Simone Rebouças, 58 anos, atuou por muito tempo na área de educação e hoje está aposentada. Ela descobriu o diabetes tipo 1 há mais de 40 anos. O diagnóstico veio em 1984, época em que pesquisas e tratamentos mais avançados ainda estavam em processo de criação.
O amor por doces existia, mas foi a magreza repentina, junto com a sede e a fome incontrolável, que a levaram ao médico. Nessa época, sua glicemia já ultrapassava 500. Ela ficou internada e recebeu o diagnóstico logo depois, aos 17 anos, sendo a primeira da família a conviver com a doença.
"Após o diagnóstico, senti-me muito assustada e com medo, pois era algo novo. Olhava para os lados e não via ninguém com conhecimento de causa para me apoiar, apenas os médicos, que também estavam descobrindo como tratar a doença naquela época", recorda.
Ela passou por processos muito desafiadores, como 13 dias hospitalizada para aprender a controlar a alimentação e a aplicar a insulina. As seringas eram de vidro e as agulhas eram grandes.
"Lembro de acompanhar as descobertas da ciência por meio de revistas e jornais, pois o assunto era raramente abordado na TV. Ninguém sabia como cuidar de uma pessoa com diabetes", lembra.
Ela revela que o mais assustador foi lidar com a hipoglicemia. Certa vez, ao sair da escola para pegar o ônibus, comecei a passar mal sem saber o que era. Acabei pedindo carona e indo para casa, colocando a vida em risco sem enxergar direito.
"Naquela época, não existia o aparelho de glicemia. O controle era feito com um reagente. Colocávamos algumas gotas em uma amostra de urina e, depois de aquecida, a cor resultante indicava o nível de açúcar. O adoçante era um comprimido horrível que se desmanchava no café", detalha.
Além da alimentação, Simone foi muito afetada no seu convívio social, sempre sentindo que era vista de forma diferente por suas restrições, o que a fez se fechar ainda mais. "Esse afastamento social foi muito difícil, especialmente por ser jovem e a comida ter um papel social tão importante, o que também afetou minha saúde mental. Comecei a me cuidar e me acostumar. Para onde eu ia, levava uma caixinha de isopor com a insulina e as seringas", diz.
A mudança da rotina de estudante para uma jornada de trabalho intensa na fase adulta, sentada em frente a um computador e com muitas reuniões, desregulou seus cuidados. Com isso, e a futura gravidez, as consequências do diabetes logo surgiram. Simone passou a conviver com todas as "patias" relacionadas: retinopatia, neuropatia e cardiopatia.
Ela também teve hiperglicemia. A gravidez foi de risco, aos 40 anos sofreu um infarto, aos 49 começou a ter dificuldades de visão e, hoje, perdeu a visão do olho esquerdo devido à retinopatia diabética. Faz apenas 10 anos que ela aprendeu a controlar melhor sua glicemia, com cuidados integrais e práticas de exercícios físicos.
"Minha rotina atual é rigorosa. Acordo, depois de um sono de qualidade, e meço a glicemia. Anoto o resultado e o que comi. Duas horas depois, meço novamente e registro. Faço isso antes e depois de todas as principais refeições. Esse controle me permite fazer um balanço do que posso ou não comer e ajustar as doses de insulina", explica.
Para ela, o diabetes ainda precisa ser levado mais a sério, tanto pela sociedade quanto pelas próprias pessoas diagnosticadas. Um dos seus incômodos é ver como os jovens diabéticos se recusam a continuar o tratamento.
"Gostaria de dizer a eles para nunca desistirem, pois o diabetes é uma condição para a vida toda. Os cuidados que tenho são importantes para todos, possibilitando o uso menos medicamentos e uma incidência menor de doenças. É preciso entender que as consequências são silenciosas e só se manifestam em estágios avançados", conclui. (Rafael Santana/Especial para O POVO)