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CFM amplia acesso à bariátrica, mas SUS faz apenas 10% das cirurgias
Ciência e Saúde

CFM amplia acesso à bariátrica, mas SUS faz apenas 10% das cirurgias

Doença crônica
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Tipo Notícia

A obesidade é uma das doenças que mais cresce no Brasil. Dados do Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional (Sisvan), do Ministério da Saúde, apontam que 34,66% da população estava com algum nível de obesidade em 2024.

Classificada como doença crônica e multifatorial, desafia pacientes e médicos não apenas pelo impacto físico, mas pela carga emocional e social que carrega. Para o médico e cirurgião bariátrico Paulo Campelo, presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica (SBCBM), ainda persiste a visão equivocada de que se trata de falta de disciplina, quando na realidade múltiplos fatores — psicológicos, metabólicos, endócrinos e genéticos — se combinam para agravar o quadro. "Não existe solução simples para um problema complexo. Se fosse apenas fechar a boca e se exercitar, os índices de obesidade não estariam crescendo ano após ano", afirma.

Em maio de 2025, o Conselho Federal de Medicina (CFM) atualizou os critérios para a cirurgia. Agora, pacientes com grau 1 de obesidade (Índice de Massa Corporal entre 30 e 35), desde que apresentem comorbidades graves, podem ser operados. Adolescentes a partir dos 14 anos também foram incluídos, desde que apresentem quadro grave (IMC maior que 40 associado a complicações clínicas) e consentimento dos responsáveis. A mudança representa uma abertura importante, sobretudo diante do aumento expressivo da obesidade entre jovens.

No Ceará, a bariátrica está disponível pelo Sistema Único de Saúde (SUS) nos hospitais César Cals (HGCC), Walter Cantídio (HUWC/UFC/Ebserh) e Hospital Geral de Fortaleza (HGF), além do Hospital Regional do Cariri. Mesmo assim, a oferta está longe de atender à demanda: em meses de plena capacidade, são, em média, 30 procedimentos realizados frente a uma fila de milhares de pacientes. "É como enxugar gelo", define Campelo.

Nos últimos quatro anos, segundo levantamento da SBCBM, o número de intervenções cirúrgicas desse tipo aumentou 42% no Brasil, mas 90% delas foram feitas por planos de saúde ou particulares. No total, foram mais de 290 mil procedimentos e apenas 10% pela rede pública.

Para o especialista, a cirurgia não deve ser vista como atalho, mas como recurso dentro de uma linha de cuidado contínua. Nutricionistas, psicólogos, psiquiatras, endocrinologistas, fisioterapeutas e educadores físicos compõem a rede de suporte antes e depois da operação. O acompanhamento psicológico ganha destaque, já que mais da metade dos pacientes apresenta algum transtorno alimentar ou distúrbios psiquiátricos.

Com esse objetivo, Campelo lidera iniciativas em Fortaleza que vão além do centro cirúrgico. O Baricare reúne pacientes em grupos de apoio psicológico, voltados à autoestima e autoimagem, enquanto o Barimov promove atividades físicas em grupo, incentivando movimento e sociabilidade. "O maior desafio é manter o cuidado a longo prazo. Operar não basta; é preciso mudar estilo de vida e garantir apoio multiprofissional permanente."

 

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