[FOTO1]
Quase nunca existe uma causa definida para a puberdade precoce. Cerca de 90% dos casos nas meninas — as mais afetadas pelas alterações — são consideradas idiopáticas (quando não há uma origem determinada). Mas, em outras situações, as mudanças podem ser indícios de tumores nos ovários, nos testículos ou nas suprarrenais. As causas desse tipo existem, principalmente, em meninos.
Exames preliminares são solicitados já no início do tratamento para tentar identificar essas causas — desde raio x das mãos, que mostra como está a evolução óssea, até ressonâncias magnéticas para perceber possíveis tumores. De maneira geral, nada é percebido, para a tranquilidade dos pais. Mas o que pode estar por trás dessa antecipação da puberdade, principalmente, nos últimos tempos?
A certeza da medicina é de que a alimentação tem influência nos casos, uma vez que crianças com sobrepeso e obesas elevam as chances de entrarem na puberdade mais cedo que as demais. As desregulações hormonais disparam o processo. A gordura em excesso oferece uma produção maior de estrógeno (hormônio prevalente nas mulheres) e isso favorece o aparecimento das mamas.
“A gente tem um conjunto de eventos que fazem chegar até lá. Na criança obesa, a gente tem inflamações sistêmicas e acúmulo maior de hormônios produzidos com menor dispersão”, explica a endocrinologista Cristina Façanha.
Mas não é só isso que pode explicar os casos. A suspeita é de que substâncias consumidas hoje em dia atuem como elementos endócrinos, se assemelhando aos hormônios do corpo e desencadeando os processos de puberdade precoce. Os chamados interferentes endócrinos podem ser encontrados em alimentos contaminados por agrotóxicos e em outros materiais, como plásticos.
“Esses elementos têm afinidade por tecido adiposo, encontrado na mama e na placenta e podem chegar à criança e contribuir para a puberdade precoce”, comenta o endócrino pediátrico Celso Júnior Wanderley Cavalcante, que estudou os fatores de risco para a doença. Difícil é proteger as crianças desses interferentes, uma vez que boa parte dos produtos consumidos hoje tem alguns deles na sua composição.
Fator emocional
Outras pesquisas sobre o tema indicam que, além dos fatores alimentares, estresse emocional no âmbito familiar pode estar relacionado ao aumento de casos de puberdade precoce nos países ocidentais. Situações como abandono ou ausência dos pais biológicos, processos de separação dos pais e casos de abuso sexual exigem das crianças uma maturidade maior, e o corpo responde. O estresse emocional dessas situações de conflito poderiam desencadear a antecipação dos processos de juventude, ainda na infância.
O estudo realizado por Celso Júnior também sugere essa relação entre os fatores emocionais e o aparecimento de caracteres sexuais. Ele percebeu que crianças adotadas a partir do segundo ano de vida têm maior inclinação a desenvolver processos de puberdade antes do tempo. “É muito provável que exista a interferência emocional. A situação de carência de afeto, a briga por sobrevivência de maneira meio forçada, pode possivelmente desencadear esse processo”, considera o pesquisador.
Rômulo Costa
ALIMENTAÇÃO
ESTRESSE
Alguns estudos têm se voltado para a influência que o estresse no âmbito familiar pode exercer sobre a puberdade precoce. Situações de abandono, ausência dos pais, trauma de separação dos pais e abuso sexual exigem das crianças uma maturidade maior. Como consequência, o corpo também reage.
SAIBA MAIS
Fatores genéticos também podem estar associados a processos de puberdade precoce. Estudos realizados por pesquisadores brasileiros identificaram que um terço dos pacientes analisados tinham falhas em um gene específico (MKRN3), que poderiam estar relacionados ao surgimento dos casos.
Ele hoje é considerado o primeiro gene responsável por uma forma hereditária da puberdade precoce.