A saúde mental materna ainda é uma questão urgente e, muitas vezes, invisibilizada no Brasil. Seja pela romantização da gravidez ou pelo tabu relacionado ao assunto, os dados continuam evidenciando uma realidade difícil para muitas mães, principalmente no período pós-parto.
Um estudo realizado pela Fundação britânica Parent-Infant revelou que uma em cada dez mulheres apresenta dificuldades para criar vínculos com seus bebês. Além disso, a pesquisa mostra que cerca de 73% dessas mulheres não recebiam orientações sobre como desenvolver uma conexão afetiva com seus filhos, para além do foco no desenvolvimento saudável do bebê.
No Brasil, a depressão pós-parto acomete cerca de 25% das mães brasileiras no período de seis a 18 meses após o nascimento do bebê, segundo a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). Em Fortaleza, 30% das puérperas atendidas em unidades públicas apresentaram sintomas compatíveis com depressão pós-parto, conforme uma pesquisa de 2022, realizada pela Universidade Federal do Ceará (UFC).
É nesse contexto que um novo termo vem ganhando espaço: o baby blues (tristeza infantil, traduzido para o português), que segundo Graziela Monte, psicóloga e coordenadora de desenvolvimento humano do Instituto de Saúde e Gestão Hospitalar (ISGH), é uma condição emocional presente nos primeiros dias após o parto.
"É um sentimento de tristeza que pode ocorrer nos primeiros dias após o nascimento do bebê, causando sintomas como alterações de humor, choro fácil ou irritabilidade. Ele é causado, principalmente, pelas intensas alterações hormonais, especialmente a queda brusca nos níveis de estrogênio e progesterona", explica.
Segundo a Fiocruz, entre 50% e 80% das mulheres que vivenciaram a maternidade já experimentaram o baby blues nos primeiros dias após o parto. Para a profissional, fatores fisiológicos, como a privação de sono, a exaustão física e a dor pós-parto, contribuem diretamente para o seu surgimento.
E quando atrelado a aspectos psicossociais, como a adaptação à nova rotina, a insegurança nos cuidados com o bebê e a ausência de uma rede de apoio, essa condição ganha ainda mais força.
"O baby blues costuma iniciar entre o 2º e o 5º dia pós-parto, e pode durar até 15 dias. A mãe pode se sentir confusa por não estar tão feliz quanto imaginava, e isso explica por que é uma condição mais frequente entre as mães de primeira viagem, devido à novidade da experiência materna e à insegurança natural desse período", afirma.
Nayana Lyne, 39 anos, publicitária, foi mãe de primeira viagem recentemente. Durante os primeiros dias pós-parto, ela vivenciou o baby blues, considerando o momento como uma das experiências mais transformadoras e também mais desafiadoras de sua vida.
Ela relata que, nos primeiros dias, vivenciou situações de extrema fragilidade, sentindo-se o tempo todo em estado de alerta, sem conseguir relaxar, como se qualquer deslize fosse colocar tudo em risco.
"Era um mix de medo constante, culpa e uma sensação de impotência que me desestabilizou emocionalmente. Estava conhecendo meu filho e, ao mesmo tempo, tentando entender essa nova versão de mim mesma como mãe", lembra.
Nay, como é carinhosamente chamada, já vinha se preparando durante a gestação, com muitas leituras e pesquisas sobre maternidade, o que a ajudou a reconhecer os sinais que estava apresentando.
"Nas minhas consultas, meu obstetra vinha abordando a importância da saúde mental no pós-parto — tanto comigo quanto com meu esposo. Também recebi orientações no momento da alta, o que me fez ficar mais atenta a mudanças no meu comportamento. Quando os sentimentos começaram a pesar, eu já sabia que algo não estava certo", explica.
Com a descoberta, o apoio familiar foi imediato. A mãe e o companheiro de Nay estiveram com ela durante todo o tempo, desde o pré-natal, até o acolhimento com paciência e amor da instabilidade emocional pela qual a nova mãe estava passando.
"Isso foi essencial para eu sair dessa fase. Eles me ajudaram a descansar, a cuidar de mim e, principalmente, me lembraram que se eu estivesse bem, meu bebê ficaria bem, e que eu não precisava dar conta de tudo sozinha", finaliza.
A psicóloga Graziela Monte lembra que, infelizmente, apesar da condição ser passageira, há situações em que os sintomas persistem e se intensificam, podendo evoluir para um quadro mais grave, como a depressão pós-parto.