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Novas tecnologias esbarram no custo financeiro
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Ciência e Saúde

Novas tecnologias esbarram no custo financeiro

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O cirurgião e líder do Programa de Transplantes de Coração no Hospital de Messejana, Juan Mejia, enxerga que, para além de todos os benefícios das novas tecnologias, existe um contraponto importante: o altíssimo custo e a baixa disponibilidade, limitando sua difusão em larga escala.

"No contexto brasileiro, é imprescindível que sua implementação venha acompanhada de uma rede logística integrada e de uma cadeia de investimentos estruturada, capaz de garantir transporte eficiente e sustentabilidade financeira. Caso contrário, corre-se o risco de não alcançar o benefício máximo que a tecnologia oferece em outros países", afirma.

As desigualdades entre centros transplantadores, o financiamento insuficiente e defasado, a falta de equipes multidisciplinares completas e a logística fragmentada configuram um cenário de grandes desafios.

Além disso, a ausência de um transporte sanitário específico para órgãos faz com que dependa de favores ou da disponibilidade de aeronaves da Força Aérea e aviação comercial — aumentando a isquemia dos órgãos, onde se vive em escassez de doadores, agravada por recusa familiar, barreiras culturais e desigualdades sociogeográficas.

Para Juan, o desafio está em convencer os gestores públicos de que tecnologia em saúde não é custo, mas investimento, no qual o argumento não deve ser apenas financeiro, mas de valor social e humano.

"Discutir investimento em novas tecnologias é também discutir sustentabilidade. É fundamental demonstrar que o uso dessas plataformas agrega valor — isto é, aumenta o número de transplantes, reduz tempo de internação em UTI e, portanto, gera economia ao sistema público", destaca.

Ainda assim, o especialista ressalta haver uma percepção otimista: o Brasil tem diminuído rapidamente sua distância tecnológica. O país já é referência na América Latina em volume e qualidade técnica de transplantes, e com investimento direcionado pode se consolidar como referência mundial.

"A competência cirúrgica e científica brasileira já é reconhecida internacionalmente. O que falta não é talento, mas estrutura e inovação sustentável. Cada coração transplantado é um triunfo — mas também um lembrete do quanto ainda precisamos avançar, com a união entre ciência, gestão pública eficiente e competência social", conclui.

 

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