O avanço no tratamento do câncer passa, invariavelmente, pela pesquisa clínica. É por meio dela que novas terapias deixam de ser apenas uma promessa em laboratório e se tornam parte do cuidado real, salvando vidas e mudando histórias. No Brasil, ainda enfrentamos desafios importantes nesse campo, mas instituições comprometidas com a ciência, como o Centro Regional Integrado de Oncologia (CRIO), mostram que é possível unir assistência de qualidade e investigação científica de ponta.
Construímos parcerias estratégicas com instituições de renome, como o Grupo Colaborativo Latino-Americano de Oncologia (LACOG), o Hospital Israelita Albert Einstein e grandes companhias farmacêuticas globais. Essas conexões nos inserem em um circuito internacional de inovação. Como resultado, participamos de estudos que ajudaram a mudar protocolos de tratamento em diferentes tipos de câncer, como mama, pulmão, próstata, cabeça e pescoço, entre outros. Essa trajetória já nos levou a apresentar resultados em congressos internacionais e a publicar em periódicos de grande alcance mundial, como o New England Journal of Medicine e The Lancet.
Sabemos que a relevância desse trabalho se reflete diretamente na vida dos pacientes. Ao ingressarem em um protocolo de pesquisa, eles recebem acompanhamento integral, com acesso a exames em laboratórios de referência, cobertura completa para eventos adversos e a possibilidade de utilizar medicamentos de última geração. Em um cenário no qual o custo dos tratamentos oncológicos cresce de forma acelerada e o tempo de aprovação de novas drogas no Brasil ainda é elevado, essa oportunidade de acesso precoce pode significar mais tempo de vida e maior qualidade nos dias vividos.
Atualmente, conduzimos estudos de fases 2 e 3 voltados ao registro de medicamentos mais eficazes e menos tóxicos. Um exemplo promissor é a manufatura de uma vacina personalizada para câncer de pulmão, cujo objetivo é reduzir as chances de recidiva após a cirurgia de ressecção do tumor. Também investigamos terapias voltadas a mutações genéticas específicas em câncer de mama, ao mesmo tempo em que os anticorpos droga-conjugados (ADCs) e as terapias-alvo despontam como alternativas capazes de oferecer maior eficácia com menos efeitos colaterais.
Acreditamos que, sem pesquisa clínica, o Brasil se tornaria apenas um consumidor tardio de tecnologias desenvolvidas em outros países. Quando participamos ativamente desse ecossistema, contribuímos não apenas para acelerar o acesso a tratamentos inovadores, mas também para fortalecer a capacidade científica nacional. É essencial que mais centros de saúde sigam esse caminho, ampliando o número de pacientes beneficiados e consolidando o Brasil como um ator relevante na produção de conhecimento aplicado ao tratamento do câncer.
O câncer é, hoje, uma das principais causas de morte no mundo. De acordo com o Instituto Nacional de Câncer (INCA), nosso país terá quase 705 mil novos casos por ano até o final de 2025. Diante dessa realidade, não podemos esperar passivamente apenas pelas soluções vindas de fora ou por recursos do poder público. Precisamos construí-las aqui, com rigor científico, ética, profissionalismo e compromisso humano.
Eduardo Cronemberger, oncologista e coordenador da Pesquisa Clínica do CRIO