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Tijolos de barro são seculares
Ciência e Saúde

Tijolos de barro são seculares

| Adobe | A antiga técnica é uma alternativa para os desafios contemporâneos. Erguer uma casa com tijolos de barro, no entanto, exige cuidado e conhecimento
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História, pesquisa e arquitetura norteiam os trabalhos do professor Levi Teixeira, do Instituto Federal do Ceará (IFCE). O foco de seus estudos é o tijolo adobe, feito de barro cru e que não passa por processo cerâmico. Conforme Levi, esse material de construção pode ter sido citado até na Bíblia, que detalhava os tijolos de barra e palha. No Brasil, a técnica teria chegado com os portugueses.

 

"Bioconstrução é uma proposta boa do ponto de vista sustentável e tentamos ver isso com o olhar da Ciência, com os materiais de construção sustentáveis", afirma Levi. O grande diferencial do adobe, de acordo com Levi, está no fato de ele não ser queimado, como acontece com o tijolo padrão. O processo de queima dá mais resistência, mas também emite mais gases poluentes.

 

De acordo com o professor de Engenharia Estrutural e Construção Civil da UFC, Alexandre Bertini, a maior resistência do tijolo de cimento vem também do aglomerante, material que tem a finalidade de aglutinar outros materiais e, assim, influenciar na sua resistência. "Na terra crua não se usa aglomerante. E quando há o cozimento do tijolo, a resistência aumenta porque o processo de queima muda as características do material, formam-se cristais. É um processo físico-químico", explica.

 

Para a moldagem do adobe, é preciso escolher um solo que a relação de areia e argila consiga dar o máximo de resistência. É nessa hora que a análise científica se torna ainda mais importante. Há verificação dos materiais orgânicos da composição e vários exemplares são moldados para que haja teste de resistência das misturas. "Até chegar num que dá um bom tijolo. Há uma metodologia", ressalta.

 

O adobe, de acordo com Alexandre, possui cerca de 50% da resistência do tijolo padrão. E por isso tem dimensões geométricas maiores. Enquanto o material cerâmico tem até 15 cm de tamanho, o adobe chega a 20 cm, o que fornece então mais estabilidade. O tijolo de terra crua também é mais poroso e, portanto, absorve mais água do ambiente. "Ser poroso e absorver a umidade faz a casa ter um maior conforto térmico, a depender da região", pondera o professor.

 

Justamente por essa porosidade, as construções com adobe exigem também que o alicerce seja feito de pedras. Conforme o professor da UFC, a estrutura de embasamento deve nascer 50 cm abaixo do solo e submergir por pelo menos 40 cm acima do solo. "Digamos que a água do lençol freático esteja a um metro de profundidade, mas ela sobe por canais na terra e uma pressão capilar a faz ascender. Quando se coloca esse alicerce de pedra, não temos esses canais pequenos, não facilita o processo de capilaridade", detalha Alexandre.

 

A absorção de água também deve merecer atenção quando há uso de madeira na construção, podendo inclusive causar apodrecimento. "Precisa colocar numa situação que ela seja protegida dessa água ascendente. Mas a madeira pode durar até 10,20 anos", destaca. O professor frisa que quem pretende construir usando o adobe precisa seguir normas. No Brasil, um grupo de engenheiros e arquitetos está desenvolvendo um manual. "Estados Unidos, Índia, Alemanha, cada lugar tem suas normas", explica.

Sara Oliveira

 

Origem

Derivada da palavra árabe "thobe", que significa barro, o adobe data de mais de 5 mil anos. A cidadela de Bam, na província iraniana de Kerman, é a maior estrutura do mundo em adobe, datando de pelo menos 500 a.C.

 

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