Ao pensar na relação da mulher com a própria vagina e na expansão desses horizontes, é preciso abarcar outras questões que dizem respeito a orientações e identidades que vão além da heteronormatividade e cisgeneridade. Lésbica, a fotógrafa Marília Oliveira vê na orientação sexual dois aspectos que impactam no vínculo com a vagina. “Parte da dinâmica sexual lésbica tem a ver com estar em horizontalidade com outro corpo feminino, de ter um corpo igual e que pode ser igualmente explorado. Não tive problemas maiores para orgasmos. Mas tenho amigas héteros que vieram ter orgasmos depois dos 30 anos”, detalha.
Porém, relacionar-se com outra mulher é, para Marília, estar na mira de outro preconceito imputado à vagina. “É uma relação que é fetichizada, porque é ensinado pela pornografia e pela ampla rede de informações equivocadas na educação sexual do homem, que o casal lésbico está sempre à espera de um homem. Já me foi questionado se uma é relação realmente satisfatória, porque não havia pênis. Isso reflete a ideia machista de como a mulher precisa de um homem para validar sua existência”, defende.
Marília, em meio à valorização da vagina, procura fazer também paralelos com as mulheres transgênero, buscando não focar na vagina como algo que determina o que é ser ou não mulher. “Tão importante quanto quanto colocar a vagina nesse lugar de destaque que lhe cabe, é colocar também o fato de que ela não é um pré-requisito para ser mulher. Mulheres trans não são menos mulheres do que eu”, enfatiza.
Domitila Andrade