As pesquisas para o aprimoramento do tratamento do câncer de próstata avançam. Durante a 41ª Conferência da Sociedade Europeia de Medicina Oncológica (ESMO), realizada em outubro, em Berlim, na Alemanha, foram apresentadas novos estudos que renovam as esperanças dos pacientes.
Uma das questões abordadas foi a possibilidade de "recidiva bioquímica". Ou seja, quando, mesmo após a cirurgia ou radioterapia, o exame de PSA começa a subir rapidamente, indicando que a doença é agressiva.
O estudo EMBARK trouxe uma resposta definitiva, mostrando que combinar o tratamento padrão (bloqueio hormonal injetável) com um medicamento oral (Enzalutamida) não apenas atrasa o aparecimento de metástases, como também, pela primeira vez, comprova um aumento na sobrevida geral dos pacientes em 8 anos.
Também foi apresentada uma das terapias mais modernas, como a "radioterapia líquida", na qual uma partícula radioativa é injetada no paciente e viaja pelo corpo, atacando e destruindo células de câncer de próstata onde quer que estejam. Atualmente, essa terapia é usada em fases avançadas da doença.
Já o estudo PSMA-Addition levantou a seguinte questão: e se usássemos essa terapia logo no início, com o tratamento hormonal, em pacientes com metástase? A descoberta foi positiva, atrasando significativamente o tempo até a doença progredir.
O oncologista e professor associado de Medicina na Case Western Reserve University School of Medicine, em Ohio, nos Estados Unidos, Pedro Barata, que participou do ESMO, lembra que de nada adianta ter todos os tratamentos disponíveis se você não tiver acesso a eles.
Ele explica que, no passado, as pessoas faleciam de infecções. Com o surgimento dos antibióticos, as pessoas passaram a viver mais e a morrer de problemas cardiovasculares, como infartos e acidentes vasculares cerebrais (AVCs). Com a evolução da cardiologia — com as cirurgias e os medicamentos para o coração — apareceu o câncer.
"O câncer é uma enfermidade da pessoa mais velha, por isso temos câncer de próstata, que, quando avançado, não se torna o problema principal. Por isso, é importante o acesso precoce a informações e ao cuidado".
Outro problema é a doença metastática, quando as células cancerosas se desprendem do tumor original (primário) e se espalham para outras partes do corpo, formando novos tumores secundários em locais distantes.
Para Erik Briers, presidente da Europa UOMO, e que também estava presente na ESMO, problemas socioeconômicos e a falta de acesso a informações afetam diretamente qualquer tratamento. Ele, que também é doutor em Química pela Universidade de Leuven, na Bélgica, com ampla experiência em medicina laboratorial e diagnóstico, destaca que as mídias sociais podem, sim, ser um meio seguro de informações, mas cada ferramenta precisa ser adaptada ao que vai ser informado.
"Uma coisa é falar sobre a importância de um exercício físico, outra é explicar o que é a terapia de privação de antígeno com todos os seus efeitos colaterais. Sobre IA, ele diz que é preciso ter cuidado com as informações, já que ela é alimentada por fontes diversas, e sem a análise do que é verídico", finaliza.
Sobre os eventos adversos dos estudos clínicos, o cirurgião oncológico Murilo Luz, também presente na ESMO, lembra que, na realidade, algumas coisas são diferentes. "Na hora de começarmos a usar uma medicação para uma população um pouco menos selecionada, com menos critérios de inclusão e exclusão, acabamos vendo outros eventos adversos que talvez não tenham aparecido no estudo clínico inicial", explica.
Ele comenta também sobre a falta de representatividade da população negra em alguns estudos e destaca que o ensaio clínico randomizado é um pouco mais rigoroso no critério de inclusão, já que existe um pouquinho mais de liberdade, mostrando resultados bastante satisfatórios.
"No Brasil não temos essa diferença tão grande entre a população negra e branca em relação ao prognóstico de câncer de próstata, por conta da miscigenação. Nos Estados Unidos, isso é muito evidente", revela. (Com colaboração de Victor Manoel)