Natural de Salvador, Jônatas Cabanelas, de 43 anos, chegou a Fortaleza em 2015, ano em que realizou seu transplante de coração. Caçula de uma família de quatro filhos, Jônatas foi diagnosticado, ainda na infância, com miocardiopatia hipertrófica congênita, uma doença que deixa o coração dilatado, fraco, crescido e espesso, e que, com o passar dos anos, ocasiona arritmias cardíacas.
A doença, herança genética do avô, não só acometeu Jônatas, mas também seu pai e seus três irmãos. Ela também foi responsável por levar a vida de todos eles. "Éramos três homens e uma mulher. Os dois homens mais velhos tiveram morte súbita aos 21 anos, por arritmias cardíacas. O meu pai teve insuficiência", lembra.
Sua irmã faleceu 12 anos após a morte do seu último irmão. Ela sofreu um Acidente Vascular Cerebral (AVC) em 2011 e teve algumas sequelas. Foi se recuperando, e o médico a orientou a se inscrever na fila do transplante. Infelizmente, ela faleceu em 2012 na fila de espera, após novos episódios de AVC.
Ele explica que, com o avanço da medicina, chegou a receber um mini desfibrilador implantado na região torácica para evitar arritmia cardíaca. Com o passar dos anos, os médicos foram passando novos medicamentos, com exames e um acompanhamento mais próximo.
"Eu tentava viver uma vida relativamente normal, porém com limitações. A cada ano que passava, essas limitações aumentavam, porque o coração ia ficando mais fraco e eu ia tendo mais sintomas: cansaço, indisposição, algumas internações. Fui afastado do trabalho pelo INSS. O único recurso era o transplante, e foi quando descobri que o Ceará era referência", conta.
O tratamento de Jônatas começou na Bahia, com reabilitação para tentar fortalecer a musculatura e ter mais condicionamento, passando por uma equipe multidisciplinar. Três dias antes de ser encaminhado para Fortaleza, ele sofreu um AVC enquanto almoçava, perdendo os movimentos do corpo e a fala.
"Não perdi a consciência. Vi minha mãe chorando e sentia que ia partir. Tentei falar para ela se acalmar, mas minha boca estava paralisada. Me levaram para a emergência e, com muita força, consegui sair dessa e fiquei sem nenhuma sequela. O coágulo que tinha se formado se desfez. Sou um cara de muita fé e, naquele momento, sabia que era Deus que estava comigo", diz.
A vinda de Jônatas para Fortaleza não foi fácil, desde a urgência até a questão da vaga no hospital. Inicialmente, quando chegou, ele ficou em um hospital particular, onde conheceu sua futura esposa, Elys Cabanelas, de 34 anos e enfermeira, que cuidou dele naquele dia e, por coincidência, tinha acabado de trocar o turno do seu plantão.
"As coisas não acontecem por acaso. Contei minha história para ela, e, depois disso, ela seguiu dando auxílio para nós, se mostrando disposta a ajudar. A gente foi conversando, gerando uma certa simpatia, e as coisas foram acontecendo. Nos aproximamos com o tempo e começamos a namorar. O coração ficava cada dia mais fraco, mas apaixonado por ela, o que me motivou a querer lutar pela vida", recorda.
Houve muitas idas e vindas antes do transplante de coração acontecer, como mau funcionamento do órgão e negativa da família. Foi só no sétimo potencial doador, um jovem de 19 anos, que Jônatas ganhou um novo coração.
Já faz 10 anos desde o transplante, uma experiência de muito medo, fé e esperança na vida de Jônatas, já que ele foi um caso atípico, em que o coração não funcionava inicialmente, só bombeava mediante aparelhos. O caso foi agravado após o procedimento, com ele chegando a ser intubado.
"Quando tentaram tirar o tubo, senti uma experiência divina, um sopro de Deus nas minhas narinas, me dando vida novamente. Eu despertei, acordei. Consegui me reerguer com o apoio de todos, fui me reabilitando, ganhando peso, até que, após 7 meses internado, ganhei alta e fui para casa", explica.
Mesmo amando sua cidade natal, Jônatas permaneceu em Fortaleza, casou-se com Elys, teve dois filhos, Davi Cabanelas, de 8 anos, e Benjamin Cabanelas, de 4 anos, voltou a trabalhar e refez toda sua vida, se cuidando e agradecendo por um novo recomeço.
"Hoje, minha mãe só tem a mim e seus netos. Cheguei a me descuidar um pouco e ter uma rejeição do coração, mas me recuperei. Vou ser extremamente grato à família doadora, um dos principais gestos de amor, reforçando a importância da doação de órgãos. O transplante salva e transforma vidas. Mesmo com tudo, estou hoje aqui, bem, e espero viver bastante tempo ainda", finaliza.