Quando falamos sobre saúde mental materna, é importante entender que existem diferentes condições. Uma delas é a depressão pós-parto que, diferente do baby blues em que os sintomas são passageiros, apresenta uma permanência maior, gerando prejuízos na qualidade de vida da mãe e na sua relação com o bebê.
A psicóloga Ana Crys Benicio Lopes, que já atuou no Hospital e Maternidade José Martiniano de Alencar (HMJMA), explica que o prolongamento dos sintomas já é um sinal de alerta. Nesse caso, as mulheres podem apresentar humor predominantemente triste, sentimentos de desesperança, ansiedade, perda do interesse em atividades que antes traziam satisfação e prazer, e alterações no padrão de sono e apetite, incluindo perda ou ganho de peso sem planejamento e dificuldade para dormir.
"Ela também apresenta sentimentos de culpa, desamparo, dúvidas sobre sua capacidade de cuidar do bebê e dificuldade de criar vínculos com a criança. Ela interage menos com o filho e não se sente capaz de compreender as necessidades do recém-nascido. Em casos mais graves, a mãe pode apresentar pensamentos de morte, de ferir a si ou ao bebê, e ideação suicida", revela.
Segundo a especialista, é importante observar o comportamento da mãe e se a presença de alguns desses sintomas persistem por um período maior do que duas semanas.
"Hoje, sabemos que a depressão não necessariamente tem início no pós-parto. Utilizamos o termo 'depressão perinatal', que indica que os sintomas iniciaram ainda na gestação, possibilitando que as gestantes comecem o cuidado em tempo oportuno e se preparem para o pós-parto com a ajuda de profissionais especializados", aconselha.
Outro adoecimento psíquico que pode ocorrer após o parto é a psicose puerperal. A psicose se manifesta de forma mais grave, por meio da alteração das funções sensoperceptivas, onde a mãe evolui com delírios e alucinações. Em algumas situações, pode ser necessária a internação psiquiátrica, quando há risco de vida da mulher devido ao risco de suicídio.
Para Ana Crys, é importante que haja a oportunidade de ter um pré-natal humanizado, que respeite a subjetividade de cada mulher, além da presença de uma equipe multiprofissional que ofereça informações que favoreçam a segurança e uma boa preparação para o parto.
"A mulher se encontra em uma fase de vulnerabilidade emocional, e críticas e julgamentos não são bem-vindos. A mãe precisa sentir confiança ao expressar seus medos. A família precisa ouvir e, junto com a 'recém-mãe', construir estratégias que funcionem para ela. Não existe um único jeito de ajudar. É preciso sensibilidade para ouvir", conclui.