Para ele, a meta é que a vida seja vivida em sua integralidade biopsicossocial-espiritual. "Não é só o componente genético; quando a pessoa busca a substância, o mal-estar, o desespero, a inadequação, a baixa autoestima e a dor da exclusão já se manifestaram", explica.
A base teórica que sustenta todo o trabalho do MSM é a Abordagem Sistêmica Comunitária (ASC), desenvolvida por Padre Rino. Essa metodologia estende os princípios da terapia familiar para a comunidade inteira, enxergando-a como um sistema vivo, com capacidade de se auto-organizar.
A ASC se apoia em três pilares fundamentais: Autopoiese Comunitária (a capacidade da comunidade de se regenerar e se reinventar), Trofolaxe Humana (a troca de afeto, cuidado e saberes como nutriente essencial para a saúde coletiva) e a Sintropia (tendência natural dos sistemas vivos de evoluir para formas mais complexas e organizadas). Na prática, essa abordagem se manifesta através das Práticas Integrativas e Complementares em Saúde (PICS).
O MSM se torna um centro de cura e desenvolvimento através de atividades coletivas como: Arteterapia, Biodança, Constelação Familiar, Meditação, Yoga e Terapia Comunitária Integrativa, além de cuidados individuais, como acupuntura, massoterapia, terapias de florais, entre muitas outras. "Quando a pessoa já está usando drogas, a primeira energia a ser mobilizada é a motivação para parar. Em uma roda de conversa, uma pessoa com um problema pode ouvir dez maneiras diferentes de resolvê-lo e se identificar com a experiência de outra".
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